Unidades de conservação ajudam a
preservar recursos hídricos.
por
Luciene de Assis, do MMA
Água da chuva chega mais rápido aos cursos d’água e
ao mar. Paulo de Araújo/MMA.
Criar e manter unidades de conservação (UCs) da
natureza nas áreas urbanas pode ser uma resposta para a falta de água. A
escassez está associada a vários fatores, como a carência de planejamento dos
assentamentos urbanos, os equívocos no manejo do uso do mineral, a utilização
de equipamentos urbanos de distribuição ineficientes e responsáveis por enormes
desperdícios, e a pouca consciência do brasileiro em relação à escassez deste
recurso.
A avaliação foi feita pelo biólogo e diretor do
Departamento de Áreas Protegidas (DAP) do Ministério do Meio Ambiente, Sérgio
Henrique Collaço de Carvalho. Segundo ele, a existência de unidades de conservação
dentro e no entorno das cidades ajudaria na estabilização do regime de
precipitação de chuvas e reteria água no subsolo e lençóis freáticos. O
desmatamento e a impermeabilização do solo fazem com que a água da chuva chegue
mais rápido aos cursos d’água e ao mar, além de modificar o regime de
precipitação.
Sem consciência
”Esses fatores influenciam no clima, provocando
períodos de estiagem, com escassez de água e crise de abastecimento, sendo que,
imediatamente depois, vem o período de chuvas, acarretando alagamentos e a
ideia de abundância do recurso”, explica Collaço. Quem vive no Nordeste tem uma
percepção mais realista sobre a necessidade de se poupar o recurso, lembra
Collaço: “Só o nordestino tem essa percepção e está acostumado com a escassez de
água.”
À exceção do Nordeste, as demais regiões não têm
essa consciência, avalia o diretor do DAP/MMA. Segundo ele, no país, boa parte
das cidades não reservou espaços para UCs, que ajudam na reserva e provimento
de água, como ocorre em cidades planejadas como Brasília.
As UCs favorecem a recarga de água nos
reservatórios. “Em áreas desflorestadas e asfaltadas, a água que cai no chão
impermeabilizado, sem vegetação nativa ou com pasto, corre muito rápido para
dentro dos corpos hídricos, escorre e vai embora, em direção a alguma bacia
hidrográfica e segue para o mar, ou pode cair num reservatório, que tem
superfície muito grande e onde muita água se perde por evaporação”, acrescenta.
Penetração
Num ambiente natural, diz ele, o quadro é outro. ”A
água cai nas folhas, há a colaboração do sombreamento, criando um ambiente no
qual a água penetra muito mais lentamente no solo e no corpo hídrico,
infiltrando mais e fazendo a recarga de mananciais e do sistema superficial, o
que garante sua provisão ao longo do tempo”, salienta. “Nessa situação, mais
favorável, quando acaba o período de chuva ainda existe água no subsolo,
vertendo nas nascentes e chegando aos cursos d’água.”
Sérgio Collaço insiste: as UCs são espaços
especialmente protegidos e a principal estratégia de conservação da
biodiversidade. “Quando delimitada, é usada como fonte e reserva de recurso
natural, além de preservar a paisagem. ”É assim em todo o mundo”, exemplifica.
“De forma planejada, uma UC garante a conservação da biodiversidade, estoca
recurso natural para se fazer manejo sustentável de longo prazo, sob vários
graus de restrições do acesso aos recursos naturais ali existentes.”
Amazônia
O conceito de Unidade de Conservação surgiu no
Brasil ainda na década de 1930, ganhando força no final dos anos 1970 e
novamente nos anos 1990 e 2000 na Amazônia. “A questão é que a maior parte das
áreas de conservação da biodiversidade está localizada na região Amazônica,
fora das áreas urbanas e distantes da população, em ambiente rural ou remoto,
como na própria Amazônia, nos rincões do Jalapão, entre outros lugares”,
lamenta Collaço.
No caso da crise hídrica, o fim da resiliência
(capacidade de se adaptar ou evoluir positivamente na adversidade) está
associado ao fim das áreas naturais e a alteração drástica do ambiente que
poderia armazenar água da chuva, avalia o diretor do DAP/MMA. “Belo Horizonte
não teve esse cuidado e a falta de planejamento urbano, e a explosão
demográfica engoliram essas áreas naturais, que deveriam ter sido preservadas
para garantir a recarga de água, de forma mais resiliente, no subsolo”,
salienta.
Planejamento
Brasília é o exemplo contrário. Collaço acredita
que a cidade, nesse sentido, foi melhor planejada no seu desenvolvimento e
atraiu menos gente por não ter a dinâmica econômica de Belo Horizonte. A
capital do país possui amplos espaços de preservação que garantem a qualidade
do abastecimento, quase todo proveniente de UCs. São exemplos o sistema Santa
Maria-Torto (localizado no Parque Nacional de Brasília e abastece a parte norte
da cidade) e o sistema de Sobradinho (na reserva biológica da Contagem), que,
há anos, possuem tanto qualidade quanto volume de água. Ele garante: “São
sistemas bem estáveis e que flutuam muito menos em função do regime de chuvas
do que os sistemas localizados fora de UCs.”
Além destes, o sistema do Descoberto foi protegido
pela gestão da Área de Proteção Ambiental (APA) de mesmo nome, hoje sob gestão
do Instituto Chico Mentes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), sendo que
esta APA garantiu a boa gestão do uso do solo desde sua criação na década de
1980. De forma semelhante, a cidade de Belo Horizonte conta hoje com a APA Sul,
criada somente em 2001 pelo governo estadual, e que deve ter o mesmo papel de
proteção de mananciais da APA do Descoberto, no DF, com o desafio de recuperar
a resiliência do manancial que abastece a cidade de BH e sua região
metropolitana.
* Edição: Marco Moreira.
Fonte: Ministério do Meio Ambiente
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