A humanidade precisa de um novo salto evolutivo.
Por Dal Marcondes, da Envolverde –
A busca pelos fósseis de 60
milhões de anos deveria servir para se perceber a insignificância
de uma espécie que destrói o próprio habitat em pouco mais de 50
anos –
Todos os anos, no dia 5 de junho,
data em que se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente, as empresas
distribuem milhares de releases enaltecendo as próprias qualidades
de sustentabilidade, escolas promovem oficinas de reciclagem e
políticos posam com criancinhas plantando árvores. É uma beleza
só. De repente o mundo fica mais sustentável, só que não!
Contudo, as ações e discursos enaltecendo as atitudes sustentáveis
servem para mostrar que o problema não é mais a falta de educação
ou falta de conhecimento sobre os impactos que os hábitos humanos
estão causando sobre o planeta, sobre a biodiversidade, sobre o
habitat humano.
Já não há mais tanta gente
falando em “salvar o planeta”, porque esse não é o dilema que a
humanidade vive, pelo contrário, a Terra sabe se virar sozinha. Ela
vem fazendo isso a quatro bilhões de anos e vai continuar girando em
torno do Sol por mais quatro ou cinco bilhões de anos. É muito
tempo de passado e de futuro. Já a humanidade está aqui a pouco
mais de 100 mil anos, tem 10 mil anos de agricultura e pouco mais de
2 mil anos de história escrita. Até o anos de 1800 os impactos da
humanidade sobre o planeta eram quase insignificantes, apesar de já
terem extinto algumas espécies de animais.
Nesses últimos 200 anos, mais
propriamente nos últimos 60 anos, é que a humanidade realmente
mostrou suas garras e passou a exigir da Terra muito mais do que ela
pode oferecer. A população durante o século 20 saltou de 1,65
bilhão no ano de 1900, para 2,50 bilhões em 1950 e para 6,07
bilhões em 2000. Em 2011 a população humana ultrapassou 7 bilhões
de pessoas e a estimativa é de que seremos 9 bilhões em 2050.
Esse crescimento exponencial da
população se reflete, também, na superexploração de recursos
naturais e na degradação de ambientes em todo o planeta. O mais
impressionante nessa história é que os impactos da humanidade sobre
a maior parte dos recursos naturais era muito baixo até o ano de
1950, depois disso o desarranjo dos ecossistemas se tornou
praticamente irreversívelcaso os modelos de desenvolvimento e os
tradicionais métodos de produção e consumo não sejam
drasticamente alterados. O gráfico abaixo mostra como todos os
indicadores de uso de recursos naturais e a perda de espécies e
biomas estão em um movimento crescente.
Impactos da Humanidade sobre o Planeta
Ref: Ladislau Dowbor.
Educação e conhecimento não bastam
A conversa corrente de que é
preciso mais educação e conhecimento para que as pessoas mudem de
comportamento em relação ao meio ambiente não é mais o suficiente
para uma real transformação ainda a tempo de preservar o habitat
humano e de outras milhares de espécies que povoam a Terra.
Não se trata mais de um desenvolvimento civilizatório, a ciência
já tem todos os diagnósticos necessários em relação às mudanças
climáticas, à extinção de espécies, a perda de florestas
tropicais, o uso de combustíveis fósseis e sobre a maior parte dos
Indicadores que apontam para uma tragédia socioambiental de grandes
proporções.
Um dado alarmante é que atualmente
a população humana é de pouco mais de sete bilhões de pessoas. No
entanto, apenas três bilhões tem um padrão de vida que pode ser
considerado confortável. Os quatro bilhões e pouco restantes
padecem de algum tipo de carência, seja alimentar, de saúde, de
educação, de habitação, água, trabalho ou outros direitos
considerados universais, mas que não estão universalizados. Ou
seja, o atual modelo de desenvolvimento não consegue suprir as
necessidades básicas da humanidade como um todo. E não é por falta
de informação ou conhecimento que as coisas não funcionam como
deveriam.
