Brasil tem 508 escolas rurais sem
infraestrutura, diz o estudo ‘Escolas Esquecidas’.
No Brasil, 508 escolas rurais não têm condições
de infraestrutura, têm baixa taxa de aprovação e muitos alunos abandonam os
estudos. Nessas escolas não há sequer água filtrada. É o que mostra o estudo Escolas
Esquecidas, divulgado esta semana pelo Instituto CNA, ligado à Confederação
da Agricultura e Pecuária do Brasil, que mapeou esses centros de ensino.
A maioria está nas regiões Norte e Nordeste e é de difícil acesso.
O estudo utiliza os dados do Censo Escolar de
2012 e revela instituições que não têm biblioteca, computador, TV, antena
parabólica, videocassete, DVD, água filtrada, saneamento básico ou
eletricidade. Quase 40% dos estudantes repetiram de ano e 23% abandonaram
os estudos. Nas demais escolas do país, a taxa de aprovação passa dos 83%, e o
abandono chega a 3,8% no ensino fundamental e a 10,2% no ensino médio.
A maior parte dessas escolas está na Região
Norte: 209 no estado do Pará e 202 no Amazonas. As demais escolas estão no Acre
(36), no Maranhão (22), na Bahia (12) em Roraima (11), em Pernambuco (6), no
Amapá (4), no Mato Grosso (3), no Piauí (2) e em Rondônia (1). Do total, 184
estão em terras indígenas, 44 em áreas de assentamento, oito em áreas
remanescentes de quilombos e uma em unidade de uso sustentável. Grande parte é
municipal.
São Gabriel da Cachoeira, município do Amazonas
que faz fronteira com a Venezuela e a Colômbia, concentra 67 escolas rurais sem
condições mínimas de infraestrutura, o maior número encontrado no estudo. “A
zona rural é muito distante da zona urbana. Há locais em que é preciso uma semana
para chegar, é preciso ir de rapeta pelos rios, passar por cachoeiras”, explica
a assessora da Secretaria de Educação do município, Socorro Borges. “As escolas
estão nessa situação pela dificuldade de levar material e porque não temos
muito recurso.”
O município encontra também dificuldades em levar
os alimentos da merenda escolar para os centros de ensino, que atendem, com
exceção de dois, à populações indígenas. Socorro explica que eles contrataram
uma empresa para fazer o transporte e que têm que levar alimentos enlatados, em
vez de orgânicos, para que durem mais tempo.
Chaves, no Pará, tem 17 escolas que aparecem no
relatório. “Essas escolas são de madeira, estão perto das margens dos rios,
algumas estão interditadas porque a erosão chegou nelas”, diz o secretário de
Educação do município, Edgar Quadros. A cidade fica às margens do Rio Amazonas
e é frequentemente atingida pela pororoca – grandes e violentas ondas que
são formadas a partir do encontro das águas do mar com as águas do rio. “Muitas
vezes comunidades inteiras têm que se mudar por causa de alagamentos e a escola
vai junto.”
Segundo ele, das quase 100 escolas do município,
97 estão em zona rural. O secretário disse que já solicitou ao Ministério da
Educação (MEC) ajuda para construir 43 escolas, 31 estão em processo
licitatório. Também há problema em fixar os docentes. “Poucos são das
comunidades. Geralmente são de fora, vêm de cidades próximas, de Belém, e ficam
nas comunidades por temporadas”, diz o secretário.
De acordo com o levantamento, as escolas sem
infraestrutura representam 0,7% do total de escolas públicas rurais no país
que, em 2012, somavam 75,7 mil centros de ensino.
“O estudo é um alerta para o meio rural,
especialmente para aquelas escolas que chamamos de esquecidas. Através dessa
metodologia chegamos a 508, mas sabemos que outras escolas estão ali no limite,
se houvesse uma flexibilização nos critérios, haveria um número maior de
escolas [sem as condições mínimas de infraestrutura]”, diz o secretário
executivo do Instituto CNA, Og Arão.
Segundo ele, as escolas rurais são muito
importantes para a formação das comunidades do campo e são também um incentivo
para que as famílias permaneçam na área rural. “Sem uma escola de qualidade não
consigo formar, levar conhecimento e inovação, manter essas pessoas no campo”,
acrescenta Arão.
O MEC diz que desde 2012, com o Pronacampo, tem
intensificado ações voltadas para as escolas rurais, enviando recursos aos
estados e municípios e às próprias escolas. Além disso, também desde 2012,
reúne-se com 80 municípios, que são os que concentram a maior parte das escolas
rurais, buscando uma gestão mais próxima, discutindo formação de professores,
possibilidades de financiamento e de apoio às escolas do campo.
Segundo a secretária de Educação Continuada,
Alfabetização, Diversidade e Inclusão, Macaé Evaristo, 46% das escolas
apontadas no estudo estão em municípios que fazem parte desse grupo.
“Nenhuma
criança nesse país pode ficar sem atendimento escolar. No campo é preciso
atenção redobrada, independentemente do lugar que a criança nasceu, tem que ter
acesso à educação e educação de qualidade”, diz a secretária.
Fonte: Agência Brasil
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