Bacia Amazônica é responsável por
4 a 5% das emissões de metano no mundo.
por Júlio
Bernardes, da Agência USP
Foto: Divulgação/Internet
Metano da Amazônia vem de rebanhos e queima de
biomassa.
A bacia amazônica é responsável por 4% a 5% das
emissões de metano (CH4) — um dos gases do efeito estufa — em todo o mundo. O
dado faz parte de pesquisa do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares
(Ipen), entidade associada à USP, que determinou a emissão de metano entre os
anos de 2010 e 2013, a partir da coleta de amostras de ar em quatro pontos da
região, feita em aviões de pequeno porte. O trabalho da bióloga Luana
Santamaria Basso aponta também que o manejo de rebanhos é responsável por 19%,
em média, das emissões estimadas para cada um dos locais de estudo, enquanto a
queima de biomassa contribui com 8% a 10% da emissão estimada para a área da
amazônia brasileira.
O estudo, descrito em tese de doutorado apresentada
no Ipen, fez parte de um grande projeto de pesquisa que tem como objetivo
entender e determinar as emissões dos principais gases do efeito estufa da
Amazônia. “Foram realizadas coletas em quatro localidades distribuídas na
Amazônia Brasileira, formando um grande quadrante representando toda a Bacia,
próximos às cidades de Santarém (Pará), Alta Floresta (Mato Grosso), Rio Branco
(Acre) e Tabatinga (Amazonas)”, conta Luana. “Os estudos procuram observar como
a amazônia contribui e quais são os processos que interferem nestas emissões,
de modo a compreender como a região pode responder às futuras alterações
climáticas”. O trabalho foi orientado pela professora Luciana Vanni Gatti,
coordenadora do projeto no Laboratório de Química Atmosférica (LQA) do Ipen.
Na pesquisa foram realizados perfis verticais para
as coletas de ar, utilizando aviões de pequeno porte, desde aproximadamente 300
metros (m) da superficie até 4,4 quilômetros (km), nos quatro locais de estudo
na amazônia. “Foram realizados quatro anos de medidas continuas em escala
regional, quinzenalmente, totalizando 293 perfis verticais realizados”, conta a
pesquisadora. “Os perfis verticais são realizados tendo como base um plano de
voo, preparado previamente, que indica para o piloto a localização e em quais
altitudes devem ser feitas as coletas”.
A coleta tem inicio no ponto mais alto e desce em
uma trajetória helicoidal de aproximadamente 5 km de diâmetro. “Os quatro anos
de estudo mostraram que a Amazônia atua como uma importante fonte de metano,
com uma emissão de 25,4 Teragramas (Tg) por ano”, aponta Luana. “Isso
representa de 4% a 5% da emissão global, considerando a área da amazônia brasileira,
que é de 4,2 milhões de quilômetros quadrados”.
Origem Antrópica
“Atualmente existem poucos estudos realizados sobre
a emissão de metano na Amazônia”, diz a pesquisadora. Para estimar algumas
contribuições de atividades humanas nas emissões observadas na pesquisa,
realizou-se alguns estudos complementares. “Hoje, cerca de 60% das emissões
globais de metano são de origem antrópica, ou seja, relacionada com atividades
humanas, como por exemplo a criação de rebanhos de animais que emitem metano a
partir da fermentação entérica, as queimadas, o cultivo de arroz, entre
outras”.
O monóxido de carbono (CO), que foi quantificado na
mesma amostra de ar coletada nos locais estudados, foi usado para estimar qual
a contribuição da queima de biomassa nas emissões de metano. “Os resultados
mostraram que a queima representara entre 8% e 10% da emissão total estimada
para a amazônia brasileira”, ressalta Luana. Também foi realizada uma
estimativa das emissões provenientes da fermentação entérica e do manejo dos
dejetos dos rebanhos de animais ruminantes. “Elas representam em média 19% da
emissão de metano estimada para cada local estudado”.
Durante os quatro anos do estudo, foi possível
observar uma variação anual das emissões, indicando uma relação com as
variações climáticas, como por exemplo a variação da precipitação e de
temperatura. “Os resultados obtidos ressaltam a importância da realização de
estudos de longa duração, durante períodos de dez anos, por exemplo”, afirma a
pesquisadora. “A comparação destes resultados com dados de temperatura,
precipitação, número de focos de queimada, dentre outros, ajudarão a obter um
melhor entendimento das fontes de metano e também da variabilidade em suas
emissões ao longo dos anos, que atualmente não é completamente compreendida”.
Segundo Luana, os perfis de avião mostram a
resultante de todos os processos que ocorreram desde a costa brasileira até o
local da coleta, mostrando a região Amazônica como um todo, mas não permitem
entender exatamente todas as fontes, sumidouros e os fatores que influenciam
nestes processos. “Para isto são necessários estudos complementares que mostrem
mais detalhadamente o funcionamento de cada compartimento da floresta, por
exemplo das áreas alagáveis, dos rios, etc”, aponta. “Os resultados mostraram variações
anuais nas emissões, porém é necessário mais tempo de estudo, em torno de dez
anos, para poder considerar estas variações e observar uma tendência de aumento
ao longo dos anos”.
Fonte: Agência USP
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