Brasileiros completam
levantamento inédito de peixes em montanhas submarinas.
por
Redação da SOS Mata Atlântica
O estudo, publicado semana passada na revista
científica PLoS ONE, traz o maior levantamento de peixes jamais realizado nas
montanhas submarinas do Atlântico Sul. Ao comemorar o avanço no conhecimento,
os pesquisadores também expressam preocupação com a conservação desse
ecossistema ímpar.
Foram quase duas décadas de pesquisas na Cadeia
Vitória-Trindade, mais conhecida por abrigar em seu extremo leste o complexo
insular de Trindade e Martin-Vaz, distante 1.200 quilômetros de Vitória, no
Espírito Santo. O projeto envolveu 22 pesquisadores de 12 universidades
brasileiras e uma norte-americana, tendo contado com apoio do Ministério da
Ciência Tecnologia e Inovação, do Ministério da Educação e da Marinha do
Brasil. Para explorar essa vasta e remota região foram realizados mergulhos com
uso de misturas gasosas e utilizados robôs submarinos munidos de câmeras, além
de barcos pesqueiros da frota comercial. Nada menos que 211 espécies de peixes
foram registradas no topo das 10 principais montanhas submarinas, que se
alinham desde o continente até as ilhas. O entorno das ilhas também foi
pesquisado e revelou 173 espécies. O principal produto desse enorme esforço é
um catálogo fartamente ilustrado e documentado, disponível para download no site da PLoS ONE. O líder
do estudo, Hudson Pinheiro, doutorando na Universidade da Califórnia, ressaltou
que 191 espécies representam novos registros para a Cadeia Vitória-Trindade.
“Agora compreendemos melhor os processos evolutivos que resultaram em espécies
endêmicas nas ilhas e nas montanhas submarinas. Em função de apresentarem topos
relativamente rasos, as montanhas funcionam como trampolins para as espécies ao
longo de vastas extensões de oceano aberto”, declarou Pinheiro.
Conhecer a topografia e os ecossistemas, de forma a
garantir sua exploração racional, são premissas centrais da Convenção das
Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM). A Convenção, da qual o Brasil é
signatário, assegura a Zona Econômica Exclusiva de 200 milhas. Em 2004 o Brasil
apresentou uma proposta de expansão da Plataforma
Continental Jurídica à Comissão sobre Limites da CNUDM, para além
das 200 milhas, na Foz do Amazonas e na região sul. O pleito brasileiro
também incluiu alguns montes da Cadeia Vitória-Trindade, mas foi devolvido para
que o país adequasse a proposta e a justificativa. Segundo Rodrigo Moura,
professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e co-autor do estudo, “os
resultados das pesquisas agregam valor ao pleito brasileiro”. Segundo o
pesquisador, “trata-se de uma contribuição que demonstra, internacionalmente, a
soberania do Brasil no conhecimento sobre a biodiversidade da região”.
Apesar das boas notícias, o Monte Davis, uma das
áreas cuja jurisdição ainda não está plenamente estabelecida, tem sido explorado para a produção de
fertilizantes. O entendimento dos pesquisadores é que dragar um
recife riquíssimo e com espécies únicas para produzir fertilizantes é
completamente irracional. “Não podemos repetir os graves erros cometidos na
ocupação da Amazônia na chamada ‘Amazônia Azul’.
Ocupar não precisa ser
sinônimo de destruir”, afirma Moura. “A utilização sustentável da
biodiversidade marinha, através da pesca controlada e da biotecnologia, é um
caminho muito mais racional”, completa o pesquisador.
A criação de uma Reserva da Biosfera Marinha na
Cadeia Vitória-Trindade foi recentemente proposta à UNESCO (Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). Por outro lado, o processo
de criação de áreas de proteção, que deveria ser mais ágil, está estagnado no
Ministério do Meio Ambiente desde 2012. Além da mineração, a pesca excessiva em
todos os montes submarinos e nas ilhas preocupa os autores do estudo, que já
reportam risco de extinção e declínio de várias espécies de peixes.
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Fonte: SOS Mata Atlântica
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