quinta-feira, 27 de dezembro de 2018


Conama define novas regras ambientais de emissão veicular de gases poluentes para o setor de transporte rodoviário.

Já estão em vigência as novas normas ambientais relativas à emissão veicular de gases poluentes e de ruídos para o segmento de transporte rodoviário.


As mudanças trazidas pelas resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente já estão em vigor e serão exigidas para os novos modelos de veículos a partir de janeiro de 2022.

Por Maíra Oliveira.
poluição veicular
Já estão em vigência as novas normas ambientais relativas à emissão veicular de gases poluentes e de ruídos para o segmento de transporte rodoviário. Em função disso, os fabricantes e importadores de veículos automotores pesados, destinados ao transporte de passageiros (ônibus) e mercadorias (caminhões), terão até janeiro de 2022 para atenderem às novas exigências trazidas pelas resoluções 490 e 491 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

A partir dessa data serão exigidas as adequações dos novos modelos de veículos, que nunca obtiveram Licença para Uso da Configuração de Veículo ou Motor (LCVM). E, após janeiro 2023, serão cobradas as adaptações dos demais veículos. São contemplados nas resoluções automotores, nacionais e importados, como caminhões, ônibus e máquinas rodoviárias e agrícolas.

A primeira legislação trata dos limites máximos para emissões de gases poluentes e de ruído para veículos automotores pesados novos, enquanto a segunda resolução aborda padrões da qualidade do ar. “Os fabricantes e importadores de veículos deverão ficar atentos ao cronograma para as homologações e seus respectivos prazos para evitarem sanções penais e administrativas, como multas e demais punições legais previstas na Lei de Crimes Ambientais”, explica a consultora da área ambiental do escritório Andrade Silva Advogados, Nathália Leite.

Ela acrescenta que a Resolução 491 estabelece padrões para a qualidade do ar e traz exigências que deverão ser atendidas pelos órgãos ambientais estaduais e distrital, que deverão elaborar, em até três anos, um Plano de Controle de Emissões Atmosféricas, considerando os Padrões de Qualidade definidos na Resolução, bem como as diretrizes contidas no PRONAR (Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar).

De acordo com Nathália, o controle da emissão de poluentes gera benefícios não só para o meio ambiente, mas afeta, diretamente, a qualidade de vida da população. “Além do controle e da redução da emissão de monóxido de carbono, considerado um dos poluentes responsáveis pelo aquecimento global, essas normas contribuirão, também, para a saúde pública, com a redução de problemas respiratórios, o que impactará na economia com assistência médica”, explica.


Fonte: EcoDebate

Paraná revoga norma que estabelecia distância mínima, como margem de segurança para aplicação de agrotóxicos.

Agrotóxicos – Na prática, medida autoriza pulverização de veneno ao lado de casas, escolas, rios e mananciais; acidente que vitimou em novembro quase cem pessoas, entre elas mais de 50 crianças, não teria nenhuma consequência pela nova regra.

Por Rafael Moro Martins, Agência Pública/Repórter Brasil

A menos de 20 dias do fim do mandato da governadora do Paraná, Cida Borghetti (PP), uma resolução assinada por três secretários e os presidentes de duas autarquias estaduais revogou uma norma em vigor desde 1985 que estabelecia que agrotóxicos não podem ser aplicados a uma distância inferior a 50 metros de casas, escolas, unidades de saúde, rios, mananciais de água e outras culturas que podem ser danificadas pelo veneno.

Na prática, isso quer dizer que, desde o dia 12 de dezembro, qualquer agricultor pode pulverizar agrotóxico com trator ou equipamento costal – isto é, acoplado às costas do trabalhador rural – até o limite de suas plantações, ainda que ao lado delas estejam moradias ou escolas.

A governadora Cida Borghetti (PP) revogou uma norma em vigor desde 1985 que estabelecia que agrotóxicos não podem ser aplicados a uma distância inferior a 50 metros de casas, escolas, rios e outras culturas que podem ser danificadas pelo veneno.

Dito de outra forma, um acidente como o que ocorreu no início de novembro em Espigão Alto do Iguaçu, em que quase cem pessoas (52 delas crianças) foram envenenadas com um agrotóxico potencialmente fatal, não teria nenhuma consequência se ocorresse hoje.

“É uma aberração”, disse à Pública o promotor Alexandre Gaio, coordenador regional do Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo do Ministério Público (MP), que recorreu à Justiça dois dias depois de ter sido publicada a nova resolução.

Com a revogação da Resolução 22/1985, uma única norma – federal – passa a proteger moradores e o meio ambiente vizinhos a áreas de plantio com agrotóxicos: a instrução normativa 02/2008, do Ministério da Agricultura. “Mas ela trata só da pulverização por aeronaves. Ou seja, a aplicação com trator ou equipamento costal está totalmente liberada sem margens de segurança”, lembrou o promotor.

O acidente em Espigão Alto do Iguaçu, cabe lembrar, foi causado por uma aplicação descuidada feita com um trator.

“Carta branca para pulverizar onde quiser”

A Resolução Conjunta 001/2018 é enxuta. No primeiro artigo, cita uma série de normas federais, estaduais e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que farão “a regulação correspondente ao uso e manuseio de agrotóxicos” no Paraná. No segundo, determina que “fica revogada a Resolução nº 22, de 05 de julho de 1985”.

O problema é que nenhuma das normas citadas trata de distâncias mínimas para aplicação de agrotóxicos, justamente do que tratava a Resolução 22/1985. “Com a simples revogação dela, deixaram a população totalmente descoberta. É mais do que um ilícito, é totalmente intolerável. Hoje, qualquer um pode pulverizar em cima de casas que não há ilícito previsto”, explicou o promotor Gaio.

“Na prática, [a nova regra] deu carta branca [ao agronegócio] para pulverizar onde quiser. E isso ocorreu mesmo depois de o MP ter feito uma recomendação administrativa [ao governo do estado] de que deveria ter discutido o assunto com toda a sociedade, inclusive com a saúde pública”, ele prosseguiu.

No material que distribuiu para celebrar o que chamou de “modernização das normas de uso e manejo de agrotóxicos”, o governo de Cida Borghetti deixa claro que “a mudança é resultado de um amplo processo de diálogo entre instituições do estado e entidades privadas ligadas à agricultura, que pediam a revogação de uma normativa de 1985, já superada por outras regulamentações”.

Na verdade, nenhuma norma posterior supre o papel da Resolução 22/1985, como deixou claro o promotor Alexandre Gaio.

Diálogo, só com o agronegócio

O governo ressalta a participação da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), que “fez parte do grupo de trabalho que discutiu a modernização das normas nos últimos anos e subsidiou os debates com uma análise técnica e jurídica que detalhava a situação e concluiu que a Resolução nº 22, de julho de 1985 é sobreposta a outras leis, pois existe ampla legislação que aborda a poluição por agrotóxicos, atendendo aos conceitos atuais e ao determinado pela Constituição”.

Em junho passado, o MP enviou correspondência ao Instituto Ambiental do Paraná (IAP) pedindo “a inclusão de representantes da sociedade civil no estudo, revisão e aplicação da Resolução 22/1985”, e “a realização de consulta pública para manifestação de interessados”. Na resposta, que chegou aos promotores apenas em outubro, o IAP disse que não acataria a recomendação – sem incluir nenhuma justificativa para tanto.

“Não fomos convidados a participar. Tampouco a academia foi”, disse o advogado Aristides Athayde, vice-presidente de uma organização chamada Observatório de Justiça e Conservação.

A Faep, que celebrou a norma que acabou com margens de segurança para aplicação de agrotóxicos como “mais um passo em direção à modernização da regulamentação dos defensivos agrícolas (sic)”, homenageou a governadora Cida Borghetti por sua “contribuição com o agronegócio” num evento realizado dois dias após a publicação da norma que enterrou a Resolução 22/1985.
Uniport, máquina agrícola usada para pulverização em lavouras. Foto: Henry Milleo / Agência Pública/Repórter Brasil .

A reportagem perguntou à Faep – presidida desde 1991 por Ágide Meneguete, um dos mais longevos dirigentes sindicais do país – quais estudos científicos embasaram sua análise pela extinção da Resolução 22/1985. Não houve resposta.

Um gabinete ruralista

Tal qual no futuro governo de Jair Bolsonaro, Cida Borghetti entregou o comando de áreas da administração a representantes do agronegócio.

