Projeto leva a comunidades do AM técnicas para aumentar produtividade da mandioca.
Foto: Raimundo Rocha
Manivas de mandioca em área para início de plantio
pelo projeto Manareiro.
Com a adoção de técnicas simples, utilizando a
mesma área e sem grandes investimentos, o agricultor do Amazonas pode aumentar
a produção de mandioca, reduzir custos de produção e aumentar seu lucro. É o
que apresenta o projeto Manareiro, coordenado pela Embrapa Amazônia Ocidental,
unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, em Manaus(AM). Dentre
diversas ações, o projeto busca capacitar produtores com recomendações técnicas
e tecnologias para o cultivo e incremento da produtividade da cultura da
mandioca.
A mais recente capacitação do projeto aconteceu na
sexta-feira, 22/08, no município de Careiro-Castanho, com uma oficina de Boas
Práticas para o Manejo da Cultura da Mandioca e implantação de uma Unidade de
Observação, onde foram apresentadas as orientações técnicas e a demonstração
prática para um plantio com esses métodos. Foram utilizadas no plantio
variedades de mandioca de preferência dos agricultores da comunidade.
Participaram dessa atividade 35 agricultores, na propriedade onde fica a Casa
de Farinha da comunidade no Projeto de Assentamento Panelão, no município de
Careiro-Castanho (AM).
Na localidade do Janauacá, município de Manaquiri
(AM), também foi implantada uma Unidade de Observação para socializar estas
práticas, já conhecidas em outras regiões, mas ainda pouco utilizadas em alguns
locais do Amazonas, onde o sistema predominante de cultivo da mandioca se
baseia no processo rudimentar de derruba e queima.
"Esses métodos baseiam-se na mudança de
procedimentos de cultivo, sem repercutir em custos financeiros adicionais para
o produtor e podem alavancar a produção de mandioca no interior do Amazonas,
aumentar a disponibilidade de produtos e subprodutos da mandioca no mercado e
melhorar a qualidade de vida das famílias agricultoras", afirma o
engenheiro agrônomo da Embrapa, Raimundo Rocha, coordenador do projeto.
"Hoje os produtores do Janauacá, por
exemplo, estão obtendo uma produtividade média de 6,4 toneladas de raízes de
mandioca por hectare, esta é a mesma realidade de muitos agricultores no
Amazonas", informa Rocha. No sistema de produção apresentado pela Embrapa,
a perspectiva é obter produtividade superior a 25 t/ha, ou seja quatro vezes
mais que a atual.
Trio da Produtividade
Uma das alternativas apresentadas pelo projeto e
colocadas em prática na Unidade de Observação como sugestão aos agricultores, é
a tecnologia chamada de "Trio da produtividade", que consiste na
seleção de manivas-sementes e corte em ângulo de 90o, adequação do
espaçamento de plantio conforme arquitetura da planta e controle de plantas
daninhas nos primeiros 150 dias pós-plantio.
Essa tecnologia foi lançada pela
Embrapa Amazônia Oriental (Belém-PA) e vem sendo adotada em diversos municípios
paraenses ajudando a incrementar a produção de mandioca naquele estado, que há
alguns anos é o maior produtor de mandioca do País.
Rocha explica que, aliado ao trio da produtividade,
se o produtor realizar a correção da acidez do solo por meio de calagem e
seguir as recomendações para adubação fosfatada no plantio e de cobertura aos
45 e 90 dias com nitrogênio e potássio, a produtividade em vez de duplicada
poderá ser triplicada.
O agrônomo da Embrapa informa que esse incremento na
produtividade, além de amortizar 100% do custo da fertilização, proporciona uma
receita líquida significativa, quando comparada ao sistema de cultivo
tradicional sem o uso dessas tecnologias.
"É claro que essa diferença de produtividade
também se reflete nos lucros do agricultor, ainda mais agora que o cenário está
indicando uma queda nos preços dos derivados da mandioca. Vale lembrar que em
2013, a farinha de mandioca teve um aumento de 500% em seu valor no
Amazonas e 151% no país", observa Rocha. Um dos motivos da elevação do
preço da farinha no ano passado chama a atenção: a diminuição da oferta de
mandioca, principalmente pela redução da área plantada em diversas regiões do
País.
Métodos demonstrados
Uma das principais etapas para garantir o maior
potencial de produção da mandioca é a seleção das manivas-sementes, que são
hastes da planta utilizadas para o plantio. A maniva deve ter qualidade, ser
madura, sadia e sem ferimentos. Também deve ser cortada corretamente, ter de
1,5 cm a 3 cm de diâmetro e tamanho de, aproximadamente, 20 cm, com cinco ou
seis gemas. O cuidado na seleção da maniva já pode garantir um aumento entre
30% e 50% da produtividade.
