Estudo aponta que 70% das
florestas remanescentes do planeta correm risco.
por
Redação do IPÊ
Pesquisa global conta com a participação de
pesquisador da organização brasileira IPÊ, Clinton Jenkins, e foi publicada na
revista Science Advances.
23/03/2015 – Que as florestas de todo o mundo estão
em declínio e a perda de biodiversidade é constante, isso não é novidade. Mas
um extenso estudo global recém-publicado sobre a fragmentação florestal no
mundo constatou, a partir de um mapa de alta resolução, que 70% das florestas
existentes na Terra estão sob grande ameaça por estarem posicionadas em áreas
vulneráveis que ameaçam a sua proteção. A pesquisa foi divulgada no último dia
20, pela revista Science Advances.
O estudo tem 24 autores de vários países, que
acompanharam os resultados de 35 anos de pesquisa de sete grandes experimentos
sobre fragmentação de habitats, realizados em biomas dos cinco continentes. A
análise originou o primeiro mapa global em alta resolução que aponta onde estão
esses remanescentes florestais e como eles estão sofrendo com os efeitos da
fragmentação.
Os pesquisadores afirmam que a maior parte das
áreas florestais que ainda existem no mundo possuem uma característica comum:
localizam-se, em média, a um quilômetro da borda da floresta, dentro de uma
faixa onde existem as atividades humanas e ameaças naturais que podem
influenciar e degradar esses ecossistemas. Outra conclusão dos autores do
estudo é a de que os habitats fragmentados têm reduzido a diversidade de
plantas e animais de 13 a 75 por cento e os efeitos mais negativos se encontram
nos menores e mais isolados fragmentos de habitat.
As análises foram lideradas por Nick Haddad, da
Universidade Estadual da Carolina do Norte (EUA), que conta com a participação
do pesquisador americano Clinton Jenkins que, no Brasil, atua como pesquisador
do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas. Segundo Jenkins, o Brasil vive os
dois extremos, com uma floresta bastante conservada, a Amazônia, e uma que está
em vias de desaparecer, a Mata Atlântica.
“O Brasil detém dois dos exemplos mais extremos
para as florestas. De um lado do país, a Amazônia, a maior floresta tropical e
a menos fragmentada do mundo, um bioma que ainda pode ser considerado bem
conservado, mas que vive sob grande ameaça. Do outro lado do país é a Mata
Atlântica, uma das florestas mais devastadas e fragmentadas do planeta, que,
para sobrevier, precisa salvar suas pequenas partes e tentar reconstruir um
ecossistema maciçamente danificado. O que vemos, entretanto, é que a Amazônia
está seguindo o mesmo caminho da Mata Atlântica, caso não houver medidas
eficazes de combate ao desmatamento”, afirma Jenkins, que é também professor
convidado pela ESCAS – Escola Superior de Conservação Ambiental e
Sustentabilidade, no Brasil.
Abrangendo diversos tipos de ecossistemas, das
florestas de savanas a pastagens, as experiências de fragmentação agrupadas e
analisadas no estudo mostram uma tendência desanimadora: a fragmentação causa
perdas de plantas e animais, muda a forma como funcionam os ecossistemas, reduz
as quantidades de nutrientes acumulados e a quantidade de carbono sequestrado,
e tem outros efeitos prejudiciais.
“Os efeitos iniciais foram negativamente
surpreendentes”, diz Haddad. “Mas eu fiquei admirado com o fato de que esses
efeitos negativos tornam-se ainda mais negativos com o passar do tempo. Alguns
resultados mostraram uma redução de 50 por cento ou mais de espécies vegetais e
animais durante uma média de apenas 20 anos, por exemplo. E a trajetória ainda
é uma espiral descendente”, alerta. O pesquisador ainda afirma que a
fragmentação de habitats tem efeitos nocivos que também irão prejudicar as
pessoas. “Este estudo é uma chamada para acordarmos para o quanto estamos
afetando ecossistemas – incluindo áreas que pensamos estarem conservadas”, diz.
Os autores apontam para possíveis formas de mitigar
os efeitos negativos da fragmentação: conservação e manutenção de áreas maiores
de habitat; utilização de corredores paisagem que conectam fragmentos; e
aumento da eficiência da agricultura para reduzir as demandas por mais terras.
São medidas urgentes de conservação e restauração para melhorar a conectividade
da paisagem, o que reduzirá as taxas de extinção e ajudarão a manter os
serviços ecossistêmicos.
“Nós sabemos o que é necessário para recuperar os
ecossistemas se tivermos essa chance. Proteger habitats remanescentes e
conectá-los com corredores é uma maneira cientificamente válida para reduzir os
efeitos negativos da fragmentação”, conclui Jenkins. (IPÊ/ #Envolverde).
Para acessar o estudo clique aqui.
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