O primeiro nome da lista de autoridades que assinaram a nova resolução é Dilceu Sperafico, deputado federal pelo PP licenciado para ocupar a chefia da Casa Civil, a principal pasta do governo Borghetti.

O primeiro nome da lista de autoridades que assinaram a nova resolução é Dilceu Sperafico.

Na Câmara desde 1995, Sperafico sempre integrou a bancada ruralista – chegou a presidir a Comissão de Agricultura e a Frente Parlamentar da Agricultura. Votou pelo impeachment de Dilma Rousseff e pelo arquivamento das denúncias contra Michel Temer. O político chegou a ser investigado na Lava Jato por associação criminosa, mas o inquérito foi arquivado. Ele não disputou a reeleição.

Também estão na lista o secretário de Meio Ambiente, Antonio Carlos Bonetti, ex-prefeito de uma pequena cidade de uma região agrícola do estado e que pela primeira vez na carreira política está à frente de uma pasta dedicada a temas ambientais, e o presidente do IAP, Luiz Carlos Manzato, um advogado que em publicações oficiais diz estar preocupado com a “segurança jurídica de produtores rurais“.

A ação do MP

“A forma utilizada para retirar do ordenamento jurídico a Resolução 22/1985 – com um mero ‘revogue-se’ – evidencia a intenção de, em verdade, suprimir os parâmetros protetivos mínimos para a defesa das populações, ecossistemas, plantações e recursos hídricos afetados pela aplicação de agrotóxicos, ao que tudo indica em prol de meros interesses econômicos bastantes específicos”, anota o promotor Alexandre Gaio na petição apresentada à Justiça.

“A conclusão da indispensabilidade de regramento que fixe distâncias mínimas para pulverização com agrotóxicos é ainda mais potencializada no Estado do Paraná, tendo em vista que possui 417.218 propriedades rurais registradas no Sistema do Cadastro Ambiental Rural, sendo que apenas no ano de 2017 foram utilizados, 92.398.000 quilos [92 mil toneladas] de agrotóxicos no território paranaense, consoante se infere de consulta ao sítio eletrônico da Adapar”, ele prossegue.

A ação, contra governo do Paraná, IAP e Agência de Defesa Agropecuária do Paraná, ainda está em fase inicial. Na segunda-feira, 17 de dezembro, o juiz substituto Jailton Juan Carlos Tontini deu prazo de 72 horas para que os réus se pronunciem sobre o pedido de liminar do MP. Os promotores pedem que a Justiça suspenda imediatamente os efeitos da Resolução Conjunta 001/2018.

Outro lado

Procurado pela reportagem, o governo do Paraná disse que “a edição de recente regulamentação sobre o uso e manejo de agrotóxicos é uma decisão técnica de Estado e não de governo”.

“As instituições envolvidas decidiram pela atualização de normas que estavam em vigor há 35 anos e que já não atendiam à regulamentação federal em diversos aspectos, notadamente na questão da segurança jurídica”, diz a nota.

“O tema é objeto das leis federais 7.802/89 e 12.651/12; da Lei Estadual 7.827/83; do Decreto Federal 4.074/02; do Decreto Estadual 3.876/84; da Portaria 86/05 do Ministério do Trabalho e Emprego; da Resolução Sema 57/14; e da Norma Brasileira da ABNT NBR 9843 de 2004”, prossegue a assessoria. Nenhuma das normas citadas, porém, trata de distâncias mínimas para a aplicação de agrotóxicos.

“A Resolução 22/85 menciona a distância mínima de 50 metros, porém não existe amparo legal, técnico ou científico para a determinação para todo e qualquer tipo de agrotóxico ou forma de aplicação. Compete ao responsável técnico emissor da receita agronômica informar as condições e tecnologia adequada de aplicação bem como as condições ambientais necessárias para que não haja a deriva do produto para outras áreas”, afirma o governo.

“As distâncias mínimas de aplicação não guardam correlação com a qualidade e segurança na aplicação de agrotóxicos. O que se busca coibir é a efetiva deriva do agrotóxico aplicado, que não depende de distâncias, mas da qualidade da aplicação.

Reforça-se a necessidade de qualificação e treinamento dos aplicadores, para que realizem as operações de calibragem e aplicação de agrotóxicos de maneira a diminuir a deriva e melhorar a eficiência dessa tecnologia e ferramenta de controle de pragas”, prossegue a nota.

Já Cida Borghetti afirmou, também via assessoria, que “a edição da resolução é um ato técnico, definido exclusivamente pelos órgãos signatários”. “A governadora tem recebido sugestões sobre o tema que estão sendo encaminhadas aos órgãos para avaliação.”


Fonte: EcoDebate

Pesquisa identifica áreas para restaurar a Mata Atlântica com custo-benefício oito vezes maior.

Mata Atlântica – Estudo publicado na revista Nature Ecology & Evolution apresenta algoritmo inédito que combina conservação da biodiversidade, mitigação de mudanças climáticas e redução de custos,

Por Kellen Leal

Uma pesquisa inédita desenvolveu um algoritmo capaz de identificar as áreas prioritárias da Mata Atlântica a serem restauradas combinando três fatores essenciais: conservação da biodiversidade, mitigação de mudanças climáticas e redução de custos. A equipe liderada pelo professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) Bernardo Strassburg, apresentou ferramenta baseada em Programação Linear (PL) que aponta um conjunto de cenários possíveis de recuperação florestal em escala nacional. O algoritmo desenvolvido alcança a solução considerada ótima, que tem desempenho 33% melhor em relação às obtidas pelas ferramentas disponíveis, que se baseiam em aproximações matemáticas.

“A diferença que isso faz para a Mata Atlântica é enorme: são 450 milhões de toneladas de gás carbônico (CO2) a menos na atmosfera, 308 espécies menos extintas e 4 bilhões de dólares de redução de custos”, afirma Strassburg, que é diretor do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS) e coordenador do Centro de Ciências da Conservação e Sustentabilidade do Rio (CSRio). A pesquisa foi desenvolvida por 25 pesquisadores do Brasil, Estados Unidos, Austrália, Reino Unido, Suécia e Polônia, e mapeou 362 soluções para recuperação florestal com um custo-benefício oito vezes maior do que aquelas obtidas por métodos usuais.

Strassburg participou do desenvolvimento do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa, instituído em 2017, que determinou que o Brasil deve restaurar, em 20 anos, 12 milhões de hectares de floresta, sendo 5 milhões de Mata Atlântica – o equivalente a 4% desse bioma. “Onde promover essa restauração faz uma grande diferença”, afirma o economista e cientista ambiental. Por isso, o grupo buscou desenvolver uma metodologia para entender em quais áreas a recuperação traria um melhor custo-benefício. “Essa ferramenta deveria ter uma abordagem flexível que integrasse múltiplos critérios – não apenas a conservação da biodiversidade, a mitigação das mudanças climáticas ou a redução de custos. Queríamos um algoritmo que fizesse os três ao mesmo tempo”.

Estima-se que, hoje, restam apenas de 22 a 28% da Mata Atlântica original. Por isso, definir onde serão recuperados os 5 milhões de hectares desse bioma requer uma estratégia cautelosa. As 362 soluções ótimas encontradas são diversas e decidir qual é a melhor depende dos objetivos. Em um dos melhores cenários, cada um dos três fatores – conservação da biodiversidade, mitigação das mudanças climáticas e custos – têm um desempenho de cerca de 94%, 90% e 80%, respectivamente. 

“Mas definir se é melhor ter um desempenho de 94% para conservação e 90% para redução de CO2 na atmosfera ou o contrário, isso se trata de uma escolha da sociedade”, destaca Strassburg.

Pela legislação, cada propriedade deve ter, no mínimo, 20% de vegetação de Mata Atlântica, e as que estiverem abaixo da meta devem fazer a restauração – não necessariamente na sua própria terra, pois a lei permite que o produtor pague por essa recuperação em outros locais. “O pior cenário encontrado na análise é cada proprietário restaurar a vegetação em seu terreno, em pequenos projetos pulverizados. Sai mais caro e é pior para a biodiversidade e para o clima. Por isso, é importante considerar a inteligência espacial trazida pelas soluções do algoritmo”.

A descoberta inédita foi publicada esta semana em um artigo na renomada revista Nature Ecology & Evolution. Os mapas produzidos serão utilizados como instrumento para a definição de áreas prioritárias para restauração pelo Ministério do Meio Ambiente e a metodologia está sendo replicada para outros biomas e países.