Empresas e governos estão há anos
debatendo quais são os limites de suas ações e procrastinando as
possíveis soluções. As conferências realizadas no âmbito das
Nações Unidas avançam de forma discreta em diversas frentes,
conseguem resolver umas poucas coisas, mas não tem a efetividade
necessária para gerar resultados em escala e duradouros. Há
registros de resoluções, mas há, também, muitos apontamentos de
fracassos. No caso das empresas, as maiores e mais importantes do
mundo publicam regularmente seus Relatórios de Sustentabilidade,
onde alardeiam suas qualidades e providências por um mundo melhor,
mas não abandonam, em sua grande maioria, o tão conhecido “business
as usual”, ou seja a maneira usual como fazem negócios e ganham
dinheiro.
Hora do salto evolucionário
Há muita resistência a qualquer
tipo de mudança nos atuais padrões de produção e consumo da parte
privilegiada da humanidade. Muitos alegam que o crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) global irá levar ao uma equalização no
desenvolvimento humano, oferecendo a todos a oportunidade de um
padrão de vida digno. Ao se avaliar no gráfico acima a evolução
do PIB e o crescimento das iniquidades em todos os sentidos, nota-se
que não há uma relação entre PIB e justiça social, pelo
contrário, aparentemente o crescimento do PIB global tem levado a
uma maior concentração de renda e aumento da desigualdade.
O principal problema a ser
enfrentado pela humanidade neste século 21 não é o crescimento do
PIB, mas sim a desigualdade na partição dos benefícios em uma
economia realmente globalizada. Uma globalização que não se atenha
ao comércio de bugigangas, mas que oferte bem estar e qualidade de
vida para todo o planeta. E isso está muito longe de ser alcançado.
O desenvolvimento humano não é
mais uma questão de educação, conhecimento ou civilização. Esses
elementos já estão presentes em todas as organizações, empresas
ou governos que realmente importam. Ou seja, as empresas, os bancos,
os governos e a mídia sabem exatamente o tamanho de seus impactos
negativos sobre o planeta. Não mudam de atitude por serem incapazes
de romper uma inércia assassina onde cada qual quer tirar o máximo
de vantagem no menor tempo possível como se o mundo fosse, de fato,
acabar nos próximos dias.
Bom, o resultado disso é que
possivelmente o mundo não acabará nos próximos dias ou anos, mas
se tornará um lugar bem mais inóspito e difícil para se viver. A
ciência tem alertado, principalmente em relação às mudanças
climáticas, que o preço de não se fazer nada para melhorar o
perfil ambiental do planeta torna-se muito mais alto a cada dia que
passa. Talvez, daqui a alguns anos nem haja mais recursos suficientes
para uma reversão.
A humanidade precisa com urgência
realizar um novo salto, desta vez não um salto industrial como nos
últimos 200 anos, ou um salto civilizatório, como no século 20, ou
ainda um salto tecnológico como dos últimos 50 anos, mas um salto
evolucionário. É preciso evoluir como espécie ou não terá pela
frente os mesmo 10 mil anos que tem de passado. A Terra vai se
recuperar da presença humana em bem pouco tempo. Especulações
feitas por escritores e arqueólogos apontam que em dois mil anos
poucos vestígios restariam da presença humana na Terra depois que
ela se for. Um ou outro monumento e, o resto, seria trabalho para
arqueólogos de uma espécie futura, que cavaria em busca de vestígio
como hoje fazemos buscando dinossauros.
A própria busca pelos fósseis de
60 milhões de anos deveria servir para se perceber a insignificância
de uma espécie que destrói o próprio habitat em pouco mais de 50
anos. A mudança do modo de vida da humanidade ainda neste século é
necessária para a sua sobrevivência como espécie. Para isso não
basta uma transformação, será preciso uma evolução, no melhor
princípio darwiniano.
Fonte: ENVOLVERDE
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