Pesquisadores vão mapear castanhais nativos e caracterizar sistemas de produção extrativista da castanha-do-brasil.
Castanheira nas redondezas de Marabá. Foto:
Wikipedia
Bela e imponente, a castanheira-do-brasil
(Bertholletia excelsa) é uma das árvores-símbolo da Amazônia, e tem merecido
atenção especial da pesquisa devido à sua importância social, ecológica e
econômica. Com o objetivo de conhecer melhor diversos aspectos relacionados à
castanheira e ao seu ambiente natural, um grupo de pesquisadores está iniciando
um projeto audacioso, que pretende mapear e modelar a ocorrência de castanhais
nativos da Amazônia brasileira, por meio de geotecnologias, e caracterizar as
relações sociais e econômicas de sistemas de produção, a fim de contribuir para
o fortalecimento da cadeia de valor da castanha-do-brasil.
O projeto conta com nome e apelido: Mapeamento de
Castanhais Nativos e Caracterização Socioambiental e Econômica de Sistema de
Produção de Castanha-do-Brasil na Amazônia ou, simplesmente, MapCast. O trabalho
contempla atividades em seis Estados da região norte – Acre, Amapá, Amazonas,
Pará, Roraima e Rondônia – e em um do centro-oeste, o Mato Grosso. Atualmente
não existe um mapa geral da ocorrência da castanheira na Amazônia brasileira e
os estudos sobre a distribuição espacial dos castanhais podem ser cruciais para
a definição de estratégias de manejo e conservação da espécie.
Mas a tarefa não é fácil. Devido à grande
diversidade florística existente nas florestas tropicais, um dos desafios
principais dos pesquisadores é realizar a identificação das castanheiras no
ambiente natural, onde podem estar acompanhadas de uma multiplicidade de até
300 espécies por hectare. Para isso, o projeto prevê a utilização de dados
oriundos de tecnologias digitais modernas, como sensores remotos de alta
resolução e tecnologia de laser scanner.
Os pesquisadores também pretendem responder de
que forma fatores como o clima, solo, diversidade e topografia, dentre outros,
podem influenciar a ocorrência e abundância das castanheiras e a produção de
frutos.
Caracterização socioambiental e econômica
Um dos objetivos do MapCast é realizar a
caracterização socioambiental e econômica de sistemas de produção da
castanha-do-brasil. Para isso, os pesquisadores vão buscar conhecer melhor alguns
dos atores que compõem a cadeia produtiva, colhendo informações importantes
desde a produção até a comercialização do produto. Hoje, mais de 55 mil pessoas
têm seu sustento baseado no extrativismo da castanha, o que gera a necessidade
de conhecimentos sobre os diferentes tipos de organização social das
comunidades extrativistas e de suas relações com as áreas onde são coletadas as
castanhas. Outra ação importante do projeto é definir quais são os principais
fatores formadores do preço do produto nas regiões estudadas.
De acordo com a pesquisadora da Embrapa Amazônia
Ocidental (Manaus/AM), líder do projeto, Kátia Emídio, o trabalho terá a
duração de 48 meses, e as informações coletadas durante o período serão
importantes para o avanço do conhecimento sobre a castanheira. “Em especial nos
aspectos relacionados ao seu ambiente natural de ocorrência, os principais
sistemas de produção extrativista atualmente existentes, sendo os mesmos
fundamentais para a adaptação e recomendação de práticas de manejo adequadas às
particularidades das regiões da Amazônia, e o fortalecimento da cadeia de valor
da castanha-do-brasil”, destacou.
Instituições participantes
O projeto MapCast, desenvolvido em rede com um
grupo multidisciplinar de pesquisadores, é liderado pela Embrapa Amazônia
Ocidental, Unidade descentralizada da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária. A equipe conta com representantes de outras Unidades da empresa,
como a Embrapa Agrossilvipastoril (Mato Grosso), Embrapa Amapá, Embrapa Acre,
Embrapa Amazônia Oriental (Pará), e Embrapa Roraima, além de outras
instituições, como o Instituto Chico Mendes, Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico,
Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas
(Idam), Universidade Federal do Acre, Universidade Federal de Viçosa,
Universidade de Brasília e Universidade Federal do Amapá. O MapCast integra o
Arranjo de projetos da Embrapa intitulado “Tecnologias para o fortalecimento da
cadeia de valor da castanha-do-brasil – TechCast”, que objetiva trabalhar
aspectos ligados à conservação, manejo, comunicação e oportunidades de mercado,
visando a melhoria na eficiência produtiva da castanha e o desenvolvimento
social e econômico da Amazônia.
Castanheira-do-brasil
A castanheira-do-brasil ocorre em terras altas de
toda a Bacia Amazônica. Além do aproveitamento dos frutos, a árvore tem aptidão
madeireira, mas só pode ser explorada dessa forma em plantios, já que integra a
lista do Ibama como espécie vulnerável. Em seu ambiente natural, as
castanheiras atingem até 50 metros de altura, sendo uma das espécies mais altas
da Amazônia. O fruto da castanheira (ouriço) tem o tamanho aproximado de um
coco e pode pesar cerca de dois quilos. Possui casca muito dura, e abriga entre
oito e 24 sementes, que são as apreciadas castanhas-do-brasil. Caso não sejam
consumidas, as sementes demoram de 12 a 18 meses para germinar. Muitas delas
são plantadas por cutias, que comem algumas das sementes e enterram as outras
para comer mais tarde. As sementes esquecidas brotarão da terra para começar um
período de vida da castanheira que pode chegar a até 500 anos.
Por Felipe Rosa, Embrapa Amazônia
Ocidental.
Fonte: EcoDebate
Nenhum comentário:
Postar um comentário