SOBRE O IIS

O Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) é uma organização independente com sede no Rio de Janeiro que desenvolve pesquisa, projetos e ferramentas voltadas à compreensão da relação entre o homem e demais elementos da natureza e implementação de políticas públicas.
Área de Mata Atlântica, em Teresópolis/RJ, antes da restauração. Foto: Divulgação


Área de Mata Atlântica, em Teresópolis/RJ,depois da restauração. Foto: Divulgação
Referência:
Strategic approaches to restoring ecosystems can triple conservation gains and halve costs
Bernardo B. N. Strassburg, Hawthorne L. Beyer, Renato Crouzeilles, Alvaro Iribarrem, Felipe Barros, Marinez Ferreira de Siqueira, Andrea Sánchez-Tapia, Andrew Balmford, Jerônimo Boelsums Barreto Sansevero, Pedro Henrique Santin Brancalion, Eben North Broadbent, Robin L. Chazdon, Ary Oliveira Filho, Toby A. Gardner, Ascelin Gordon, Agnieszka Latawiec, Rafael Loyola, Jean Paul Metzger, Morena Mills, Hugh P. Possingham, Ricardo Ribeiro Rodrigues, Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza, Fabio Rubio Scarano, Leandro Tambosi & Maria Uriarte Nature Ecology & Evolution volume 3, pages62–70 (2019)
DOI https://doi.org/10.1038/s41559-018-0743-8


Fonte: EcoDebate

A longa seca: por que o suprimento global de água está diminuindo?


O suprimento global de água está diminuindo, mesmo com o aumento das chuvas. O culpado? O ressecamento dos solos devido à mudança climática.


Universidade de Nova Gales do Sul*

seca
Um estudo mundial descobriu um paradoxo: nossos suprimentos de água estão diminuindo ao mesmo tempo que a mudança climática está gerando chuvas mais intensas. E o culpado é o ressecamento dos solos, dizem os pesquisadores, apontando para um mundo onde condições de seca se tornarão a nova normalidade, especialmente em regiões que já são áridas.

Universidade de Nova Gales do Sul

O estudo, a mais completa análise mundial de chuvas e rios, foi conduzido pela equipe liderada pelo Professor Ashish Sharma da Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW), em Sidney, Austrália. Ele se baseou em dados reais de 43.000 estações pluviais e 5.300 locais de monitoramento de rios em 160 países, em vez de basear suas descobertas em simulações de modelo de um clima futuro, que podem ser incertas e às vezes questionáveis.

“Isto é algo que estava faltando,” disse Ashish, futuro membro do Conselho de Investigação Australiano (ARC) na Escola de Engenharia Civil e Ambiental da UNSW. “Nós esperávamos o aumento das precipitações, já que um ar mais quente armazena mais umidade – e é isso que os modelos climáticos também previam. O que não esperávamos é que, apesar de toda a chuva extra em todo o mundo, os grandes rios estão secando.

“Nós acreditamos que a causa seja o ressecamento dos solos em nossas bacias de captação. Antes de uma tempestade, estas bacias costumavam ser úmidas, permitindo que o excesso de chuva caísse nos rios. Agora elas estão mais secas e absorvem mais da chuva, então menos água é escoada.

“Menos água entrando em nossos rios significa menos água para as cidades e fazendas. E solos mais secos significam fazendeiros precisando de mais água para plantar as mesmas culturas. Pior ainda, este padrão é repetido em todo o mundo, assumindo proporções sérias em lugares que já são áridos. É extremamente preocupante,” ele acrescentou.

Para cada 100 gotas de chuva que caem na terra, apenas 36 gotas são de ‘água azul’ – a precipitação que entra em lagos, rios e aquíferos – e portanto, toda a água extraída para as necessidades humanas. Os dois terços remanescentes de precipitação são na maior parte retidos como umidade do solo – conhecida como ‘água verde’ – e usada pelo ambiente e pelo ecossistema.

À medida que a temperatura elevada causa uma maior evaporação da água nos solos, aqueles solos secos absorvem mais da precipitação quando esta ocorre, deixando menos ‘água azul’ para o uso humano.

“É um infortúnio duplo,” diz Ashish. “Menos água está indo para onde podemos armazená-la para posterior uso. Ao mesmo tempo, mais chuva está sobrecarregando a infraestrutura de saneamento nas vilas e cidades, levando a mais inundações urbanas.”

O Professor Mark Hoffman, Reitor de Engenharia da UNSW, acolheu a pesquisa de Ashish e convocou uma discussão mundial sobre como lidar com esse desdobramento de cenário, especialmente na Austrália, que já é o continente habitado mais árido (sem contar a Antártica).

“Está claro que não há uma correção simples, então nós precisamos começar a nos preparar para isso,” ele disse. “A mudança climática continua nos entregando surpresas desagradáveis. Contudo, como engenheiros, nosso papel é identificar o problema e desenvolver soluções. Conhecer o problema é muitas vezes metade da batalha, e este estudo definitivamente identificou alguns grandes problemas.”

As descobertas foram feitas nos quatro últimos anos, em pesquisa que apareceu nas revistas científicas Nature Geoscience, Geophysical Research Letters, Scientific Reports e, mais recentemente, na Water Resources Research da União de Geofísica dos Estados Unidos.

No artigo de 5 de novembro da revista Water Resources Research, Ashish e seus colegas escrevem que apesar da ampla evidência mundial do aumento de extremos de precipitação, não há evidência de aumento de inundações. Na verdade, as evidências apontam mais em direção a picos de cheias decrescidos para as inundações moderadas que formam os eventos-chave de reabastecimento nos reservatórios de abastecimento de água.

“Enquanto extremos de cheias podem aumentar devido às maiores tempestades que vem ocorrendo, essas cheias costumam ser grandes demais para serem armazenadas para o abastecimento de água. São dos extremos de cheias menos intensos que nossos reservatórios dependem,” Ashish disse.

“De modo geral, as magnitudes das cheias estão diminuindo,” escreveu Ashish e seus co-autores, o Dr. Conrad Wasko da Universidade de Melbourne e o Professor Dennis Lettenmaier, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles. (O Dr. Conrad foi estudante de PhD de Ashish na UNSW durante a maior parte da pesquisa).

Eles sugerem que grandes reduções na quantidade de umidade do solo, somados à redução da extensão geográfica de cada evento de tempestade, são as maiores razões para o aumento de extremos de precipitação não estarem resultando em aumentos correspondentes de inundações.

Eles apontam para pesquisas americanas anteriores que mostram que, em eventos extremos de precipitação, se os solos circundantes estiverem úmidos antes de uma tempestade, 62% da chuva leva a cheias que são capturadas por bacias de captação. Mas quando os solos estão secos, apenas 13% da chuva resulta em cheias.

“Isto está meio que contradizendo o argumento de aumento das inundações em relatórios anteriores do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas], mas apontando para possivelmente um cenário bem pior,” disse Ashish. “Pequenas cheias são muito importantes para o suprimento de água, porque elas reabastecem represas e formam a base de nosso suprimento de água,” disse Ashish.

“Mas elas estão ocorrendo com menos frequência, porque os solos estão sugando a chuva extra. Até mesmo quando uma grande tempestade despeja um monte de chuva, os solos estão tão secos que eles absorvem mais água do que antes, e uma quantidade menor alcança os rios e reservatórios.”

Pesquisas anteriores até então haviam despercebido isso. “Todos estavam obcecados pelo lado das inundações dessa equação e ignoraram o componente mais crítico, que é o suprimento de água em apuros resultante de fluxos reduzidos em nossos reservatórios,” ele acrescentou.

Então qual é a solução? “Uma opção é aguardar que acordos internacionais surtam efeito, para que as concentrações dos gases de efeito estufa possam ser reduzidas – mas isso levará um longo tempo. A outra opção é ser proativo e reprojetar nossos sistemas hídricos para que possamos nos adaptar e lidar melhor com o assunto.”

Para se adaptar à esta nova realidade, são necessárias novas políticas e infraestrutura. Em áreas onde o suprimento de água está diminuindo, a agricultura com uso intensivo de água precisará ser reduzida ou movida para outro lugar, enquanto a capacidade de armazenamento dos reservatórios precisarem ser expandidas. Em áreas urbanas, onde as inundações estão se tornando mais comuns, será necessário estudar incentivos a criar ‘cidades verdes’ e a armazenar ou desviar água das inundações.

