Brasil avalia liberar eucalipto
transgênico.
Variedade
desenvolvida pela FuturaGene / Suzano pode ser a primeira árvore transgênica
plantada em todo mundo; estudos apresentados são insuficientes para garantir a
segurança.
O Greenpeace participou ontem (4) da
audiência pública sobre o eucalipto transgênico, realizada pela CTNBio
(Comissão Técnica Nacional de Biossegurança). O encontro é parte do processo de
liberação comercial da variedade de eucalipto geneticamente modificada da
FuturaGene / Suzano Papel e Celulose, desenvolvida com o objetivo de produzir
mais celulose em menos tempo.
A audiência contou com a participação de
representantes das empresas envolvidas, membros da CTNBio, cientistas
autônomos, representantes de Ministérios, apicultores e representantes de ONGs
e movimentos sociais. Caso o pedido seja aprovado pela CTNBio, o Brasil será o
primeiro país do mundo a plantar árvores transgênicas em escala comercial.
Se o uso indiscriminado de soja, milho e algodão
transgênicos já é preocupante, o pedido de liberação comercial feito pela
FuturaGene / Suzano polemiza a questão ainda mais. Árvores vivem por muito mais
tempo e fazem parte de cadeias alimentares naturais e de ecossistemas
complexos, e portanto representam ameaças ambientais de longo prazo para
ecossistemas ricos em biodiversidade – ameaças que podem ser difíceis (se não
impossíveis) de prever e avaliar. O escape de pólen ou semente de árvores de
eucalipto geneticamente modificadas pode colocar em risco a vida natural.
“Não é à toa que nenhum país do mundo tenha
autorizado o plantio comercial de árvores transgênicas até hoje”, lembra
Gabriela Vuolo, coordenadora da campanha de agricultura e alimentação do
Greenpeace Brasil. “É importante que a CTNBio tenha realizado esta audiência
pública, porque ficou ainda mais claro que a liberação desta variedade
transgênica de eucalipto poderá trazer danos seríssimos para o meio ambiente,
para a população e para a economia”, acrescenta ela.
Durante a audiência, diversas intervenções
pontuaram a insuficiência ou inadequação dos estudos apresentados pela
FuturaGene / Suzano. Perguntada, a empresa declarou que não realizou, por
exemplo, estudos específicos para comparar o consumo de água da variedade
transgênica com a variedade convencional. Representante do Ministério do Meio
Ambiente afirmou que não foram apresentados estudos de longa duração, e lembrou
que os efeitos da soja e do milho transgênicos no médio e longo prazo não foram
positivos. Destacou-se também que a Convenção de Biodiversidade, da qual o Brasil
é signatário, recomenda cautela com relação a árvores geneticamente
modificadas.
O representante do Ministério do Desenvolvimento
Agrário alertou que os estudos realizados para avaliar os efeitos do eucalipto
nas abelhas e na produção de mel são insatisfatórios, pois levaram em conta
apenas cinco colmeias de uma única localidade. Cerca de 25% do mel produzido no
Brasil vem do eucalipto, e a pesquisa apresentada pela FuturaGene / Suzano não
avalia os aspectos nutricionais do mel produzido a partir de pólen trangênico,
tampouco sua toxicidade ou alergenicidade.
A Associação Brasileira dos Exportadores de Mel
(ABEMEL) se mostrou preocupada com a possível liberação: como não há aprovação
desta variedade em nenhum outro lugar do mundo, as exportações brasileiras de
mel e própolis poderão ser afetadas, numa situação semelhante à ocorrida no
México em 2011.
“Com base nos estudos apresentados, não dá pra
dizer que o mel produzido a partir destes eucaliptos é seguro para consumo”,
alerta Gabriela. E questiona: “O que vai acontecer com os 350 mil apicultores
brasileiros que dependem da produção de mel para sobreviver? E a produção
orgânica de mel, própolis, pólen e geleia real? Liberar o eucalipto transgênico
sem estas respostas é uma temeridade, uma irresponsabilidade”.
Selo FSC
Outra preocupação levantada foi a de que os
critérios do FSC (Forest Stewardship Council) não aceitam variedades
transgênicas para certificação florestal. A Assembleia Geral do FSC se reúne na
Espanha, na próxima semana, e a Campanha Internacional para Parar Árvores
Geneticamente Modificadas (CSGET, na sigla em inglês) irá apresentar uma carta,
pedindo que o FSC se desvincule da Suzano caso a liberação do eucalipto
transgênico seja aprovada no Brasil.
Fonte: Greenpeace
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