Desperdício global de alimentos
representa perdas de quase dois bilhões de euros.
A perda e o desperdício de alimentos é a redução, ao
longo de toda a cadeia alimentar (desde a produção até o consumo) e devido a
qualquer causa, da quantidade de alimentos que em princípio estava prevista
para ser destinada ao consumo humano. Estas perdas chegam a 1,3 milhão de
toneladas métricas ao ano.
A reportagem está publicada no sítio Derecho
a la Alimentación, 22-09-2014. A tradução é de André Langer.
A principal diferença entre perda e desperdício
está nas causas: o desperdício se dá por uma decisão nossa, voluntária,
enquanto que as perdas não. Normalmente, as perdas concentram-se nas primeiras
fases da cadeia alimentar, e o desperdício nas últimas, ao nível dos
consumidores finais.
Na Europa, o total de perdas e
desperdício de alimentos é de cerca de 280 quilos por pessoa/ano, dos quais,
quase 100 quilos são desperdício que se produz ao nível dos consumidores. No
entanto, na África Subsaariana, o total de
perdas e desperdício de alimentos é de cerca de 170 quilos por pessoa/ano, mas,
desses, apenas sete quilos correspondem a desperdícios ao nível de
consumidores.
Que consequências tem o desperdício de
alimentos?
As perdas e os desperdícios de alimentos têm
impactos negativos em diferentes âmbitos (no econômico, no social e no
ambiental) e em diferentes níveis (desde o nível doméstico até o mundo
globalizado).
No nível micro, estas perdas implicam que os
lares gastam maior porcentagem de recursos em alimentos que depois não são
consumidos e aumentam o lixo, o que produz uma maior contaminação e aumenta de
forma desnecessária as emissões de gases de efeito estufa.
Ao longo da cadeia alimentar, isto supõe uma
ineficiência maior (gastamos mais alimentos para nos alimentar), uma
produtividade menor e uma maior complexidade da gestão do lixo.
No nível global, estas perdas e desperdícios
traduzem-se em aumento dos preços dos alimentos; este aumento agrava a situação
das famílias mais pobres, aquelas que têm que dedicar até 80% dos seus
ingressos simplesmente para se alimentarem; pessoas que, com preços mais altos,
veem-se expostas à fome. Além disso, aumenta-se de forma desnecessária a pressão
sobre os recursos naturais e contribui-se para a mudança climática, fazendo com
que o sistema alimentar em nível global seja cada vez mais insustentável.
Por que se produzem estas perdas e
desperdícios de alimentos?
Quando se analisa as causas podemos ver que estas
afetam momentos da cadeia alimentar muito diferentes e diversos níveis, desde o
micro até o estrutural: as causas relacionadas ao nível micro estão
relacionadas com ações ou omissões ao nível individual, ao passo que as causas
estruturais ou sistemáticas estão relacionadas com o mau funcionamento do
sistema alimentar, deficiências institucionais ou condicionamentos políticos.
Há causas que operam no início da cadeia
alimentar anterior inclusive à colheita, como podem ser práticas agronômicas
inadequadas, fatores ambientais, má escolha dos cultivos de acordo com as
condições do terreno, etc. Às vezes, a produção fica sem ser colhida e é
desperdiçada ainda no campo porque não cumpre determinados padrões exigidos
pelo mercado ou devido a que os preços na época da colheita são tão baixos que
não vale a pena nem fazer a colheita. Outras vezes as perdas se dão durante a
colheita e primeira manipulação, devido a técnicas inadequadas, à falta de
meios inadequados, à carência de locais de armazenamento, etc. Também há
descarte de alimentos que, mesmo sendo adequados para o consumo humano, não
cumprem os padrões “estéticos” impostos pelo mercado.
Algumas perdas de alimentos – especialmente em
países em desenvolvimento – acontecem porque não se conta com instalações de
armazenamento e conservação adequadas, especialmente para aqueles produtos que
requerem refrigeração, ou porque as condições de transporte são deficientes
(estradas em péssimas condições, veículos inadequados…).
Nos países em desenvolvimento, as perdas de
frutas e hortaliças devidas às deficiências nas infra-estruturas de
armazenamento e transporte oscilam entre 35% e 50%.
Fonte: IHU On-line
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