“Nós precisamos nos adaptar à essa realidade emergente,” disse Ashish. “Nós precisaremos de um reprojetamento em grande escala em alguns lugares se quisermos continuar morando neles. Mas isto é possível: lugares como o Arizona e a Califórnia recebem apenas 400mm de chuva por ano, mas projetaram seus sistemas de suprimento de água para tornar habitáveis lugares anteriormente inabitáveis.

“Ou tome por exemplo o esquema Snowy Mountains: não é apenas sobre hidroeletricidade, é também um complexo esquema de suprimento de água com 225 km de túneis, tubulações e aquedutos.”

Ashish disse que a resposta não era simplesmente mais represas. “Reprojetar soluções não é simples, elas precisam ser analisadas região por região, vendo os custos e benefícios, analisando a mudança esperada para o futuro, enquanto também estudando projetos anteriores para não repetir os mesmos erros. Não há soluções mágicas. Qualquer projeto de reprojetamento em grande escala irá exigir um investimento significativo, mas o custo da inércia poderia ser monstruoso.”

Em áreas urbanas, será necessário o inverso: as inundações estão se tornando mais comuns e mais intensas. Perdas econômicas mundiais devido às inundações aumentaram de uma média de 500 milhões de dólares por ano na década de 80 para cerca de 20 bilhões de dólares anuais em 2010. Em 2013, o valor aumentou para mais de 50 bilhões. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas prevê que este número mais que duplicará nos próximos 20 anos, à medida que os extremos de tempestades e de chuvas se intensificarem e um maior número de pessoas se mudarem para centros urbanos.

“Adaptar-se a isso é possível, mas exigirá um reprojetamento em grande escala de muitas cidades,” diz Ashish. “Tóquio sofria com inundações todo ano, mas eles construíram um enorme tanque subterrâneo embaixo da cidade que armazena a água da chuva e depois a libera. Você nunca vê inundações lá agora.”


Referência:
Sharma, A., Wasko, C., & Lettenmaier, D. P. (2018). If precipitation extremes are increasing, why aren’t floods?. Water Resources Research, 54. https://doi.org/10.1029/2018WR023749


Tradução de Ivy do Carmo, Magma Translation (magmatranslation.com)


Fonte: EcoDebate

Novo estudo organiza ‘uma montanha’ de evidências sobre os efeitos da poluição do ar na saúde das crianças.

Um novo estudo conduzido por pesquisadores organiza as evidências científicas disponíveis sobre os efeitos da poluição do ar na saúde das crianças.

O artigo publicado na revista Environmental Research é a primeira revisão abrangente das associações entre vários poluentes da combustão de combustíveis fósseis e vários efeitos sobre a saúde em crianças, no contexto da avaliação dos benefícios da poluição do ar e das políticas de mudanças climáticas.

Os pesquisadores dizem que seu objetivo é expandir os tipos de resultados de saúde usados nos cálculos da saúde e dos benefícios econômicos da implementação de políticas de ar limpo e mudanças climáticas que são limitadas aos efeitos da poluição do ar em mortes prematuras e outros resultados em adultos. O novo artigo agrega pesquisas sobre os resultados, incluindo desfechos adversos de nascimento, problemas cognitivos e comportamentais e incidência de asma.

“As políticas para reduzir as emissões de combustíveis fósseis têm um duplo objetivo, reduzir a poluição do ar e mitigar as mudanças climáticas, com benefícios econômicos e de saúde combinados consideráveis”, diz a autora Frederica Perera , PhD, diretora do CCCEH e professora de Ciências da Saúde Ambiental . “No entanto, porque apenas alguns resultados adversos em crianças foram considerados, os formuladores de políticas e o público ainda não viram a extensão dos benefícios potenciais das políticas de ar limpo e mudança climática, particularmente para crianças.”

Os pesquisadores revisaram 205 estudos revisados por pares publicados entre 1º de janeiro de 2000 e 30 de abril de 2018, que forneceram informações sobre a relação entre a concentração de exposições a poluentes do ar e os desfechos de saúde. Os estudos referem-se a subprodutos da combustão de combustíveis, incluindo poluentes atmosféricos tóxicos, como material particulado (PM2.5), hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAH) e dióxido de nitrogênio (NO2). Uma tabela fornece informações sobre o risco de resultados de saúde para exposição por estudo, abrangendo pesquisas em seis continentes.

“Há uma extensa evidência sobre os muitos danos da poluição do ar na saúde das crianças”, diz Perera. “Nosso trabalho apresenta essas descobertas de maneira conveniente para apoiar políticas de ar limpo e mudanças climáticas que protejam a saúde das crianças.”

A Organização Mundial de Saúde estimou que mais de 40% da carga de doenças relacionadas ao meio ambiente e cerca de 90% da carga da mudança climática são suportadas por crianças menores de cinco anos, embora essa faixa etária constitua apenas 10% da população mundial.

Os impactos diretos sobre a saúde em crianças da poluição do ar proveniente da combustão de combustíveis fósseis incluem desfechos adversos no nascimento, comprometimento do desenvolvimento cognitivo e comportamental, doenças respiratórias e, potencialmente, câncer infantil. Como um dos principais impulsionadores da mudança climática, a combustão de combustível fóssil também está, direta e indiretamente, contribuindo para doenças, ferimentos, morte e saúde mental prejudicada em crianças através de eventos de calor mais freqüentes e severos, inundações costeiras e interiores, secas, incêndios florestais. tempestades intensas, propagação de vetores de doenças infecciosas, aumento da insegurança alimentar e maior instabilidade social e política. Espera-se que esses impactos se agravem no futuro.
Referência:
Towards a Fuller Assessment of Benefits to Children’s Health of Reducing Air Pollution and Mitigating Climate Change Due to Fossil Fuel Combustion
F.Perera, A.Ashrafi, P.Kinney, D.Mills
Environmental Research
DOI https://doi.org/10.1016/j.envres.2018.12.016


Fonte: Columbia Center for Children’s Environmental Health (CCCEH)
Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.


Fonte: EcoDebate

A Floresta Amazônica vai se tornar uma commodity?

Por Marcos Colón (*)

Construção de megaempreendimento para exportação de soja na Amazônia coloca em perigo comunidades, povos tradicionais e meio ambiente.

Há quase dois séculos, os naturalistas e exploradores britânicos Henry Walter Bates e Alfred Russel Wallace passaram cerca de três anos estudando animais e insetos na região do Lago do Maicá, no município de Santarém, em plena Amazônia Legal. Apesar das dificuldades, a dupla celebrou o que chamaram de “floresta gloriosa”. Estima-se que ao final da empreitada de três anos, eles tenham coletado mais de 14.000 espécies, que fizeram parte de um amplo estudo, que serviu de base para The Naturalist on the River Amazon, considerado um clássico de Bates.

Assim, o que diriam os naturalistas da decisão da Câmara de Vereadores de Santarém que possibilita a transformação de parte do lago em um porto privado para escoamento de soja?

Hoje podemos apenas imaginar. Contudo, durante a última sessão da Câmara de Vereadores do município de Santarém, em 11 de dezembro, os representantes do legislativo alteraram, de forma secreta e apressada, a revisão final do Plano Diretor Participativo (PDP), documento jurídico regido pelo Estatuto da Cidade e aprovado pela sociedade civil santarena de forma participativa em novembro de 2017. A decisão relâmpago visa facilitar a construção de complexos portuários para o transporte do grão através do Lago do Maicá.

A decisão invalida meses de discussões em grupos de trabalho e audiências com representantes dos mais diferentes setores  —  empresariais, acadêmicos, entes públicos e organizações sociais. Viola a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). A reunião do plenário que alterou do Plano Diretor Participativo pegou populações tradicionais, moradores e movimentos sociais em Santarém e da Amazônia de surpresa.
[PICTURE 02] Lago do Maicá 2018 / Photo by Marcos ColónA construção desse grande porto será na região do Lago do Maicá, área de elevada complexidade ambiental e lar de comunidades tradicionais, pescadores e cerca de 400 famílias quilombolas, totalizando aproximadamente 1.500 famílias na região. Maicá é um santuário ecológico, berçário natural de espécies únicas da fauna aquática e aves amazônicas. Além de ser um polo de visitação turística, é fonte de renda para as famílias que vivem primariamente da pesca, responsáveis por 30% do abastecimento de peixe da cidade.

