quarta-feira, 11 de março de 2015

Agricultura e pecuária ecoeficientes para produtores nicaraguenses.
por Kwesi Atta-Krtah e Reynaldo Bismarck Mendoza*
Uma jornada no campo, dedicada a compartilhar informação com agricultores no norte da Nicarágua. Foto: Lucía Giatán/CGIAR.

Manágua, Nicarágua, 9/3/2015 – Para Roberto Pineda, um pequeno produtor da municipalidade de Somotillo, no noroeste da Nicarágua, sua prática tradicional depois de cada colheita consistia em cortar e queimar todos os resíduos de cultivos em sua terra, um método conhecido como agricultura de “corte e queima”.

Essa prática, comum nas ladeiras subúmidas da América Central, traz muitas implicações ambientais negativas, entre elas a redução da qualidade do solo, erosão, lixiviação de nutrientes e perda da diversidade do ecossistema. O sistema de corte e queima dá aos agricultores um tempo limitado de utilização da terra de apenas um a três anos, antes que esta fique degradada e precise ser abandonada.

“Cortávamos rente ao chão e (se ficava algo) colocávamos fogo. O terreno ficava destruído e não o melhorávamos”, contou Pineda. Há aproximadamente três anos, ele e um grupo de agricultores se envolveram em um programa de agroreflorestamento liderado por organizações institucionais, incluindo o Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat) e sócios nicaraguenses, norte-americanos, austríacos e colombianos.

O programa trabalha diretamente com agricultores para realçar a ecoeficiência de suas paisagens naturais, ajudando-os a introduzir opções de cultivos e forragens adaptadas às suas condições e a melhorar a produtividade e rentabilidade de seus cultivos e de suas práticas de pecuária. Isso ajuda os pequenos produtores a melhorar os ecossistemas locais e também a adaptarem-se a condições climáticas extremas e proteger a fertilidade do solo e a produção de alimentos no longo prazo.

“Fizemos uma mudança. Antes produzíamos dez quintais (cem quilos cada um) por manzana (área equivalente a 0,7 hectare) e agora produzimos entre 30 e 40 quintais por manzana. Melhoramos nossos recursos naturais e cresceram árvores. Antes não tínhamos árvores e não chovia”, destacou Pineda.

O programa oferece a produtores como Pineda uma opção biologicamente complexa de fácil estabelecimento, combinando os conhecimentos tradicionais com novas percepções sobre o manejo sustentável da terra para manter a produtividade dos cultivos por muitos anos. Os produtores são incentivados a plantar árvores em suas terras para estabilizar as ladeiras e minimizar a erosão do solo. 

Elas também capturam dióxido de carbono, fixam nitrogênio no solo e mobilizam nutrientes essenciais para os cultivos, como fósforo e potássio, desde as camadas mais profundas do solo.

As árvores são podadas regularmente e os restos são colocados ao redor dos cultivos para atuar como adubo nutritivo, que fornece nutrientes e retém a umidade para dar proteção durante as secas, enquanto reduz a lixiviação de nutrientes. O restante de nutrientes necessários é fornecido com o uso ecoeficiente de fertilizantes químicos.

O resultado geral é um sistema agrícola mais produtivo e resistente que suporta as condições climáticas cada vez mais variantes da América Central, desde longos períodos de seca até chuva intensa, a fim de melhorar a renda e a segurança alimentar das famílias rurais. Isto é de particular importância na medida em que as condições climáticas se tornam mais imprevisíveis em razão da mudança climática.

Por exemplo, ao longo de um período de três anos, o rendimento de cultivos básicos como milho, feijão e sorgo aumentou, os agricultores obtiveram rendas secundárias com a venda de madeira de sobra, e na maioria das áreas a perda de solo se transformou em um acúmulo de solo de até 40 toneladas por hectare, como resultado dos novos métodos introduzidos.

O projeto começou a implantar suas atividades com 16 famílias agricultoras no norte da Nicarágua. 

Na medida em que os testes tiveram sucesso, o sistema foi disseminado para aproximadamente 300 produtores da área por intermédio de Escolas de Campo e visitas monitoradas.

Programas como este são bons exemplos da nova abordagem holística para a pesquisa agrícola proposta pelo Humidtropics, que observa o sistema em sua totalidade – desde a propriedade até a paisagem, a zona agroecológica e a região – a fim de compreender como estes componentes interagem entre si e manejar da melhor maneira as sinergias, os intercâmbios e a integridade do ecossistema dentro do qual são realizadas as atividades produtivas.

Os produtores e suas comunidades são um eixo central nessa abordagem de pesquisa, incluindo a exploração de funções e oportunidades específicas para mulheres, homens e jovens, com o enfoque principal em melhorar sua capacidade de remuneração.

No longo prazo, esse programa tem o potencial de chegar a dez mil pequenos produtores para ajudá-los a potencializar sua produtividade por meio da intensificação sustentável de seus recursos limitados. Além disso, os métodos podem ser divulgados por meio de emissoras de rádio comunitárias e redes locais de televisão para chegarem a mais de 20 mil famílias rurais na região.

* Kwesi Atta-Krah é diretor do Programa de Pesquisa do Grupo Consultivo de Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR) sobre Sistemas Integrados para o Trópico Úmido (Humidtropics). Reynaldo Bismarck Mendoza é cientista de solos da Universidade Nacional Agrária da Nicarágua.


Fonte: ENVOLVERDE

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