Neonicotinoides, pesticidas que
matam abelhas, também afetam aves, alerta estudo.
Já suspeitos de matar abelhas, os chamados
pesticidas neonicotinoides – ou neônicos – também afetam populações de
aves, possivelmente eliminando os insetos dos quais se alimentam, revelou um
estudo publicado na Holanda esta quarta-feira. Matéria da AFP,
no UOL Notícias.
O novo artigo é publicado depois que um painel
internacional de 29 especialistas revelou que aves, borboletas, minhocas e
peixes estavam sendo afetados por inseticidas neonicotinoides, embora detalhes
desse impacto sejam incompletos.
Estudando regiões na Holanda onde a água
superficial tinha altas concentrações de uma substância química chamada
imidacloprida, descobriu-se que a população de 15 espécies de aves caiu 3,5%
anualmente em comparação com lugares onde o nível do pesticida era muito menor.
A queda, monitorada de 2003 a 2010, coincidiu com
o aumento do uso da imidacloprida, destacou o estudo conduzido por Caspar
Hallmann, da Universidade Radboud, em Nijmegen.
Autorizado na Holanda em 1994, o uso anual deste
neonicotinoide aumentou mais de nove vezes em 2004, segundo cifras oficiais.
Descobriu-se que grande parte deste produto químico foi disperso em
concentrações excessivas.
Ao acabar com os insetos – uma fonte de alimento
crucial na época da reprodução -, ele afetou a capacidade das aves de procriar,
sugeriram os autores, alertando que outras causas não poderiam ser excluídas.
Nove das 15 espécies de aves monitoradas eram
exclusivamente insetívoras.
“Nossos resultados sugerem que o impacto dos
neonicotinoides no ambiente natural é inclusive mais substancial do que foi
reportado no passado”, revelou a pesquisa, publicada na revista “Nature”.
“No futuro, a legislação deveria levar em conta
os efeitos em cascata potenciais dos neonicotinoides nos ecossistemas”,
acrescentou.
Também chamados de neônicos, estes pesticidas são
amplamente usados no tratamento de sementes para cultivos aráveis. Eles são
projetados para serem absorvidos pela muda em crescimento e são tóxicos para o
sistema nervoso central de pestes devoradoras de plantios.
Em um comentário publicado na “Nature”, o biólogo
Dave Goulson, da Universidade de Sussex, na Grã-Bretanha, disse que os
neonicotinoides podem ter um impacto de longo prazo nas populações de insetos.
Cerca de 5% do ingrediente ativo do pesticida é
absorvido pelo cultivo, afirmou.
A maior parte do restante entra no solo e na água
subterrânea, onde pode persistir por meses, ou até anos. Diminuir à metade as
concentrações pode levar mais de mil dias.
Como resultado, as substâncias químicas se
acumulam, sendo os campos aspergidos sazonal, ou anualmente, afirmou.
Gordon disse que o processo é similar ao do DDT,
um pesticida conhecido, cujos danos ao meio ambiente vieram à tona em 1962,
graças à pesquisa de Rachel Carson, que resultou no livro “Primavera
Silenciosa”.
A discussão sobre os neônicos tem aumentado desde
o final dos anos 1990, quando os apicultores franceses culparam-nos pelo
colapso das colônias de abelhas melíferas.
Em 2013, a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar
(EFSA, na sigla em inglês) declarou que os pesticidas neônicos representavam um
“risco inaceitável” para as abelhas.
A isto se seguiu um voto da União Europeia a
favor de uma moratória de dois anos ao uso de três substâncias químicas
neonicotinoides amplamente utilizadas nos cultivos de flores, que são visitados
pelas abelhas.
Mas a medida não afeta a cevada e o trigo, nem
afeta pesticidas usados em jardins e em áreas públicas.
No mês passado, a Casa Branca determinou que a
Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos faça
sua própria revisão sobre os efeitos dos neonicotinoides nas abelhas.
Fonte: UOL Notícias
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