Para a arqueóloga Anne Rapp Py-Daniel da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), “o Lago do Maicá é um ecossistema extremamente rico, mas também muito frágil e com uma grande dinâmica de formação (terras caídas, terras em formação, aberturas de furos, etc.). A presença de grandes navios provocará importantes deslocamentos de água, alterando a dinâmica das correntes fluviais, com risco de destruição acelerada das várzeas mais baixas, onde moram muitas comunidades tradicionais. Acompanhamentos já foram realizados no rio Madeira, outra região de várzea, mostrando o impacto das balsas e navios.  Além disso, a região do Maicá é extremamente importante para a arqueologia, pois abriga o sítio arqueológico mais antigo conhecido do município, o Sambaqui de Taperinha, de 8 mil anos. Também temos um grande número de sítios mais recentes (que possuem entre 500 e 2 mil anos) que ainda estão sendo mapeados, muitos deles identificados pelas manchas de Terra Preta. Na área mais alta ainda temos presença de comunidades indígenas. A história dessa região não para por aí, ocupações quilombolas estão presentes desde o século XIX, com a adição de nove territórios reconhecidos pela Fundação Cultural Palmares na margem do Maicá/Ituqui”.
[PICTURE 03] Bacia hidrográfica do Lago do MaicáSéculos de história

Santarém é uma das cidades mais antigas do interior da Amazônia. Localizada diante do encontro das águas dos rios Tapajós e Amazonas, foi fundada pelos padres jesuítas, em 1661, durante o processo de colonização portuguesa na região. Desde então, Santarém tem sido um polo estratégico, começando pela produção do cacau, pecuária, extrativismo, borracha, juta e atualmente a monocultura da soja. Localizada a 475 milhas do Oceano Atlântico, sua posição geográfica é estratégica para o escoamento da produção de soja, seja pela rodovia BR-163, pela hidrovia do Tapajós ou pelo Rio Amazonas chegando ao Atlântico.

A construção da zona portuária na região do Lago do Maicá faz parte da estratégia das empresas e produtores de soja da região para o escoamento do grão oriundo do Mato Grosso pela região Norte do país, precisamente através do eixo Tapajós-Teles Pires.

Pedro Martins, da organização de direitos humanos Terra de Direitos, observa que “os proprietários de soja começam a aparecer num processo de usurpação das terras dos camponeses. Esses proprietários, geralmente vindos de outros estados, iniciam cultivos extensos na região do Planalto de Santarém. A Embraps surge nesse contexto, a partir de proprietários de soja na região do Mato Grosso que tem como interesse o escoamento da soja produzida em Santarém, mas que também vê um potencial lucrativo enorme na construção de portos”, afirma Pedro Martins à Terra de Direitos.
[PICTURE 04] Rota de escoamento do agronegócio / by Marcos ColónPara o padre e ativista amazônico, Edilberto Sena, o processo tem início quando a Cargill, uma multinacional, empreendeu esforços na construção de um terminal portuário em 1999.

“A companhia viu que Santarém era um local estratégico para baratear a exportação da soja do Centro-Oeste brasileiro. Políticos locais e até parte da sociedade acreditaram que o porto da multinacional traria emprego, renda e desenvolvimento. Mas foi uma armadilha, com impactos negativos para a população. Os moradores dos bairros periféricos – Pérola do Maicá, Área Verde, Jaderlândia, Jutaí e mais cinco outros – precisarão lidar com uma grande avenida. Com capacidade de tráfego de 800 carretas por dia, pode-se imaginar os acidentes e outros problemas diários. Se essas populações não se organizarem, se nós não estivermos junto com elas na resistência, a destruição de nossa cidade vai se agravar, porque as autoridades não estão nem aí para o respeito às vidas humanas. 

Esse porto da Embraps na Área de Proteção Ambiental (APA) do Lago do Maicá pode ser útil para os empresários, mas trará graves prejuízos para o ambiente e para os moradores de Santarém, como já acontece com o porto da Cargill”, sinaliza o ativista.

Três empresas visam construir empreendimentos portuários no município: o Grupo Cevital, da Argélia, a empresa CEAGRO e a Embraps. O caso da empresa Embraps é significativo, pois seu licenciamento ambiental foi suspenso pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Pará após ação judicial. A petição partiu dos povos e comunidades tradicionais que vivem na região do Lago do Maicá junto ao Ministério Público Federal (MPF) e ao Ministério Público Estadual (MPE), que ajuizaram uma Ação Civil Pública contra as ações da Embraps. Na ação foi concedida liminar suspendendo o processo de licenciamento ambiental do Terminal de Uso Privado da Embraps até que fosse realizada a consulta prévia, livre e informada às comunidades quilombolas e demais povos e comunidades tradicionais que serão atingidos pelo empreendimento. A empresa recorreu da decisão no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) a liminar foi mantida e o licenciamento ambiental do porto permanece suspenso.

A Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) produziu um Relatório Técnico a partir das fragilidades detectadas no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da Estação de Transbordo do Lago do Maicá, apresentado pela Empresa Brasileira de Portos (Embraps). Contrariando o estudo da Embraps a equipe multidisciplinar da UFOPA demonstra os danos ambientais, arqueológicos e humanos, que, se não forem sanados, colocarão em risco as populações de peixes e fitoplânctons do Lago do Maicá, com danos irreversíveis à vida dos humanos e não humanos da região.

Para o professor do Instituto de Biodiversidade e Floresta (Ibef/Ufopa), Jackson Rêgo Matos, “nossa grande preocupação com a construção do porto não é só com o Lago Maicá, mas com toda a cidade de Santarém e região do Rio Tapajós. Essas áreas, incluindo a praia de Alter do Chão, terão suas paisagens afetadas, tanto pela passagem de caminhões circulando por toda a cidade quanto pelo tráfego de comboios de balsas. Essa logística, certamente, acarretará em mais poluição atmosférica, visual, sonora, além da perda do patrimônio arqueológico, sendo Santarém a cidade mais antiga pré-colonial do Brasil, a qual abriga um dos mais expressivos sítios arqueológicos das Américas. 

Ressalta-se que a bacia do Tapajós é a quinta maior bacia tributária da Amazônia e abrange aproximadamente 492.000 km2, o que, por si só, justificam políticas públicas que garantam a manutenção desse patrimônio para usufruto de suas populações, e não somente dar segurança jurídica aos empreendedores, como alega o prefeito, Nélio Aguiar, para justificar o desrespeito dos vereadores aos trâmites constitucionais do plano diretor construído com a participação popular” explica Rêgo Matos.

Vozes autônomas

Como bem aponta a reportagem do jornal Brasil de Fato, o modo de vida das comunidades do Maicá está em risco por um desejo alheio às necessidades delas: a busca por um caminho mais curto para a soja brasileira sair do país. Com a construção do porto, seria possível diminuir em cerca de 800 quilômetros o trajeto dos grãos que saem do Mato Grosso por rodovias e, atualmente, necessitam passar pelo Porto de Santos. O Porto do Maicá, em Santarém, encurtaria em sete dias o tempo que os navios levam para chegar à Europa. No entanto, a voz das populações locais precisa ser ouvida, de acordo com Mário Pantoja, liderança quilombola santarena.

“Os grandes beneficiados com a construção do porto são exatamente os grandes empresários. Não estamos impedindo o progresso, estamos ajudando no desenvolvimento de forma sustentável. Por quê? Porque a gente trabalha com a pesca. Construído o porto, isso aqui vai acabar” alerta.

Essa dinâmica ultrapassada de progresso vai na contramão do que o mundo tem discutido, fato muito bem posicionado pelo ativista ambiental, Padre Guilherme Cardona, ao afirmar que “esse modelo de desenvolvimento está criando cidades insustentáveis, e uma dinâmica que se tem hoje em todo o mundo, é a de como criar cidades sustentáveis para que a população e o desenvolvimento possam caminhar juntos”.
[PICTURE 05] Até quando vai ter peixe na rede? / Photo by Marcos ColónApesar de serem defendidos como obras para desenvolvimento da região, os projetos dos portos atingem nove bairros da cidade, habitados por comunidades tradicionais que se estabeleceram forçadamente na área urbana após uma série de deslocamentos devido à ausência de políticas públicas. A construção do porto, além de não ser aceita, compromete a própria sobrevivência das pessoas. Dona Sebastiana, pescadora no Lago do Maicá, é enfática: “Ninguém concorda com isso [a criação do porto]. Porque a gente precisa do Lago. Porque daqui mais uns tempos você não tem mais o peixe pra pegar, porque isso aqui vai ser aterrado e os peixes vão sumir daqui”. O mesmo questionamento faz o quilombola João Lira. “A pergunta é: por que um porto na área do Maicá? Pra quem vai trazer benefícios? Pro povo da região? Eu creio em nenhum benefício; benefício zero”.

