Agricultura e pecuária
ecoeficientes para produtores nicaraguenses.
por Kwesi
Atta-Krtah e Reynaldo Bismarck Mendoza*
Uma jornada no campo, dedicada a compartilhar
informação com agricultores no norte da Nicarágua. Foto: Lucía Giatán/CGIAR.
Manágua, Nicarágua, 9/3/2015 – Para Roberto Pineda,
um pequeno produtor da municipalidade de Somotillo, no noroeste da Nicarágua,
sua prática tradicional depois de cada colheita consistia em cortar e queimar
todos os resíduos de cultivos em sua terra, um método conhecido como
agricultura de “corte e queima”.
Essa prática, comum nas ladeiras subúmidas da
América Central, traz muitas implicações ambientais negativas, entre elas a
redução da qualidade do solo, erosão, lixiviação de nutrientes e perda da
diversidade do ecossistema. O sistema de corte e queima dá aos agricultores um
tempo limitado de utilização da terra de apenas um a três anos, antes que esta
fique degradada e precise ser abandonada.
“Cortávamos rente ao chão e (se ficava algo)
colocávamos fogo. O terreno ficava destruído e não o melhorávamos”, contou Pineda.
Há aproximadamente três anos, ele e um grupo de agricultores se envolveram em
um programa de agroreflorestamento liderado por organizações institucionais,
incluindo o Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat) e sócios
nicaraguenses, norte-americanos, austríacos e colombianos.
O programa trabalha diretamente com agricultores
para realçar a ecoeficiência de suas paisagens naturais, ajudando-os a
introduzir opções de cultivos e forragens adaptadas às suas condições e a
melhorar a produtividade e rentabilidade de seus cultivos e de suas práticas de
pecuária. Isso ajuda os pequenos produtores a melhorar os ecossistemas locais e
também a adaptarem-se a condições climáticas extremas e proteger a fertilidade
do solo e a produção de alimentos no longo prazo.
“Fizemos uma mudança. Antes produzíamos dez
quintais (cem quilos cada um) por manzana (área equivalente a 0,7 hectare) e
agora produzimos entre 30 e 40 quintais por manzana. Melhoramos nossos recursos
naturais e cresceram árvores. Antes não tínhamos árvores e não chovia”,
destacou Pineda.
O programa oferece a produtores como Pineda uma
opção biologicamente complexa de fácil estabelecimento, combinando os
conhecimentos tradicionais com novas percepções sobre o manejo sustentável da
terra para manter a produtividade dos cultivos por muitos anos. Os produtores
são incentivados a plantar árvores em suas terras para estabilizar as ladeiras
e minimizar a erosão do solo.
Elas também capturam dióxido de carbono, fixam
nitrogênio no solo e mobilizam nutrientes essenciais para os cultivos, como
fósforo e potássio, desde as camadas mais profundas do solo.
As árvores são podadas regularmente e os restos são
colocados ao redor dos cultivos para atuar como adubo nutritivo, que fornece
nutrientes e retém a umidade para dar proteção durante as secas, enquanto reduz
a lixiviação de nutrientes. O restante de nutrientes necessários é fornecido
com o uso ecoeficiente de fertilizantes químicos.
O resultado geral é um sistema agrícola mais
produtivo e resistente que suporta as condições climáticas cada vez mais
variantes da América Central, desde longos períodos de seca até chuva intensa,
a fim de melhorar a renda e a segurança alimentar das famílias rurais. Isto é
de particular importância na medida em que as condições climáticas se tornam
mais imprevisíveis em razão da mudança climática.
Por exemplo, ao longo de um período de três anos, o
rendimento de cultivos básicos como milho, feijão e sorgo aumentou, os
agricultores obtiveram rendas secundárias com a venda de madeira de sobra, e na
maioria das áreas a perda de solo se transformou em um acúmulo de solo de até
40 toneladas por hectare, como resultado dos novos métodos introduzidos.
O projeto começou a implantar suas atividades com
16 famílias agricultoras no norte da Nicarágua.
Na medida em que os testes
tiveram sucesso, o sistema foi disseminado para aproximadamente 300 produtores
da área por intermédio de Escolas de Campo e visitas monitoradas.
Programas como este são bons exemplos da nova
abordagem holística para a pesquisa agrícola proposta pelo Humidtropics, que
observa o sistema em sua totalidade – desde a propriedade até a paisagem, a
zona agroecológica e a região – a fim de compreender como estes componentes
interagem entre si e manejar da melhor maneira as sinergias, os intercâmbios e
a integridade do ecossistema dentro do qual são realizadas as atividades
produtivas.
Os produtores e suas comunidades são um eixo
central nessa abordagem de pesquisa, incluindo a exploração de funções e
oportunidades específicas para mulheres, homens e jovens, com o enfoque
principal em melhorar sua capacidade de remuneração.
No longo prazo, esse programa tem o potencial de
chegar a dez mil pequenos produtores para ajudá-los a potencializar sua
produtividade por meio da intensificação sustentável de seus recursos
limitados. Além disso, os métodos podem ser divulgados por meio de emissoras de
rádio comunitárias e redes locais de televisão para chegarem a mais de 20 mil
famílias rurais na região.
* Kwesi Atta-Krah é diretor do Programa de
Pesquisa do Grupo Consultivo de Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR) sobre
Sistemas Integrados para o Trópico Úmido (Humidtropics). Reynaldo Bismarck
Mendoza é cientista de solos da Universidade Nacional Agrária da Nicarágua.
Fonte: ENVOLVERDE
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