Lutar contra a mudança climática
e reduzir a pobreza é possível.
Nações Unidas, 18/9/2014 – A ideia generalizada
de que os países em desenvolvimento devem escolher entre conter a mudança
climática e lutar contra a pobreza é equivocada, afirmam os autores de um
informe sobre as possibilidades e perspectivas do crescimento verde. A Comissão
Global sobre Economia e Clima, presidida pelo ex-presidente mexicano Felipe
Calderón, apresentou no dia 16, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU),
em Nova York, o documento A Nova Economia Climática (NCE).
Trata-se de uma iniciativa independente criada
por Colômbia, Coreia do Sul, Etiópia, Grã-Bretanha, Indonésia, Noruega e Suécia,
que prevê compartilhar o conteúdo do documento com autoridades e governantes em
um próximo período de consultas. “O documento passa uma mensagem clara aos
governos e ao setor privado: podemos melhorar a economia e ao mesmo tempo
enfrentar a mudança climática. O futuro crescimento econômico não tem motivo
para copiar o caminho das altas emissões de carbono seguido até agora”,
destacou Calderón.
Concentrando-se no conjunto, mais do que em
países isolados, o informe traça o caminho que a economia mundial deve tomar
nos próximos 15 anos. Para melhorar a vida dos pobres e reduzir as emissões de
carbono até concentrações que sejam mais seguras, é preciso produzir uma grande
transformação. Mas aqui está a surpresa: custará muito menos do que o esperado.
No contexto de que tudo continue como está, o
mundo investirá cerca de US$ 89 trilhões em infraestrutura urbana, agrícola e
para gerar energia nos próximos 15 anos, afirma o documento. Mas o caminho com
baixas emissões de carbono exigirá US$ 94 trilhões no mesmo período e seus
benefícios para reduzir a escassez de recursos e melhorar a qualidade de vida
compensariam de sobra a diferença. A janela das oportunidades não permanecerá
aberta por muito tempo.
Em termos de sistemas urbanos, o encarregado de
programas globais do informe, Jeremy Oppenheim, explicou que “nosso principal
interesse foi como gerar maior produtividade nas cidades melhorando os sistemas
de transporte.
A expansão urbana é o inimigo quando se trata de
construir cidades que respeitem o ambiente. Por exemplo, Barcelona (Espanha) e
Atlanta (Estados Unidos) têm ambas cinco milhões de habitantes, mas, na
primeira, se concentram em 162 quilômetros quadrados, enquanto na segunda em
4.280 quilômetros quadrados. Isso faz com que a cidade norte-americana emita dez
vezes mais dióxido de carbono por pessoa do que a espanhola.
As cidades eficientes costumam ter melhor
comportamento ambiental e econômico. Os países de baixa renda devem “construir
bem sua infraestrutura da primeira vez para se urbanizarem com uma alta
produtiva”, explicou Oppenheim. No que diz respeito à agricultura, o segundo
sistema, “cremos que é possível aumentar a produtividade em mais de 1% ao ano”,
acrescentou.
O informe NCE diz que “restabelecer 12% das
terras degradadas poderia servir para alimentar cerca de 200 milhões de pessoas
em 2030, ao mesmo tempo em que fortaleceria a resiliência climática e reduziria
as emissões contaminantes”. O documento também recomenda que os governos
detenham o desmatamento das florestas naturais para esse ano e recuperem pelo
menos 500 milhões de hectares degradados e terras cultiváveis.
Quanto ao terceiro sistema, a energia, a maior
oportunidade econômica e ambiental virá ao se abandonar o uso generalizado do
carvão, que não é tão eficiente do ponto de vista econômico como se pensava,
especialmente porque os problemas de saúde causados pela contaminação reduzem a
renda nacional em 4% ao ano, em média.
O documento recomenda parar a construção de novas
usinas a carvão imediatamente nos países ricos e até 2025 nos de renda média. O
gás natural pode servir como medida provisória por um curto período, mas também
terá que dar lugar a alternativas com baixas emissões de carbono. “Estamos
surpresos pelo avanço alcançado em matéria de energias renováveis. O custo da
alternativa solar baixou 90% nos últimos cinco anos”, apontou Oppenheim.
Mas as autoridades terão que tomar algumas
decisões significativas para facilitar a mudança.
Atualmente o mercado está
distorcido pelos subsídios aos combustíveis fósseis. Segundo o informe, os
subsídios estatais chegam a US$ 600 mil, enquanto os das alternativas limpas
atingem apenas US$ 100 mil. “Precisam desaparecer”, opinou Nicholas Stern,
vice-presidente da Comissão. “Passam um sinal equivocado. Incentivam o uso de
combustíveis fósseis contaminantes e subsidiam o dano”, ressaltou.
É possível que o informe NCE seja um dos
documentos sobre mudança climática mais otimistas já saído das Nações Unidas em
anos, mas seus autores reconhecem que suas recomendações podem ser difíceis de
serem seguidas. “O documento se concentra em reformas benéficas para todos a
fim de fortalecer o crescimento, reduzir a pobreza e melhorar o bem-estar, e
também ajudar a enfrentar os riscos climáticos”, destacou Milan Brahmbhatt, do
Instituto de Recursos Mundiais. Porém, benéficas para todos não significa dizer
que são fáceis de serem implantadas, acrescentou.
A apresentação do informe aconteceu uma semana
antes de começar a Cúpula sobre o Clima, que reunirá uma quantidade sem
precedentes de governantes que comprometerão publicamente seus esforços
nacionais para mitigar as consequências da mudança climática. O
secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, espera conseguir vontade política
suficiente para obter um acordo vinculante nas negociações do próximo ano em
Paris.
O informe cobre apenas 15 anos, “mas depois de
2030 as emissões globais deverão ser reduzidas até quase zero na segunda metade
do século”, diz o estudo. Pode ser que o documento não cubra tudo, mas
tranquiliza os governantes sobre as enormes possibilidades de crescimento
verde.
Calderón acredita que as mensagens otimista e
prática do informe terão grande impacto. “Com esse documento, agora temos um
conjunto de instrumentos que os governantes poderão utilizar para promover o
crescimento que todos necessitamos, ao mesmo tempo em que reduzem os riscos
climáticos que todos corremos”, enfatizou.
Fonte: ENVOLVERDE
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