O Estado deve proteger o meio
ambiente?
Os problemas ambientais se agravam, mas há
alternativas, diz o doutor em direito internacional Eduardo Felipe P. Matias.
Foto: Katie Edwards/Getty Images.
A ação do Estado é decisiva para deter o colapso
ambiental, diz especialista.
Essencial para a organização da economia depois da
crise financeira internacional de 2008, o Estado terá um papel decisivo na
superação de outro grande desafio da sociedade globalizada, a luta pelo
desenvolvimento sustentável e contra o aquecimento global. A análise,
apresentada pelo doutor em direito internacional Eduardo Felipe P. Matias em
seu mais recente livro, A Humanidade contra as Cordas – A luta da sociedade
global pela sustentabilidade, é resultado de uma avaliação detalhada do caminho
percorrido nas últimas décadas por políticos, empresas e organizações civis em
busca da construção de um novo modelo de crescimento e bem-estar social. Ainda
não há uma resposta à altura para o problema e um eventual fracasso em dar
conta desse desafio levará a civilização industrial contemporânea ao colapso,
prevê o autor.
A partir da recapitulação do movimento mundial de
conscientização sobre a necessidade de novas práticas de preservação do meio
ambiente, com destaque para o marco histórico da realização, em 1972, da
Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, a obra considera a
ação reguladora e indutora do Estado imprescindível para “reverter incentivos
perversos que provocaram tanto a crise financeira quanto a socioambiental, com
o objetivo de evitar novos colapsos”. A dupla debacle está diretamente
relacionada às consequências de um modelo de consumo desenfreado em um mercado
desregulado e sem incentivos à sustentabilidade.
O debate sobre as formas de os Estados estimularem
de maneira efetiva uma transformação das empresas rumo a um sistema de produção
sustentável e baseado em fontes alternativas aos combustíveis fósseis torna-se
especialmente importante em um momento de questionamento do sistema de
negociações da ONU sobre o clima. O Protocolo de Kyoto, em vigor desde 2005, é
o único instrumento legal internacional em vigor para obrigar à limitação das
emissões de gases de efeito estufa, os maiores causadores do aquecimento
global. Em 2012, os países signatários aumentaram as suas emissões, enquanto o
objetivo era a redução de 5% em relação aos níveis de 1990. Mesmo assim, o
acordo foi renovado, desta vez por um conjunto menor de participantes
responsáveis por menos de 15% das emissões globais de carbono, ante 51% na sua
versão original. O sistema organizado para o comércio de carbono entre países
com metas obrigatórias de redução e aqueles não comprometidos com esses
objetivos não funcionou e não é mais considerado eficaz.
Envolver um número menor de participantes nos
pactos para reduzir a produção de poluentes, focar em metas mais tangíveis e
considerar previamente o que os países estão dispostos a realizar são algumas
das possibilidades para superar o modelo falho. O tamanho do desafio não deve
ser subestimado, alerta o autor. As fontes de emissão de gases de efeito estufa
são difusas, profundamente entremeadas no sistema de produção e a sua alteração
a curto prazo tem custo elevado.
O sucesso na substituição das fontes mais poluentes
depende tanto da evolução das regras de governança das empresas para incorporar
a questão da sustentabilidade entre os seus objetivos quanto do incentivo
público ao desenvolvimento de novas tecnologias. Uma ação importante dos
governos, apesar de bastante controversa, é a eliminação total dos subsídios
aos combustíveis fósseis, calculados em cerca de 1 trilhão de dólares por ano
no mundo todo. Encarecer esses produtos seria um caminho para desestimular o
consumo.
O autor entende não existir incompatibilidade entre
a sustentabilidade e a globalização, possível veículo para a disseminação de
novas práticas, mas a adoção de um padrão sustentável de desenvolvimento tem
impactos no crescimento da economia mundial. Por maior que seja o êxito em
demonstrar às empresas os bons resultados de investir em práticas consistentes
do ponto de vista socioambiental, com redução dos riscos do negócio, ganho de
reputação e de eficiência, a luta contra o aquecimento global depende, na
essência, de se repensar o modelo de progresso baseado no aumento incessante do
crescimento e do consumo. Essa reflexão levou a iniciativas como a criação,
pelo governo francês, de uma comissão para estudar um mecanismo mais eficiente
de medição da performance econômica e do progresso socioambiental. As questões
sem resposta sobre os meios para viabilizar um mundo mais sustentável se
avolumam e os problemas se agravam a cada dia, mas há alternativas, conclui
Matias.
Fonte: Carta Capital
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