sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Brasil conservaria Mata Atlântica com 0,01% do PIB anual.
Região abriga os únicos exemplares de quase 10 mil espécies de plantas e mais aves que toda a Europa


Região é um dos mais ameaçados hotspots de biodiversidade no mundo.

A Revista Science, uma das mais prestigiadas na categoria científica, publicou no final de agosto o estudo Usando limiares ecológicos para avaliar os custos e benefícios de conservação em um hotspot de biodiversidade, que conta com a participação do professor Alexandre Toshiro Igari, do curso de Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.

De acordo com o estudo, o Brasil poderia conservar amplas áreas da Mata Atlântica se investisse apenas 0,01% do PIB anual. A região é um dos mais importantes e ameaçados hotspots de biodiversidade no mundo, abrigando os únicos exemplares de quase 10 mil espécies de plantas e mais aves que toda a Europa.

Os autores do estudo – cientistas e pesquisadores da Imperial College London, University of Minnesota, University of Toronto, USP e Universidade Estadual Paulista (Unesp) – calcularam que custaria US$ 198 milhões por ano, pouco menos do que 0,01 % do PIB anual do País, para pagar proprietários para restaurarem cerca de 400 mil hectares de florestas em suas terras, o que, em conjunto com as áreas de florestas já existentes, seria suficiente para conservar a maioria das espécies e os serviços ecossistêmicos em uma ampla região de 7,8 milhões de hectares da Mata Atlântica. O valor do investimento equivale a apenas 6,5% do que o Brasil já destina anualmente para subsídios agrícolas.

Para calcular os custos envolvidos com a conservação da Mata Atlântica, os cientistas também tiveram que estabelecer o mínimo de habitat necessário para se manter o ecossistema e a biodiversidade da região.

Segundo o professor Alexandre Igari, o maior desafio do estudo não é determinar os custos, mas sim identificar os limiares ecológicos para a conservação da mata. “Esses limiares representam uma contribuição substancial para dar fundamentação científica robusta às políticas públicas de gestão territorial”, afirma o professor, destacando que o artigo identificou convergência dos limiares de conservação para grupos distintos de organismos na Mata Atlântica.

Após nove anos de pesquisa e coletas de dados em 79 locais ao longo de 150 quilômetros de Mata Atlântica foi possível concluir que é preciso preservar um mínimo de 30% de florestas nativas para manter a biodiversidade e as funções ecossistêmicas. “Isso quer dizer que paisagens com menos de 30% de cobertura de vegetação nativa sofrem uma queda abrupta na diversidade de aves, mamíferos e anfíbios”, explica Igari.

Os pesquisadores agora esperam trabalhar com os governos federais e estaduais e com organizações não-governamentais para discutir esquemas de conservação e restauração florestal com a melhor relação custo-benefício e que beneficie as populações locais.

Imagem: Wikimedia


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