O padre Edilberto Sena acredita ser crucial pensar o futuro da Região Amazônica diante do quadro de ameaças ambientais, sociais e culturais com que a região se depara em face da pressão virulenta do capital externo.

“A disputa pelo território (terra, floresta, rios, subsolo e povos) está cada vez mais agressiva. Nossa região, Oeste do Pará, é um exemplo do que ocorre em toda a Amazônia. São 70 mil hectares de invasão do plantio de soja com intenso uso de agrotóxicos; a invasão de portos graneleiros para exportação de soja do Mato Grosso. Existem 23 portos, construídos e em construção, no rio Tapajós; uma ferrovia de 930 kms de extensão entre Cuiabá e Miritituba; e sete hidroelétricas previstas no rio Tapajós. Por fim a cidade de Santarém, centro de toda essa exploração, está sendo ocupada por prédios de 20 andares que empurram os moradores do centro para periferias, inchando uma cidade que hoje tem 300 mil habitantes”, afirma Sena.

Até quando o poder econômico vai corromper os poderes executivo e legislativo para burlar leis internacionais em prol de uma insignificante parcela de acionistas que não respeita os biomas e povos amazônicos? Até quando a Floresta amazônica ficará a mercê de vereadores, políticos e empresários que formulam leis na calada da noite para prejudicar o social, agredindo comunidades, povos tradicionais e o meio ambiente, com a devastação em prol da monocultura tóxica da soja, com a desculpa de equilibrar a balança comercial nacional?

Certamente Bates e Wallace não aprovariam a decisão tomada pela Câmara de vereadores de Santarém, como bem disse Henry Bates depois de passar 11 anos documentando a beleza dos trópicos: “Fui obrigado, por fim, a concluir que a contemplação da natureza não basta para o coração e mente humanos”. Ou como diria o escritor Brasileiro Euclides da Cunha, ao descrever a região durante sua visita em 1905, “A Amazônia é a última página, ainda a escrever-se, do Gênesis”.

Se depender dos vereadores santarenos, os últimos redutos da biodiversidade mundial ficarão escritos nos registros dos livros de ciências naturais de Bates e Wallace, incorporados nas prateleiras dos livros de história como um passado que não existe mais.

(*) Marcos Colón é Professor Assistente (TA) no Departamento de Português e Espanhol e membro do Center for Culture, History and Environment (CHE) do Nelson Institute for Environmental Studies, da Universidade de Wisconsin-Madison; é também diretor e produtor do documentário Beyond Fordlândia: An Environmental Account of Henry Ford’s Adventure in the Amazon.


Fonte: ENVOLVERDE

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018


A humanidade precisa de um novo salto evolutivo.

Por Dal Marcondes, da Envolverde – 


A busca pelos fósseis de 60 milhões de anos deveria servir para se perceber a insignificância de uma espécie que destrói o próprio habitat em pouco mais de 50 anos – 

Todos os anos, no dia 5 de junho, data em que se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente, as empresas distribuem milhares de releases enaltecendo as próprias qualidades de sustentabilidade, escolas promovem oficinas de reciclagem e políticos posam com criancinhas plantando árvores. É uma beleza só. De repente o mundo fica mais sustentável, só que não! Contudo, as ações e discursos enaltecendo as atitudes sustentáveis servem para mostrar que o problema não é mais a falta de educação ou falta de conhecimento sobre os impactos que os hábitos humanos estão causando sobre o planeta, sobre a biodiversidade, sobre o habitat humano.

Já não há mais tanta gente falando em “salvar o planeta”, porque esse não é o dilema que a humanidade vive, pelo contrário, a Terra sabe se virar sozinha. Ela vem fazendo isso a quatro bilhões de anos e vai continuar girando em torno do Sol por mais quatro ou cinco bilhões de anos. É muito tempo de passado e de futuro. Já a humanidade está aqui a pouco mais de 100 mil anos, tem 10 mil anos de agricultura e pouco mais de 2 mil anos de história escrita. Até o anos de 1800 os impactos da humanidade sobre o planeta eram quase insignificantes, apesar de já terem extinto algumas espécies de animais.

Nesses últimos 200 anos, mais propriamente nos últimos 60 anos, é que a humanidade realmente mostrou suas garras e passou a exigir da Terra muito mais do que ela pode oferecer. A população durante o século 20 saltou de 1,65 bilhão no ano de 1900, para 2,50 bilhões em 1950 e para 6,07 bilhões em 2000. Em 2011 a população humana ultrapassou 7 bilhões de pessoas e a estimativa é de que seremos 9 bilhões em 2050.
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Esse crescimento exponencial da população se reflete, também, na superexploração de recursos naturais e na degradação de ambientes em todo o planeta. O mais impressionante nessa história é que os impactos da humanidade sobre a maior parte dos recursos naturais era muito baixo até o ano de 1950, depois disso o desarranjo dos ecossistemas se tornou praticamente irreversívelcaso os modelos de desenvolvimento e os tradicionais métodos de produção e consumo não sejam drasticamente alterados. O gráfico abaixo mostra como todos os indicadores de uso de recursos naturais e a perda de espécies e biomas estão em um movimento crescente.

Impactos da Humanidade sobre o Planeta

Ref: Ladislau Dowbor.

Educação e conhecimento não bastam

A conversa corrente de que é preciso mais educação e conhecimento para que as pessoas mudem de comportamento em relação ao meio ambiente não é mais o suficiente para uma real transformação ainda a tempo de preservar o habitat humano e de outras milhares de espécies que povoam a Terra.  

Não se trata mais de um desenvolvimento civilizatório, a ciência já tem todos os diagnósticos necessários em relação às mudanças climáticas, à extinção de espécies, a perda de florestas tropicais, o uso de combustíveis fósseis e sobre a maior parte dos Indicadores que apontam para uma tragédia socioambiental de grandes proporções.

Um dado alarmante é que atualmente a população humana é de pouco mais de sete bilhões de pessoas. No entanto, apenas três bilhões tem um padrão de vida que pode ser considerado confortável. Os quatro bilhões e pouco restantes padecem de algum tipo de carência, seja alimentar, de saúde, de educação, de habitação, água, trabalho ou outros direitos considerados universais, mas que não estão universalizados. Ou seja, o atual modelo de desenvolvimento não consegue suprir as necessidades básicas da humanidade como um todo. E não é por falta de informação ou conhecimento que as coisas não funcionam como deveriam.

Empresas e governos estão há anos debatendo quais são os limites de suas ações e procrastinando as possíveis soluções. As conferências realizadas no âmbito das Nações Unidas avançam de forma discreta em diversas frentes, conseguem resolver umas poucas coisas, mas não tem a efetividade necessária para gerar resultados em escala e duradouros. Há registros de resoluções, mas há, também, muitos apontamentos de fracassos. No caso das empresas, as maiores e mais importantes do mundo publicam regularmente seus Relatórios de Sustentabilidade, onde alardeiam suas qualidades e providências por um mundo melhor, mas não abandonam, em sua grande maioria, o tão conhecido “business as usual”, ou seja a maneira usual como fazem negócios e ganham dinheiro.

Hora do salto evolucionário


Há muita resistência a qualquer tipo de mudança nos atuais padrões de produção e consumo da parte privilegiada da humanidade. Muitos alegam que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global irá levar ao uma equalização no desenvolvimento humano, oferecendo a todos a oportunidade de um padrão de vida digno. Ao se avaliar no gráfico acima a evolução do PIB e o crescimento das iniquidades em todos os sentidos, nota-se que não há uma relação entre PIB e justiça social, pelo contrário, aparentemente o crescimento do PIB global tem levado a uma maior concentração de renda e aumento da desigualdade.

O principal problema a ser enfrentado pela humanidade neste século 21 não é o crescimento do PIB, mas sim a desigualdade na partição dos benefícios em uma economia realmente globalizada. Uma globalização que não se atenha ao comércio de bugigangas, mas que oferte bem estar e qualidade de vida para todo o planeta. E isso está muito longe de ser alcançado.
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O desenvolvimento humano não é mais uma questão de educação, conhecimento ou civilização. Esses elementos já estão presentes em todas as organizações, empresas ou governos que realmente importam. Ou seja, as empresas, os bancos, os governos e a mídia sabem exatamente o tamanho de seus impactos negativos sobre o planeta. Não mudam de atitude por serem incapazes de romper uma inércia assassina onde cada qual quer tirar o máximo de vantagem no menor tempo possível como se o mundo fosse, de fato, acabar nos próximos dias.

