Novas propostas para os Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS), artigo de José Eustáquio Diniz Alves.
Em 2015 termina o prazo estabelecido para o
cumprimento das metas dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM),
que foram definidos na Cúpula do Milênio, da Organização das Nações Unidas
(ONU), no ano 2000, em Nova Iorque.
Atualmente, a ONU está realizando um debate
global para definir quais serão as novas metas que substituirão os ODMs, entre
2015 e 2030, e que vão dar continuidade às decisões da Conferência do Meio
Ambiente de 2012, a Rio + 20. Os 17 pontos que estão em negociação foram
expostas no Zero.
Draft e são:
1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas
em todos os lugares.
2. Acabar com a fome, alcançar a segurança
alimentar e nutrição adequada para todos, e promover a agricultura sustentável.
3. Alcançar saúde para todos em todas as idades.
4. Fornecer educação equitativa, inclusiva e de
qualidade e oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.
5. Atingir a igualdade de gênero e a autonomia
para mulheres e meninas em todos os lugares.
6. Garantir água limpa e saneamento para todos.
7. Garantir serviços de energia modernos,
confiáveis, sustentáveis e a preços acessíveis para todos.
8. Promover o crescimento econômico forte,
sustentável e inclusivo e trabalho digno para todos.
9. Promover a industrialização sustentável.
10. Reduzir as desigualdades dentro dos países e
entre eles.
11. Construir cidades e assentamentos humanos
inclusivos, seguros e sustentáveis.
12. Promover padrões de produção e consumo
sustentáveis.
13. Promover ações em todos os níveis para
combater as mudanças climáticas.
14. Alcançar a conservação e o uso sustentável
dos recursos marinhos.
15. Proteger e restaurar os ecossistemas
terrestres e interromper toda a perda de biodiversidade.
16. Alcançar sociedades pacíficas e inclusivas, o
Estado de direito, e instituições eficazes e capazes.
17. Fortalecer e melhorar os meios de
implementação [desses objetivos] e a parceria global para o desenvolvimento
sustentável.
Cada um dos 17 pontos está subdivido em metas
mais específicas. No conjunto, há uma lista bastante abrangente de objetivos a
serem atingidos até 2030. Pode-se dizer que é uma lista bem-intencionada,
visando erradicar a pobreza e a fome, melhorar a saúde e a educação das
pessoas, garantir igualdade de gênero, reduzir as desigualdades sociais dentro
dos países e as desigualdades entre países, proteger os ecossistemas e promover
o desenvolvimento sustentável.
O problema é que o mundo ainda não descobriu como
viabilizar o tal “desenvolvimento sustentável”. Na prática o que existe é
maquiagem verde (greenwashing). Os dados mostram que todo desenvolvimento, tal
como conhecemos, agride o meio ambiente e ameaça a biodiversidade. Até onde
sabemos, todo desenvolvimento tem sido insustentável em termos ecológicos.
Mas a meta 8 fala em “Promover o crescimento
econômico forte e sustentado” e toda a lógica do Draft Zero dos ODS está
fundamentada na expansão da produção de bens e serviços altamente dependentes
da energia e dos materiais fornecidos pela natureza. A meta 9 fala em promover
a “industrialização sustentável”, mas não explica como produzir aço, alumínio,
móveis, fogões, geladeiras, televisores, carros,etc, sem sugar os recursos do
meio ambiente e sem produzir lixo e resíduos sólidos.
O mundo já tem uma pegada ecológica 50% maior do
que a biocapacidade do Planeta. Mesmo que houvesse o fim das desigualdades
sociais, o consumo médio mundial já ultrapassou as fronteiras planetárias. Se
houver mais crescimento econômico e demográfico e mais industrialização, o
desequilíbrio tende a aumentar.
As emissões de gases de efeito estufa já fizeram a concentração de CO2 na atmosfera ultrapassar 400 partes por milhão (ppm), quando o limite seguro seria no máximo de 360 ppm. Somos a primeira geração a sentir o impacto da mudança climática e a última geração que pode fazer alguma coisa para evitar um desastre ecológico global.
A escola da economia ecológica ensina que a
economia é um subsistema do ecossistema. A ideia de descasamento entre economia
e recursos materiais e energéticos não se comprovou verdadeira na prática. O
“Paradoxo de Jevons” mostra que maior eficiência econômica não significa
redução da exploração da natureza. Como mostrou Herman Daly, o desenvolvimento
atual tem gerado um “crescimento deseconômico”, com os custos sendo maiores do
que os benefícios. Portanto, o que o mundo precisa não é de mais
desenvolvimento, mas sim de algo como ‘des-desenvolvimento’.
A ONU deveria levar em consideração na discussão
dos ODS, a proposta de Heman Daly, que é: “Decrescer até chegar a uma escala
sustentável que, então, procuramos manter num estado estacionário”. Insistir na
expansão do atual modelo de produção e consumo é o mesmo que trilhar o caminho
que leva ao ecocídio e ao suicídio.
Referências:
Mariana Schreiber. Brasil lidera racha polêmico sobre novos objetivos do milênio
da ONU, BBC, Londres, 27/06/2014
Zero
Draft. Introduction
and Proposed Goals and Targets on Sustainable Development for the Post2015
Development Agenda,
julho 2014
DALY, Herman. Guru da economia ecológica defende decrescimento, IHU, São
Leopoldo, 2011
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate,
é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em
População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências
Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal.
E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Fonte: EcoDebate
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