COP 24: Estamos trocando a realidade pela ficção.
Por Reinaldo Canto, especial
para Envolverde
Quanto mais são as razões para
agirmos com urgência no combate às mudanças climáticas mais
absurdos contribuem para impedir seu avanço.
Desde a Conferência Climática de
Copenhague, a COP 15 em 2009, muito se discutiu e passo a passo foi
se chegando ao consenso do perigo representado pelas mudanças
climáticas até se chegar ao Acordo de Paris estabelecido em 2015. O
documento contou com a chancela de 195 países e tudo fazia crer que
entraríamos num processo sério e efetivo no combate ao aquecimento
global.
Eis que nacionalismos limítrofes
comandados pelo governo norte-americano de Trump passou a questionar
o acordo e até mesmo a existência irrefutável do aquecimento do
planeta.
Agora se junta a ele o governo
brasileiro do presidente eleito Jair Bolsonaro em que muitos
classificam as mudanças climáticas como sendo um complô do
marxismo globalista.
Assim como o presidente americano
disse não acreditar no relatório preparado pelo seu próprio
governo quanto aos perigos das mudanças climáticas para a economia
e a segurança dos Estados Unidos, nossas novas lideranças tem feito
a incrível troca da ciência e dos fatos pelas opiniões e crenças.
Portanto, nada mais natural do que o novo governo ter contribuído
para cancelar a realização da COP 25 no Brasil em 2019. Sem dúvida,
uma maneira de manter a coerência de um pensamento incoerente,
ignorante e perigoso para a humanidade, mas que faz todo o sentido
pelo andar da carruagem.
Não é à toa que desde a semana
passada em Katowice, na Polônia palco da COP 24 estar registrando
alguns dissabores para os que trabalham pelo sério e responsável
enfrentamento das mudanças climáticas.
O Renascimento do Carvão
Eis que Estados Unidos e a Arábia
Saudita usaram Conferência Climática na Polônia para elogiar e
reforçar o uso do carvão como, vejam bem, “fonte limpa de
energia”, um verdadeiro escárnio às informações que cada vez
mais colocam os combustíveis fósseis como os grandes vilões do
aquecimento global.
O relatório divulgado em outubro
pelo IPCC – sigla em inglês para Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas – concluiu que será necessário reduzir em
50% as emissões de gases de efeito estufa até 2030 tendo como base
as emissões de 2010 com o objetivo de conter o aumento da
temperatura média do planeta. Mesmo assim durante a COP na Polônia,
Estados Unidos, Arábia Saudita, Rússia e Kuwait tem feito oposição
à aprovação do relatório que precisa da assinatura de todos os
países participantes da cúpula.
Apesar das severas críticas que tem
sido feitas a esses grandes emissores, não parece muito provável
que eles mudem de posição.
Mesmo diante de tragédias causadas
pelos fenômenos climáticos extremos, uma das terríveis
consequências do aquecimento global e da opinião de cientistas e
especialistas da própria Casa Branca, Trump não parece capaz de
alterar sua crença. Seria muito engraçado se não fosse trágico,
uma ironia feita pelo ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, ao
dizer que “O governo Trump continua promovendo o carvão em uma
cúpula sobre o clima da ONU. O que vai fazer depois? Ignorar a
ciência sobre o tabaco e promovê-lo em uma conferência mundial
sobre o câncer?”, bem diante dos absurdos que temos visto é
melhor não duvidar.
Assim como nos Estados Unidos, o
Brasil, país com a maior biodiversidade e floresta tropical do
mundo, as opiniões e crenças passam agora a prevalecer sobre a
ciência e os fatos. Afinal, parece mais confortável para os líderes
desses países “achar” alguma coisa do que discutir com seriedade
temas mais complexos.
Desse modo as teorias conspiratórias
imaginadas por esses líderes colocam em risco o futuro do planeta e
de todos nós que aqui vivemos. Se mesmo com todos de acordo o
caminho não se mostrava muito fácil, o obscurantismo torna tudo
mais difícil e incerto. Que o céu nos ajude!!
Fonte: ENVOLVERDE
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