quinta-feira, 27 de dezembro de 2018


Pesquisa identifica áreas para restaurar a Mata Atlântica com custo-benefício oito vezes maior.

Mata Atlântica – Estudo publicado na revista Nature Ecology & Evolution apresenta algoritmo inédito que combina conservação da biodiversidade, mitigação de mudanças climáticas e redução de custos,

Por Kellen Leal

Uma pesquisa inédita desenvolveu um algoritmo capaz de identificar as áreas prioritárias da Mata Atlântica a serem restauradas combinando três fatores essenciais: conservação da biodiversidade, mitigação de mudanças climáticas e redução de custos. A equipe liderada pelo professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) Bernardo Strassburg, apresentou ferramenta baseada em Programação Linear (PL) que aponta um conjunto de cenários possíveis de recuperação florestal em escala nacional. O algoritmo desenvolvido alcança a solução considerada ótima, que tem desempenho 33% melhor em relação às obtidas pelas ferramentas disponíveis, que se baseiam em aproximações matemáticas.

“A diferença que isso faz para a Mata Atlântica é enorme: são 450 milhões de toneladas de gás carbônico (CO2) a menos na atmosfera, 308 espécies menos extintas e 4 bilhões de dólares de redução de custos”, afirma Strassburg, que é diretor do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS) e coordenador do Centro de Ciências da Conservação e Sustentabilidade do Rio (CSRio). A pesquisa foi desenvolvida por 25 pesquisadores do Brasil, Estados Unidos, Austrália, Reino Unido, Suécia e Polônia, e mapeou 362 soluções para recuperação florestal com um custo-benefício oito vezes maior do que aquelas obtidas por métodos usuais.

Strassburg participou do desenvolvimento do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa, instituído em 2017, que determinou que o Brasil deve restaurar, em 20 anos, 12 milhões de hectares de floresta, sendo 5 milhões de Mata Atlântica – o equivalente a 4% desse bioma. “Onde promover essa restauração faz uma grande diferença”, afirma o economista e cientista ambiental. Por isso, o grupo buscou desenvolver uma metodologia para entender em quais áreas a recuperação traria um melhor custo-benefício. “Essa ferramenta deveria ter uma abordagem flexível que integrasse múltiplos critérios – não apenas a conservação da biodiversidade, a mitigação das mudanças climáticas ou a redução de custos. Queríamos um algoritmo que fizesse os três ao mesmo tempo”.

Estima-se que, hoje, restam apenas de 22 a 28% da Mata Atlântica original. Por isso, definir onde serão recuperados os 5 milhões de hectares desse bioma requer uma estratégia cautelosa. As 362 soluções ótimas encontradas são diversas e decidir qual é a melhor depende dos objetivos. Em um dos melhores cenários, cada um dos três fatores – conservação da biodiversidade, mitigação das mudanças climáticas e custos – têm um desempenho de cerca de 94%, 90% e 80%, respectivamente. 

“Mas definir se é melhor ter um desempenho de 94% para conservação e 90% para redução de CO2 na atmosfera ou o contrário, isso se trata de uma escolha da sociedade”, destaca Strassburg.

Pela legislação, cada propriedade deve ter, no mínimo, 20% de vegetação de Mata Atlântica, e as que estiverem abaixo da meta devem fazer a restauração – não necessariamente na sua própria terra, pois a lei permite que o produtor pague por essa recuperação em outros locais. “O pior cenário encontrado na análise é cada proprietário restaurar a vegetação em seu terreno, em pequenos projetos pulverizados. Sai mais caro e é pior para a biodiversidade e para o clima. Por isso, é importante considerar a inteligência espacial trazida pelas soluções do algoritmo”.

A descoberta inédita foi publicada esta semana em um artigo na renomada revista Nature Ecology & Evolution. Os mapas produzidos serão utilizados como instrumento para a definição de áreas prioritárias para restauração pelo Ministério do Meio Ambiente e a metodologia está sendo replicada para outros biomas e países.

SOBRE O IIS

O Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) é uma organização independente com sede no Rio de Janeiro que desenvolve pesquisa, projetos e ferramentas voltadas à compreensão da relação entre o homem e demais elementos da natureza e implementação de políticas públicas.
Área de Mata Atlântica, em Teresópolis/RJ, antes da restauração. Foto: Divulgação


Área de Mata Atlântica, em Teresópolis/RJ,depois da restauração. Foto: Divulgação
Referência:
Strategic approaches to restoring ecosystems can triple conservation gains and halve costs
Bernardo B. N. Strassburg, Hawthorne L. Beyer, Renato Crouzeilles, Alvaro Iribarrem, Felipe Barros, Marinez Ferreira de Siqueira, Andrea Sánchez-Tapia, Andrew Balmford, Jerônimo Boelsums Barreto Sansevero, Pedro Henrique Santin Brancalion, Eben North Broadbent, Robin L. Chazdon, Ary Oliveira Filho, Toby A. Gardner, Ascelin Gordon, Agnieszka Latawiec, Rafael Loyola, Jean Paul Metzger, Morena Mills, Hugh P. Possingham, Ricardo Ribeiro Rodrigues, Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza, Fabio Rubio Scarano, Leandro Tambosi & Maria Uriarte Nature Ecology & Evolution volume 3, pages62–70 (2019)
DOI https://doi.org/10.1038/s41559-018-0743-8


Fonte: EcoDebate

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