Outra ação simples, recomendada pelo projeto, é o
espaçamento entre plantas de 1,0 x 1,0 m, e o plantio em linha. Assim, é
possível colocar 10 mil plantas por hectare. Essa quantidade permite maior
rendimento do que na forma de plantio da comunidade Janauacá onde as plantas ficam
dispersas, em torno de 7 mil por hectare, e quase a metade se perde por não se
usar manivas selecionadas.
Além de permitir o aumento do número de plantas por
hectare, o espaçamento adequado repercute na diminuição de um custo importante
para o produtor: "Com o espaçamento certo, o gasto com o controle de
plantas daninhas pode cair pela metade, ou seja, o produtor começa a utilizar a
planta em seu benefício", destacou Rocha. A seleção da maniva e o
espaçamento apropriado são métodos que o agricultor pode fazer sem gastar a
mais. "É preciso aproveitar melhor os insumos destes agricultores, que são
a mão de obra e a maniva", completou. "No Janauacá, há cerca de 60
agricultores que produzem mandioca. Eles já têm a maniva, então é só orientar
como se faz uma boa seleção", destacou Rocha.
O sistema implantado na Unidade de Observação
também apresenta a calagem (correção da acidez do solo com calcário) e a
adubação como boas alternativas para o produtor de mandioca. A calagem e
adubação têm custo, mas, em contrapartida, oferecem um incremento importante na
produtividade da cultura.
Agricultores acompanham
As Unidades de Observação implantadas pelo projeto
Manareiro cumprem o importante papel de ser a comprovação da capacidade
produtiva do sistema, dentro das comunidades de agricultores. Os agricultores
participam da implantação e acompanham o desenvolvimento do trabalho.
Aliados à demonstração estão os números. Para que
os produtores de mandioca das comunidades que participam do projeto Manareiro
tenham conhecimento sobre a lucratividade que as técnicas e tecnologias podem
gerar, Rocha usou a matemática e colocou tudo na ponta do lápis. De certa
forma, a proposta também é incentivar os produtores para o uso de ferramentas
administrativas na gestão financeira da atividade agrícola.
Sistema em números
Tomando como exemplo uma propriedade da
comunidade Janauacá, com o método utilizado atualmente pelos produtores de lá,
são gastos R$ 7.280,00/ha para implantação do plantio, colheita, transporte e
beneficiamento da mandioca. Com a produção obtida de 6,4 toneladas, é possível
beneficiar duas toneladas de farinha, o que gera uma receita bruta de R$ 4 mil.
A receita líquida do produtor nesse caso é negativa, com um prejuízo de R$
3.280,00. Boa parte desse valor não sai do bolso do agricultor, já que é a sua
própria mão de obra. Esses custos referem-se exclusivamente à mão e obra, que
se fossem pagas seriam 182 diárias de R$ 40,00, em média, envolvendo serviços
diversos. Em algumas das atividades, a mão de obra é familiar e em outras é
terceirizada, dependendo de cada agricultor. Para contabilizar os custos de
produção, no entanto, tanto a mão de obra familiar como a terceirizada devem
ser calculadas. "De toda forma, o agricultor precisa entender que a mão de
obra, mesmo sendo familiar, é um custo, e deve entrar na conta, e nessa conta o
produtor está tendo déficit", destacou Rocha.
Por outro lado, o sistema de produção de mandioca
apresentado pela Embrapa oferece uma produção quatro vezes maior. Com a
produção de 25 toneladas, a receita bruta é de R$ 12,5 mil. Outros fatores
influenciam o lucro maior nesse sistema, como a redução dos custos devido às
técnicas que diminuem a necessidade de mão de obra. Assim o custo de produção
fica em R$ 5.490,00, sendo contabilizada também a mão de obra e o acréscimo de
R$ 1.650,00 em gastos com adubação e calcário. Retirado os custos de produção,
resta para o agricultor R$ 7.010,00.
Manareiro
O Manareiro – Estratégia de multiplicação rápida de
variedades superiores de mandioca para o aumento da produção de farinha e
fécula no Estado do Amazonas – é um projeto desenvolvido pela Embrapa Amazônia
Ocidental (Manaus/AM) nos municípios amazonenses de Manaquiri e Careiro
Castanho. O projeto tem como objetivo incrementar a produção de farinha e fécula
no Estado do Amazonas por meio da disponibilização de manivas-sementes de
cultivares de mandioca com alto teor de amido. Os recursos para o projeto são
financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas
(Fapeam).
Felipe Rosa e Síglia Souza (MTb 14406/RS e MTb
66/AM)
amazonia-ocidental.imprensa@embrapa.br
Telefone: (92) 3303-7852
Telefone: (92) 3303-7852
Fonte: Embrapa
Amazônia Ocidental
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