A necessidade urgente de
incrementar o controle biológico de pragas, artigo de Roberto Naime.
Ninguém é irresponsável ou doido de propor que o
país passe de um dia para o outro de um apurado ainda que impactante controle
químico de pragas para um controle estritamente biológico.
Mas é óbvio que é necessário avançar no
incremento ao controle biológico pois os sistemas puramente químicos, além de
muito impactantes dão sinais inequívocos de esgotamento tanto pelos impactos
ambientais como pelos custos financeiros.
Controlar biologicamente pragas agrícolas visa a
redução de prejuízos econômicos através de ações selecionadas após os sistemas
vitais tanto dos predadores como das pragas terem sido compreendidos e as
conseqüências ecológicas, bem como as econômicas, destas ações tenham sido
previstas de forma rigorosa, para o melhor interesse da sociedade (Paulo
Moretti em http://www.fam.br/microrganismos/map_cbpa.htm).
O controle biológico pode ser definido como
quaisquer atividades envolvendo a manipulação de inimigos naturais tais como
predadores, parasitas ou patógenos para reduzir ou suprimir uma população
animal ou vegetal que represente uma praga para uma lavoura de qualquer tipo.
Um programa completo de controle biológico cobre
uma ampla gama de atividades, desde a simples conservação de inimigos naturais
através de criteriosa seleção de um pesticida que lhes seja menos tóxico até a
liberação deliberada ou introdução de inimigos naturais.
O controle biológico é o uso de um organismo
especialmente escolhido para controlar um outro que represente uma praga. É uma
forma de manipular a natureza para obtenção de um efeito desejado. O controle
biológico pode reduzir o uso de pesticidas na medida que suprime pragas
agrícolas.
Atualmente o uso descontrolado de herbicidas,
pesticidas e fungicidas polui o meio físico, principalmente os solos e as águas
superficiais ou subterrâneas. Ao atingir a ictiofauna (peixes) muitas vezes
está eliminando os predadores naturais dos insetos, pois os peixes muitas vezes
se alimentam das larvas de insetos, impedindo sua proliferação descontrolada e
danosa para o convívio humano.
Todos tem conhecimento intuitivo da verdadeira praga
que hoje representam os insetos em nosso cotidiano. As causas talvez estejam
nestes desequilíbrios ecológicos discutidos.
O uso de venenos químicos atinge muitas vezes os
pássaros, insetos, minhocas, formigas, microflora e microfauna de uma região,
com um impacto ambiental que normalmente nem é medido ou considerado. E estes
são elementos fundamentais dos ecossistemas que definem as paisagens ou os
geobiossistemas próprios de cada região e que representam biomas de valor
intangível.
A incorporação total ou parcial dos produtos
químicos pelas plantas que depois servirão de matérias primas para indústrias
de alimentos também traz prejuízos para a qualidade de vida das populações. Não
tem sido praticada a mensuração da extensão e da profundidade destas interferências.
Não se imagina que se possa substituir este tipo
de agronegócio da noite para o dia sem drásticas conseqüências sobre a
economia. Mas que é hora de pensar em atitudes planejadas, que incrementem cada
vez mais soluções biológicas no controle de pragas vegetais ou animais, não
existe a menor dúvida.
Já existem muitas pragas controladas por métodos
biológicos. E são necessários programas cada vez mais intensos e planejados
para aumentar a participação do controle biológico nas plantações.
É muito melhor fazer esta alteração de forma
planejada e sistêmica do que ter que administrar situações de relativa ruptura
que podem advir dos descontroles ambientais causados pelo uso indiscriminado de
controles químicos de pragas.
Em geral não existem estudos definitivos sobre a
transgenia, ou o uso de organismos geneticamente modificados. Mas a princípio
estas tecnologias são interessantes, na medida em que reduzem as aplicações de
defensivos agrícolas, embora não existam estudos definitivos sobre os impactos ambientais
que possam causar.
A grande polêmica que se estabelece atrás da
transgenia guarda na maioria das vezes interesses econômicos muito elevados,
cuja extensão e profundidade não podemos avaliar. Mas que são capazes de
interferir em todas as discussões, por mais que se busque uma postura
cientificista e independente.
Não se deve perder a concepção de que toda e
qualquer interferência antrópica sobre o meio ambiente não visa apenas lucrar.
Objetiva antes de tudo permitir as melhores condições de qualidade de vida para
todas as populações atingidas.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor
em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em
Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Fonte: EcoDebate
Nenhum comentário:
Postar um comentário