sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A necessidade urgente de incrementar o controle biológico de pragas, artigo de Roberto Naime.
Nesta figura, é apresentada parte de uma teia artificial em plantas de pepino em casas de vegetação, na Holanda, onde o controle biológico é aplicado. A teia alimentar é formada pela planta, duas espécies de pragas, o tripes Frankliniella occidentalis e o ácaro-rajado Tetranychus urticae e os inimigos naturais utilizados para controlá-lo. Os inimigos naturais do tripes são o ácaro predador Neoseiulus cucumeris e o predador generalista Orius laevigatus. Os Phytoseiulus persimilis e o N. californicus são usados para controlar o ácaro-rajado. Fonte da imagem e texto: Controle biológico de pragas e seu uso em cultivos protegidos, Autoria de Angelo Pallini, Universidade Federal de Viçosa.

Ninguém é irresponsável ou doido de propor que o país passe de um dia para o outro de um apurado ainda que impactante controle químico de pragas para um controle estritamente biológico.

Mas é óbvio que é necessário avançar no incremento ao controle biológico pois os sistemas puramente químicos, além de muito impactantes dão sinais inequívocos de esgotamento tanto pelos impactos ambientais como pelos custos financeiros.

Controlar biologicamente pragas agrícolas visa a redução de prejuízos econômicos através de ações selecionadas após os sistemas vitais tanto dos predadores como das pragas terem sido compreendidos e as conseqüências ecológicas, bem como as econômicas, destas ações tenham sido previstas de forma rigorosa, para o melhor interesse da sociedade (Paulo Moretti em http://www.fam.br/microrganismos/map_cbpa.htm).

O controle biológico pode ser definido como quaisquer atividades envolvendo a manipulação de inimigos naturais tais como predadores, parasitas ou patógenos para reduzir ou suprimir uma população animal ou vegetal que represente uma praga para uma lavoura de qualquer tipo.

Um programa completo de controle biológico cobre uma ampla gama de atividades, desde a simples conservação de inimigos naturais através de criteriosa seleção de um pesticida que lhes seja menos tóxico até a liberação deliberada ou introdução de inimigos naturais.

O controle biológico é o uso de um organismo especialmente escolhido para controlar um outro que represente uma praga. É uma forma de manipular a natureza para obtenção de um efeito desejado. O controle biológico pode reduzir o uso de pesticidas na medida que suprime pragas agrícolas.

Atualmente o uso descontrolado de herbicidas, pesticidas e fungicidas polui o meio físico, principalmente os solos e as águas superficiais ou subterrâneas. Ao atingir a ictiofauna (peixes) muitas vezes está eliminando os predadores naturais dos insetos, pois os peixes muitas vezes se alimentam das larvas de insetos, impedindo sua proliferação descontrolada e danosa para o convívio humano.

Todos tem conhecimento intuitivo da verdadeira praga que hoje representam os insetos em nosso cotidiano. As causas talvez estejam nestes desequilíbrios ecológicos discutidos.

O uso de venenos químicos atinge muitas vezes os pássaros, insetos, minhocas, formigas, microflora e microfauna de uma região, com um impacto ambiental que normalmente nem é medido ou considerado. E estes são elementos fundamentais dos ecossistemas que definem as paisagens ou os geobiossistemas próprios de cada região e que representam biomas de valor intangível.

A incorporação total ou parcial dos produtos químicos pelas plantas que depois servirão de matérias primas para indústrias de alimentos também traz prejuízos para a qualidade de vida das populações. Não tem sido praticada a mensuração da extensão e da profundidade destas interferências.

Não se imagina que se possa substituir este tipo de agronegócio da noite para o dia sem drásticas conseqüências sobre a economia. Mas que é hora de pensar em atitudes planejadas, que incrementem cada vez mais soluções biológicas no controle de pragas vegetais ou animais, não existe a menor dúvida.

Já existem muitas pragas controladas por métodos biológicos. E são necessários programas cada vez mais intensos e planejados para aumentar a participação do controle biológico nas plantações.

É muito melhor fazer esta alteração de forma planejada e sistêmica do que ter que administrar situações de relativa ruptura que podem advir dos descontroles ambientais causados pelo uso indiscriminado de controles químicos de pragas.

Em geral não existem estudos definitivos sobre a transgenia, ou o uso de organismos geneticamente modificados. Mas a princípio estas tecnologias são interessantes, na medida em que reduzem as aplicações de defensivos agrícolas, embora não existam estudos definitivos sobre os impactos ambientais que possam causar.

A grande polêmica que se estabelece atrás da transgenia guarda na maioria das vezes interesses econômicos muito elevados, cuja extensão e profundidade não podemos avaliar. Mas que são capazes de interferir em todas as discussões, por mais que se busque uma postura cientificista e independente.

Não se deve perder a concepção de que toda e qualquer interferência antrópica sobre o meio ambiente não visa apenas lucrar. Objetiva antes de tudo permitir as melhores condições de qualidade de vida para todas as populações atingidas.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.


Fonte: EcoDebate

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