Quanto custa preservar a Mata
Atlântica.
por Maria
Guimarães, da Agência Fapesp
Juntas, Ecologia e Economia mostram que menos de
0,01% do PIB anual do Brasil pode ser suficiente para preservar funcionalidades
essenciais do ecossistema. Foto: Thomas Püttker.
Revista Pesquisa Fapesp – Pagar taxas para que
proprietários em zonas rurais preservem uma porção maior de terras do que é
obrigatório por lei parece ser uma forma viável de evitar a perda de serviços
prestados pela Mata Atlântica, como impedir a disseminação de pragas e garantir
a qualidade das águas.
É o que indica um estudo publicado na edição da semana de 29 de
agosto da revista Science, liderado pela bióloga brasileira Cristina
Banks-Leite, professora do Imperial College de Londres, na Inglaterra, e
professora visitante na Universidade de São Paulo (USP).
“O pagamento por serviços ambientais está em
andamento no Brasil”, conta a pesquisadora. Mas isso costuma acontecer em escala
mais local, por iniciativa de organizações não governamentais (ONGs) e de
municípios. Sua proposta é ampliar essa iniciativa para a escala nacional, em
que o governo faria um programa para selecionar áreas prioritárias e propor
pagamentos aos proprietários.
Não sairia caro: de acordo com o estudo, o
investimento para se atingir 30% de cobertura vegetal em 37 mil áreas
prioritárias ao longo de toda a Mata Atlântica custaria, por ano, cerca de R$
445 milhões. Isso representa menos de 0,01% do PIB anual brasileiro, ou 6,5% do
que é pago em subsídios agrícolas.
Segundo os pesquisadores, a área extra alocada à
floresta causaria um prejuízo pequeno à produtividade (0,61% do PIB agrícola
produzido nesses municípios) e nem afetaria, de fato, os ganhos dos agricultores,
já que estariam recebendo pagamento por seu empenho na manutenção do
ecossistema, com o benefício de assegurar a preservação desse hotspot de
biodiversidade em que muitas espécies estão em risco de extinção.
Os números partem de projetos de longo prazo dos
biólogos Jean Paul Metzger e Renata Pardini, da USP, que
avaliaram os efeitos da fragmentação da Mata Atlântica paulista na diversidade
de anfíbios, aves e mamíferos.
O estudo de uma das áreas foi o doutorado de
Cristina, concluído em 2009 sob orientação de Metzger. Os resultados indicam
que é preciso preservar pelo menos 30% da floresta para que seja mantida a
integridade das comunidades de vertebrados essenciais ao funcionamento do
ecossistema.
O Código Florestal exige que a vegetação nativa
seja mantida em 20% de cada propriedade, de maneira que seria necessário
ampliar essa área sem utilização agropecuária por meio de pagamentos.
Segundo Cristina, uma das perguntas iniciais do projeto
era avaliar o mínimo de mata necessária para manter a floresta. “Até agora
ninguém tinha conseguido um resultado consistente”, afirma a pesquisadora. Para
se aprofundar nas análises ecológicas, ela sentiu falta de mais conhecimento
matemático e está cursando uma graduação a distância na área, pela Open
University. Com essa visão, ela trouxe o olhar econômico para o artigo
publicado na Science.
A partir dos dados sobre a fauna de vertebrados
residente no Estado de São Paulo, os pesquisadores ampliaram a estimativa para
a Mata Atlântica inteira seguindo princípios ancorados na realidade. “Não
podemos delimitar uma porção da avenida Paulista e dizer que ali precisa ser
floresta”, brinca Cristina. A piada é séria; afinal, as maiores cidades
brasileiras foram erguidas em plena Mata Atlântica.
As 37 mil áreas prioritárias selecionadas pelo
grupo são, na verdade, propriedades rurais em que os donos já seguem a lei e
mantêm 20% da área preservada. “Já há uma certa quantidade de animais e plantas
vivendo ali, de maneira que a recuperação seria mais simples.”
De acordo com a conta feita pelo grupo, seria
necessário restaurar 424 mil hectares para chegar ao objetivo de 30% de
cobertura nessas áreas. A proporção do PIB que estimam ser o custo, menos de
0,01%, vale só para os primeiros três anos, quando parte da floresta precisaria
passar por medidas de recuperação ativa. Depois disso, o custo deveria cair
para 0,0026% do PIB.
Essa é uma visão de conservação mais voltada à
prática, que se concentra em evitar que se percam serviços ecossistêmicos que
de fato melhoram a vida das pessoas que moram no entorno. “Não tem a ver com a
perda de espécies: algumas vão ser perdidas, outras, mais generalistas,
aparecerão”, diz Cristina. Ela acredita que o trabalho seja um primeiro passo
importante no sentido de pôr em prática a sua proposta.
“Existe agora um interesse do Ministério do Meio
Ambiente, além das secretarias correspondentes em alguns estados e de ONGs, mas
faltava ter um valor e dizer quanto e onde preservar.” Segundo ela, o dinheiro
existe, o momento é propício e os contatos que o grupo tem no governo indicam
que a iniciativa é viável.
Fonte: Agência
Fapesp
Nenhum comentário:
Postar um comentário