Bom, o resultado disso é que possivelmente o mundo não acabará nos próximos dias ou anos, mas se tornará um lugar bem mais inóspito e difícil para se viver. A ciência tem alertado, principalmente em relação às mudanças climáticas, que o preço de não se fazer nada para melhorar o perfil ambiental do planeta torna-se muito mais alto a cada dia que passa. Talvez, daqui a alguns anos nem haja mais recursos suficientes para uma reversão.

A humanidade precisa com urgência realizar um novo salto, desta vez não um salto industrial como nos últimos 200 anos, ou um salto civilizatório, como no século 20, ou ainda um salto tecnológico como dos últimos 50 anos, mas um salto evolucionário. É preciso evoluir como espécie ou não terá pela frente os mesmo 10 mil anos que tem de passado. A Terra vai se recuperar da presença humana em bem pouco tempo. Especulações feitas por escritores e arqueólogos apontam que em dois mil anos poucos vestígios restariam da presença humana na Terra depois que ela se for. Um ou outro monumento e, o resto, seria trabalho para arqueólogos de uma espécie futura, que cavaria em busca de vestígio como hoje fazemos buscando dinossauros.

A própria busca pelos fósseis de 60 milhões de anos deveria servir para se perceber a insignificância de uma espécie que destrói o próprio habitat em pouco mais de 50 anos. A mudança do modo de vida da humanidade ainda neste século é necessária para a sua sobrevivência como espécie. Para isso não basta uma transformação, será preciso uma evolução, no melhor princípio darwiniano.


Fonte: ENVOLVERDE

União Europeia decide banir plástico descartável.


Deutsche Welle

Espera-se que a medida, uma vez aprovada pelo Parlamento Europeu e os países-membros, entre em vigor em dois anos. Decisão deve impactar indústria que movimenta 340 bilhões de euros e mudar hábitos dos europeus.

 Um plano de regulamentação da União Europeia (UE) para proibir produtos plásticos descartáveis, como pratos descartáveis e canudos, foi aprovado em Bruxelas nesta quarta-feira (19/12). Espera-se que a medida, uma vez aprovada pelo Parlamento Europeu e os países-membros, entre em vigor em dois anos.
Beba, depois coma Muitas vezes, animais marinhos tentam comer os canudinhos de plástico despejados no oceano. Para proteger o meio ambiente, agora você mesmo pode comer o canudo. A startup alemã Wisefood desenvolveu um canudo comestível feito a partir das sobras da produção de suco de maçã da Alemanha. Também já existem canudos reutilizáveis feitos de metal, bambu ou vidro.

A ministra de Turismo e Sustentabilidade da Áustria, Elisabeth Koestinger, anunciou o acordo político em seu Twitter e descreveu o momento como “um marco nos esforços para reduzir o lixo plástico”. A Áustria detém atualmente a presidência rotativa da União Europeia.

O acordo provisório foi negociado por representantes dos Estados-membros e do Parlamento Europeu. A proibição deve entrar em vigor em dois anos e visa ajudar a conter as quantidades astronômicas de lixo plástico que acabam por poluir o meio ambiente e os oceanos. Inicialmente, a proibição afetará somente objetos para os quais existem alternativas melhores.
Corte o copo Além de proibir o uso privado de produtos plásticos descartáveis, a UE pretende incentivar as cadeias de fast food, cafés e bares a reduzirem o uso de copos de plástico. Meio trilhão de copos plásticos são consumidos a cada ano, a maioria em uma única bebida, para depois poluírem o meio ambiente. Várias empresas agora oferecem alternativas baseadas em plantas.

Em maio, a Comissão Europeia propôs regras em toda a União Europeia para eliminar itens plásticos descartáveis para os quais existem alternativas feitas de outros materiais prontamente disponíveis. Bruxelas propôs também medidas para reduzir o uso de itens como recipientes de plástico para levar comidas de estabelecimentos.

A Comissão Europeia argumentou na época que 80% dos resíduos encontrados nos mares são de plástico. Ela também constatou que pouco menos de um terço dos resíduos plásticos é coletado e reciclado, e a maior parte dos resíduos restantes acaba nos mares e oceanos.
Chega de canudos A União Europeia quer banir canudos e outros itens plásticos descartáveis, que acabam em depósitos de lixo ou em nossos oceanos. Mas para aqueles que simplesmente não conseguem abrir mão dos canudos, há alternativas mais ecológicas.

Devido a sua lenta decomposição, os plásticos representam um problema particular para os oceanos. 

Traços de plásticos podem ser encontrados em espécies como baleias, tartarugas e aves, além de frutos do mar que acabam na cadeia alimentar humana. Segundo dados oficiais sobre 2015, a indústria de plásticos movimenta 340 bilhões de euros e emprega 1,5 milhão de trabalhadores.

Com as medidas, a Comissão Europeia projeta reduzir as emissões de dióxido de carbono em 3,4 milhões de toneladas. Segundo cálculos, danos ambientais no valor de 22 bilhões de euros podem ser evitados até 2030. E os consumidores poderiam economizar até 6,5 bilhões de euros.

A ofensiva de Bruxelas contra a produção de lixo descartável deve atingir também a indústria tabagista, num futuro próximo. Os produtores de cigarros podem ser solicitados a participar do custeio da limpeza e coleta de guimbas de cigarro.

“Quem produz itens descartáveis, como cigarros, terá que assumir maior responsabilidade pelo lixo”, disse a ministra do Meio Ambiente da Alemanha, Svenja Schulze. “Por exemplo, a indústria do tabaco poderia ser envolvida no custo de limpeza de praias ou parques.” (Deutsche Welle).

Chega de canudos A União Europeia quer banir canudos e outros itens plásticos descartáveis, que acabam em depósitos de lixo ou em nossos oceanos. Mas para aqueles que simplesmente não conseguem abrir mão dos canudos, há alternativas mais ecológicas.


Fonte: ENVOLVERDE

Educação ambiental prepara a sociedade para os dilemas do desenvolvimento.

por Bere Adams, da revista Educação Ambiental em Ação – 
Entrevista com Dal Marcondes para a 66ª edição da Revista Virtual Educação Ambiental em Ação.

Apresentação: O entrevistado desta edição é Dal Marcondes, um dos mais importantes jornalistas do país que se dedicam as questões ambientais. Ele tem especialização em economia e em sustentabilidade com foco em economia e negócios. É, também, especialista em Ciência Ambiental pela USP. Atualmente cursa Mestrado Profissional em Jornalismo Digital e Modelos de Negócios em Jornalismo Pós Industrial e participa ativamente de diversas atividades de Militância em Sustentabilidade e Jornalismo. Além disto, é Presidente da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental e Vice-Presidente da Associação Profissão Jornalista. É, ainda, Presidente do Instituto Envolverde e diretor executivo da DAL MARCONDES Consultoria & Comunicação. Será que teremos algo a aprender com ele?
Jornalista Dal Marcondes

Bere Adams – Prezado Dal Marcondes, é uma grande honra tê-lo como o nosso entrevistado. A sua contribuição será ímpar para todos, e certamente poderemos aprender muito a partir da sua vasta experiência. Muito obrigada por aceitar o nosso convite. Normalmente começo as minhas entrevistas perguntado: como o tema meio ambiente entrou em sua vida? Algo aconteceu que despertou o seu interesse? Conta pra gente como foi o seu ingresso nesta temática tão importante e essencial que é meio ambiente.

Dal Marcondes – Minha relação com o meio ambiente é uma paixão antiga. Quando eu era criança meus pais saíram de São Paulo e fomos morar em uma cidade no interior de Goiás. La aprendi a nadar em rio, andar a cavalo, comer fruta no pé. Depois, em 1974 fui para a Amazônia e me embrenhei na floresta, no Pará e no Maranhão. Até então, era uma relação idílica. Quando voltei para São Paulo fui estudar jornalismo, me tornei repórter e editor de economia. Foi quando compreendi que as questões ambientais são essencialmente dilemas econômicos. Todos os problemas socioambientais que enfrentamos no dia a dia têm origem em decisões de caráter estritamente econômico.

Bere Adams – Qual foi o maior desafio de sua jornada pelo jornalismo ambiental?

