Brasil precisa ter sistema de
monitoramento a longo prazo sobre mudanças climáticas, diz secretário do MCTI.
Para Carlos Nobre, é
central o país ter um conhecimento muito apurado do impacto das mudanças
climáticas sobre a economia, a sociedade e o ambiente. O tema está sendo
debatido em workshop em Brasília.
Crédito: Ascom/MCTI
O secretário de Políticas e Programas de Pesquisa
e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (Seped/MCTI),
Carlos Nobre, abriu nesta terça-feira (16) o workshop internacional Desafios
para o Monitoramento e a Observação dos Impactos de Mudanças Climáticas, na
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em
Brasília.
Ação do projeto Diálogos Setoriais entre
Brasil e União Europeia, com organização do MCTI e apoio da Embaixada
Britânica, o encontro segue até amanhã (17), em busca de identificar desafios e
elaborar recomendações para observar impactos de mudanças climáticas, além de
induzir a formação de uma rede de pesquisadores e gestores que possa
compartilhar conhecimento e contribuir para a estruturação de um sistema brasileiro
de monitoramento.
“Consideramos central para o planejamento e as
estratégias de desenvolvimento sustentável do Brasil nós termos um conhecimento
muito apurado sobre como as mudanças climáticas estão impactando e irão
impactar a economia, a sociedade e o ambiente, com ênfase na nossa imensa
biodiversidade”, afirmou Nobre. “Nesse sentido, o MCTI, já há alguns anos,
começou um projeto, com fundos brasileiros, para desenvolver um conceito, uma
ideia, um programa, para monitorar e observar esses impactos”.
Antecipação
Na visão do secretário, estruturar um sistema
seria o passo seguinte a iniciativas como a Rede Brasileira de Pesquisas sobre
Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima), estabelecida em 2008, após a publicação do 4º
Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na
sigla em inglês).
“A Rede Clima tem produzido uma série de
resultados, muitos deles na direção de entender impactos”, disse Nobre. “A
decorrência desse incipiente e novo conhecimento é ensejar o desenho de um
sistema de longo prazo, de décadas de monitoramento, que nos permita nos
anteciparmos, para que a sociedade não seja tomada de surpresa quando impactos
de fato estiverem ocorrendo.”
O secretário lembrou que o 4º Relatório do IPCC
apontou concentração na Europa, nos Estados Unidos e no Japão dos sítios
observacionais com estudos de impactos das mudanças climáticas, com raros
exemplos na América Latina.
“A situação mudou um pouco para melhor no 5º
Relatório, divulgado neste ano, mas nenhum dos sítios apresentados
localiza-se no Brasil”, comparou. “Isso já chamou a atenção, porque não temos
observações sistêmicas de longo período sobre os impactos nos mais diversos
setores de atividades econômicas”.
Para atingir o objetivo de contribuir para o
futuro sistema, segundo Nobre, o workshop trouxe especialistas brasileiros e
estrangeiros de diversos setores, como agricultura, biodiversidade, ecologia,
energia, recursos hídricos, oceanos, saúde e zonas costeiras: “A discussão é
muito relevante para o Brasil, porque grande parte do produto econômico do país
tem a ver com recursos naturais”.
Origem
Nobre associou a complexidade do sistema à
existência de vários motivos desencadeadores de mudanças climáticas. Ele citou
três exemplos aplicados ao cenário nacional, divididos por origem
antropogênica, local e global.
O primeiro caso diz respeito às savanas tropicais
do Brasil Central, onde tradicionalmente há aumento considerável de incêndios
de vegetação por ação humana de agosto a outubro, período de seca nessas
regiões.
“Isso perturba muito o ambiente biológico do
Cerrado, ou seja, os impactos são muito grandes na biodiversidade, mas a fumaça
das queimadas também gera um grande problema de saúde pública”, alertou.
De acordo com o secretário, as chuvas na cidade
de São Paulo estão entre 30% a 35% maiores, mais volumosas e mais intensas do
que 100 anos atrás. “Essa é, principalmente, uma mudança climática de origem
local, uma ilha urbana de calor, um impacto da urbanização”, explicou. “O atual
cenário agrava a questão dos desastres naturais em uma região por onde
transitam 20 milhões de pessoas”.
Acerca da origem global, Nobre cita o 5º
Relatório do IPCC, publicado em 2013 e 2014. “O documento sugere, com forte
embasamento científico, que a alternância de secas e inundações na Amazônia na
última década já seria um resultado das mudanças climáticas globais”, disse.
“Particularmente na região da floresta, nós já estamos vendo como detectar,
medir e enxergar impactos, como desenhar sistemas que possam de forma
precursora sinalizar grandes alterações, de modo que se permita ao setor
público, e também aos setores econômicos, se precaverem e adotarem políticas de
adaptação”.
Intercâmbio
Presente na abertura do workshop, a secretária de
Gestão Pública do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), Ana
Lúcia Amorim, abordou o projeto Diálogos Setoriais, gerido pela pasta, que
apoia a realização de estudos nas mais diversas áreas temáticas.
O diplomata português Rui Ludovino, diretor da
Delegação da União Europeia no Brasil, lembrou que, desde 2007, o país é
parceiro estratégico da Europa. “Temos um acordo de cooperação assinado entre
as duas partes que engloba inúmeras áreas, da econômica à tecnológica, da
ambiental à social”, observou.
Na opinião da diretora de Ciência e Inovação da
Embaixada Britânica, Caroline Cowan, o Brasil inova ao propor a criação de uma
rede de monitoramento e observação. “Até agora, não temos no mundo um sistema
assim. Vamos ver como podemos trabalhar juntos para estabelecê-lo. Em adaptação
a mudanças climáticas, já atuamos bastante com a União Europeia e o Brasil”.
Os debates do workshop devem gerar um documento
de recomendações. Entre os palestrantes, estão pesquisadores dos institutos
nacionais de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCTI) e de Pesquisas da Amazônia
(Inpa/MCTI), do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI/MCTI) e
do Centro Comum de Pesquisa da Comissão Europeia (JRC, na sigla em inglês).
Fonte: MCTI
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