Brasil conservaria Mata Atlântica
com 0,01% do PIB anual.
Região abriga os únicos exemplares de quase 10 mil
espécies de plantas e mais aves que toda a Europa
Região é um dos mais ameaçados hotspots de
biodiversidade no mundo.
A Revista Science, uma das mais prestigiadas na
categoria científica, publicou no final de agosto o estudo Usando limiares
ecológicos para avaliar os custos e benefícios de conservação em um hotspot de
biodiversidade, que conta com a participação do professor Alexandre Toshiro
Igari, do curso de Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades
(EACH) da USP.
De acordo com o estudo, o Brasil poderia conservar
amplas áreas da Mata Atlântica se investisse apenas 0,01% do PIB anual. A
região é um dos mais importantes e ameaçados hotspots de biodiversidade no
mundo, abrigando os únicos exemplares de quase 10 mil espécies de plantas e
mais aves que toda a Europa.
Os autores do estudo – cientistas e pesquisadores
da Imperial College London, University of Minnesota, University of Toronto, USP
e Universidade Estadual Paulista (Unesp) – calcularam que custaria US$ 198
milhões por ano, pouco menos do que 0,01 % do PIB anual do País, para pagar
proprietários para restaurarem cerca de 400 mil hectares de florestas em suas
terras, o que, em conjunto com as áreas de florestas já existentes, seria
suficiente para conservar a maioria das espécies e os serviços ecossistêmicos
em uma ampla região de 7,8 milhões de hectares da Mata Atlântica. O valor do
investimento equivale a apenas 6,5% do que o Brasil já destina anualmente para
subsídios agrícolas.
Para calcular os custos envolvidos com a
conservação da Mata Atlântica, os cientistas também tiveram que estabelecer o
mínimo de habitat necessário para se manter o ecossistema e a biodiversidade da
região.
Segundo o professor Alexandre Igari, o maior
desafio do estudo não é determinar os custos, mas sim identificar os limiares
ecológicos para a conservação da mata. “Esses limiares representam uma
contribuição substancial para dar fundamentação científica robusta às políticas
públicas de gestão territorial”, afirma o professor, destacando que o artigo
identificou convergência dos limiares de conservação para grupos distintos de
organismos na Mata Atlântica.
Após nove anos de pesquisa e coletas de dados em 79
locais ao longo de 150 quilômetros de Mata Atlântica foi possível concluir que
é preciso preservar um mínimo de 30% de florestas nativas para manter a
biodiversidade e as funções ecossistêmicas. “Isso quer dizer que paisagens com
menos de 30% de cobertura de vegetação nativa sofrem uma queda abrupta na
diversidade de aves, mamíferos e anfíbios”, explica Igari.
Os pesquisadores agora esperam trabalhar com os
governos federais e estaduais e com organizações não-governamentais para
discutir esquemas de conservação e restauração florestal com a melhor relação
custo-benefício e que beneficie as populações locais.
Imagem: Wikimedia
Fonte: Agência
USP de Notícias
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