Dal Marcondes – Montei a Envolverde em 1995 e o site entrou no ar em 8 de janeiro de 1998. Quando contei a alguns amigos que iria largar a grande imprensa para me dedicar ao jornalismo ambiental foi um deboche só. Um amigo me disse que eu estava jogando a minha carreira de jornalista econômico bem sucedido no lixo. Hoje eu acho que tomei a decisão certa, não pelo dinheiro, acho que estaria ganhando mais na grande mídia, mas pela qualidade da minha vida.

Bere Adams – Qual é, para você, a importância da informação ambiental para lidarmos com os desafios ambientais que se apresentam?

Dal Marcondes – Informação, jornalismo independente e de qualidade são fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade, de um país e para a qualidade de vida no planeta. O cuidado que se deve ter é não confundir ser um jornalista ambiental com ser um militante ambiental. O jornalista trabalha com dados, fatos, informações e pluralismo de opiniões. O militante trabalha com causa.

Bere Adams – Temos inúmeros problemas ambientais e não seria possível abordarmos a cada um. Por esta razão, destaco um deles que é de suma importância e se trata de um dos grandes desafios que enfrentamos que é o da falta de saneamento básico, que potencializa a proliferação de doenças, a desigualdade social, a poluição… Como você percebe esta lacuna e como a mídia lida com este assunto?

Dal Marcondes – Nenhum país do mundo desenvolvido chegou lá sem antes resolver as demandas de sua população em água potável e saneamento. Esse é o principal problema a ser abordado pela sociedade brasileira nos próximos anos e os números são assustadores. Menos de 50% do esgoto gerado é coletado, e menos de 25% é tratado. Nossos ecossistemas recebem seis piscinas olímpicas repletas de merda todos os dias. A mídia dá uma atenção marginal a esse assunto. Não contabiliza as milhares de crianças doentes nas filas de postos de saúde sem nenhuma estrutura e não dá ouvido às pessoas que carregam esse subdesenvolvimento nas costas. Apenas quando sai uma nova estatística os indignados de plantão se manifestam. O apartheid brasileiro se define por quem tem e quem não tem água e esgoto. No mundo dos políticos esgoto é “obra enterrada”, não dá voto. Uma mentira que escorrega no tempo e serve de bordão para desviar o dinheiro para bonitezas que chamam a atenção de eleitores com torneira e chuveiro.
Diálogos Capitais, com a participação da Senadora Marina Silva, no teatro TUCA, PUC;

Bere Adams – Fale-nos um pouco sobre como as questões ambientais devem ser enfrentadas.

Dal Marcondes – As questões ambientais devem ser encaradas e tratadas em toda a sua complexidade. Não há simplicidade nas relações ambientais. Os impactos humanos sobre a natureza devem ser continuamente estudados e mitigados e o equilíbrio das ações deve se dar pela resultante da aplicação de ciência e tecnologia sobre serviços ecossistêmicos de forma a garantir o benefício para a sociedade sem impactar negativamente biomas e ecossistemas. Não é simples, mas já temos a ciência e a civilidade necessária. O papel do jornalista nesse cenário é tornar transparente para a sociedade os critérios de cada decisão e seus impactos e resultados.

Bere Adams – Para você, a Educação Ambiental se relaciona com Informação Ambiental?

Dal Marcondes – Sempre! A educação ambiental oferece ao cidadão os instrumentos necessários para entender e agir em um contexto de complexidade e, principalmente, dá os instrumentos necessários para decodificar as informações ambientais para a tomada de decisão. Há que se ter em conta que o analfabeto ambiental passará a vida tomando decisões baseadas em desconhecimento, em incapacidade de cognição com o ambiente. As pessoas que têm acesso a uma educação ambiental de qualidade – e isso á mais do que reciclar lixo ou plantar uma florzinha – terão uma visão de mundo mais integrada e capaz de decodificar a complexidade ambiental em suas decisões pessoais e profissionais.

Bere Adams – Destaque qual projeto você realizou e que considera mais significativo.

Dal Marcondes – Essa é uma pergunta delicada para alguém como eu que tem mais de 40 anos como jornalista. Mas, acho que minha contribuição para o jornalismo ambiental, a criação da Envolverde e o fortalecimento da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental estão entre as coisas que considero um legado profissional. Porém, ainda há muito a ser feito. Neste momento estou estudando modelagem de negócios para o jornalismo digital, porque acredito que nos próximos anos o jornalismo em ecossistema digital terá um papel estrutural para a sociedade. Além disso, as novas plataformas digitais e redes sociais precisam da atuação de jornalistas bem formados e remunerados por projetos capazes de se sustentar. Essa é a parte da minha militância pelo jornalismo.

Bere Adams – Você está a frente da Envolverde, uma das revistas de jornalismo e sustentabilidade mais importantes do Brasil. Conte-nos um pouco sobre a sua trajetória com este informativo tão relevante.

Dal Marcondes – A Envolverde entrou no ar em 8 de janeiro de 1998, há 20 anos, portanto. Um estudo de uma universidade norte-americana identificou a Envolverde como o mais antigo projeto de jornalismo nativo digital em operação no Brasil. São duas décadas de invenções, inovações e reinvenções em todos os sentidos. Tecnologias que mudam com o passar do tempo, formatos de entrega das notícias, pautas, enfim, não há muita rotina. O importante é o esforço cotidiano para manter a relevância dos temas e pautas de nossas reportagens.

Bere Adams – Qual é a contribuição da Envolverde para o desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental?
Dal Marcondes – Acho que a informação que oferecemos cotidianamente tem ajudado muitos educadores ambientais e formular suas ações, estratégias e aulas. E queremos fazer mais, oferecer instrumentos mais adequados para o uso em turmas das mais diversas idades e interesses. Vamos ver se avançamos mais nisso.

Bere Adams – Com tanto tempo trabalhando em veículos de comunicação ambientais, quais avanços você poderia destacar, de forma geral, na área ambiental?

Dal Marcondes – Hoje há muito mais informação sobre temas ambientais do que a 20 anos, quando comecei nessa área. Há mais profissionais de jornalismo que se interessam em obter uma melhor qualificação para tratar do tema meio ambiente, com cursos de especialização e mestrado em ciência ambiental, gestão ambiental, economia ambiental etc. Mesmo os grandes veículos também dão mais atenção ao assunto, a pauta ambiental deixou de ser uma pauta esporádica e tornou-se um assunto de economia. Há profissionais trabalhando em organizações sociais que se especializaram em temas específicos, como clima, água, poluição, Amazônia, Oceanos e muitos outros. Em suma, há mais gente olhando para o meio ambiente.

Bere Adams – Estamos em tempo de mudanças de governo. Resumidamente, quais são as suas expectativas sobre como será tratada a Política Ambiental?

Dal Marcondes – Esse é um tema de muita apreensão. A perspectiva não é boa e por isso os jornalistas e os profissionais da área ambiental em geral devem estar atentos para avaliar e trabalhar sobre a realidade com a velocidade dos acontecimentos. Não dá para pré-julgar, mas também não há um horizonte de otimismo.

Bere – Para finalizar, deixa uma frase, uma ideia que possa servir de inspiração para nossas leitoras e nossos leitores.

Dal Marcondes – Temos grandes desafios em termos de sobrevivência, principalmente neste século. Este será um período decisivo para a história humana, quando temos ciência, tecnologias e conhecimentos para tornar o futuro um bom lugar para se viver. Nossas decisões cotidianas nos dirão como será esse futuro e como irão viver nossos netos e bisnetos.

A humanidade é uma espécie ainda na infância, temos menos de 5 mil anos do início da civilização, 2 mil anos desde o surgimento do cristianismo, pouco mais de 500 anos da invenção da prensa, 200 anos da revolução industrial, pouco mais de 100 anos do automóvel e do avião, 70 anos da televisão, 15 anos dos smartphones… Há espécies na terra que estão aqui há milhões de anos, temos ainda muito a aprender.

Bere – Prezado Dal Marcondes, nós da equipe da revista, agradecemos pela oportunidade de conhecer melhor o seu trabalho, a sua jornada e as peculiaridades que envolvem o jornalismo ambiental. Fica evidente a importância da informação como referencial fundamental para o desenvolvimento de ações de Educação Ambiental que promovam as mudanças de atitudes para um futuro mais sustentável, muito obrigada! Parabéns e desejamos-lhe cada vez mais sucesso!


Fonte: ENVOLVERDE