quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O custo de privilegiar o uso do automóvel.
As cidades brasileiras têm um custo sete vezes maior com carros e motos do que com o transporte coletivo. 

Há alguns anos a ANTP realiza estudos e levantamentos para quantificar os custos envolvidos na mobilidade urbana. É o SIM – Sistema de Informações da Mobilidade, que faz a análise dos dados coletados em cidades com população acima de 60 mil habitantes. Este banco de dados permite o acompanhamento das várias facetas de caráter econômico e social envolvidas na dinâmica do transporte e trânsito urbanos das cidades brasileiras que, juntas, respondem por 61% da população do país e 71% da frota de veículos.

O mais recente relatório do SIM, com informações referentes a 2012, nos permite conhecer, com profusão de dados, indicadores importantes para a compreensão da atual situação da mobilidade urbana no país. O custo da mobilidade nas 438 cidades abrangidas pelo relatório chegava, naquele ano, ao valor de R$ 184,3 bilhões. Este custo resulta da soma dos custos pessoais (arcados pelos usuários ou por empregadores quando há uso de vale transporte) mais os custos públicos (manutenção do sistema viário, arcados pelo poder público).

Dentre os muitos dados coletados e analisados pelo SIM, há resultados que nos permitem entender melhor a justeza de ações públicas que visam priorizar o transporte coletivo. Refiro-me ao custo do patrimônio envolvido na mobilidade urbana das 438 cidades, estimado em R$ 2,48 trilhões. Para chegar a este número o relatório do SIM responde a uma pergunta objetiva: quanto custaria remontar, a valores de hoje, o atual sistema de mobilidade?

O custo do patrimônio, assim, resulta da soma dos valores dos veículos que circulam por ruas e trilhos das cidades (carros, motos, ônibus, trens metropolitanos e de metrô) mais a infraestrutura utilizada para sua circulação, viária e metroferroviária.

Do total de R$ 2,48 trilhões, o custo de carros e motos somado ao custo do viário utilizado por eles é estimado em 2,18 trilhões de reais (88% do total), sete vezes maior do que para o transporte coletivo, quando se aplica o mesmo critério, cujo custo despenca para 0,31 trilhão (12%).

Uma das conclusões a que se pode chegar é a de que o gasto com infraestrutura nas cidades brasileiras tem beneficiado historicamente e de maneira gritante o transporte individual – basta olhar para as ruas e avenidas de qualquer cidade para enxergar como os carros são preponderantes na ocupação do espaço, quando em movimento ou estacionado.

São dados importantes, justo num momento em que, em muitas cidades do país, brotam queixas contra as ações realizadas por Prefeituras em prol do transporte coletivo. Refiro-me, principalmente, à implantação de corredores, à ampliação de rodízios, à redução de vagas de estacionamento para maior fluidez dos ônibus, além da implantação de projetos cicloviários.

Por fim, mas não menos importante: os valores revelados pelo SIM não só justificam qualquer ação em prol do transporte coletivo, como demonstram que tal postura, apesar de tardia, é absolutamente necessária. Em qualquer sociedade democrática, o bem-estar coletivo tem de estar acima dos interesses individuais.

* Alexandre Pelegi é editor da Revista dos Transportes Públicos da ANTP.

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