Reitores de SP se unem para
conseguir dados e combater crise hídrica.
por
Redação da Carta Capital
Mesmo tendo pedido há mais de uma década e feito
diversos alertas, pesquisadores das universidades públicas de São Paulo nunca
conseguiram acesso a informações sobre a crise. Foto: Luiz Augusto Daidone/Prefeitura
de Vargem.
Pesquisadores e docentes das universidades
estaduais e federais paulistas criam fórum para unir pesquisas, desenvolver
tecnologias e pressionar poder público por informações.
Reitores das universidades estaduais e federais
paulistas (USP, Unesp, Unicamp, Unifesp, UFSCar e UFABC) divulgam um documento
da criação de um fórum para debater assuntos estratégicos, unir pesquisas para
desenvolver novas tecnologias e pedir do poder público dados a respeito da
crise hídrica que acomete a região Sudeste do País. Outro objetivo do
documento, assinado pela reitora da Unifesp, professora Soraya S. Smaili, é
manter a população informada.
Há anos, pesquisadores, professores e
representantes de universidades e de academias de ciências e de engenharia
sanitária e ambiental alertam para a urgência da tomada de decisões com o
objetivo de evitar a crise hídrica. Já em 2003, a Secretaria do Fundo Setorial
de Recursos Hídricos formulou um documento alertando para a necessidade
de aprimoramento da capacidade observacional e de estudos que
levassem em conta especialmente o avanço da agricultura moderna, de alta
eficiência, que coloca demanda extra sobre os recursos hídricos. Entre os
tópicos que requeriam atenção especial estavam a formação de uma base de dados
que unifique os dados meteorológicos, da água da superfície e da água
subterrânea.
Apesar desta e de inúmeras outras manifestações,
pesquisadores não tiveram acesso às informações necessárias para determinar a
real dimensão da crise e oferecer soluções. Agora, o fórum reunirá
especialistas de cada universidade para debater assuntos estratégicos e
elaborar um plano de contingência.
Além disso, os reitores propõem também
monitorar a qualidade e a quantidade das águas, e criar um modelo de atuação
análoga ao do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas).
Leia a seguir a íntegra da carta da reitora Soraya
S. Smaili.
Universidades públicas de São Paulo assumem
iniciativa pela água.
Há anos, os pesquisadores, professores e
especialistas das universidades públicas federais e estaduais, em especial os
paulistas, vêm alertando para a necessidade de agir com o objetivo de evitar a
“crise hídrica” que, finalmente, atinge um momento especialmente agudo.
Tradicionalmente, boa parte das pesquisas sobre o tema é realizada no interior
dessas instituições. O estado conta, ainda, com a Fundação de Amparo à Pesquisa
(Fapesp), que financia estudos de qualidade e segundo rigorosos padrões
nacionais e internacionais.
Vários encontros, seminários e simpósios produziram
propostas que poderiam ter sido mais bem aproveitadas, incluindo, por exemplo,
as iniciativas da Secretaria do Fundo Setorial de Recursos Hidrícos, formuladas
no documento “As necessidades de observação e monitoramento dos ambientes
brasileiros quanto aos recursos hídricos” publicado em 2003. Além disso,
entidades ambientalistas, reunidas na Aliança pela Água, divulgaram sua
contribuição, em 29 de outubro passado.
Em dezembro último, manifestaram-se sobre o tema o
Conselho da Cidade de São Paulo (por meio de um documento apresentado ao seu
Pleno, no dia 15), a Academia Brasileira de Ciências (com a “Carta de São
Paulo”, publicada dia 11) e Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e
Ambiental – Seção São Paulo (no dia 2).
Apesar de todas essas manifestações e da amplitude
da crise, as universidades não tiveram e ainda não têm as informações
necessárias e suficientes, por parte dos órgãos gestores da administração
pública, para determinar o impacto exato implicado pela carência sobre a vida
da comunidade (incluindo professores, estudantes, servidores e as atividades de
pesquisa e, principalmente, nossos hospitais que fazem amplo atendimento ao
público). O momento pede uma ação ampla, forte, segura e coordenada. Buscamos
informações e diagnóstico da situação, trabalharemos nos nossos planos de
contingenciamentos, que precisam ser executados imediatamente, pois não devemos
mais esperar.
Mas as universidades públicas querem também
contribuir, oferecer soluções definitivas e suprapartidárias. Além do plano
emergencial de atendimento e contingenciamento da água para nossas próprias
instituições, propomos a instalação de um Painel Técnico-Acadêmico para
Recursos Hídricos (PTA-Hidro) que possa conjugar e apresentar à sociedade os
estudos concretos e de relevância científica e tecnológica.
Para dar encaminhamento a estas propostas, os
reitores das universidades estaduais (USP, Unesp, Unicamp) e federais em São
Paulo (Unifesp, UFSCar e UFABC), além do IFSP, se reuniram em 3 de fevereiro e
propuseram como ações iniciais:
1. Criar o fórum de reitores das universidades
públicas do Estado de São Paulo, que debaterá assuntos estratégicos para a
universidade e a sociedade, a começar pela crise hídrica;
2. Demandar e ajudar a implantar um plano de
contingência geral e coordenar os planos de cada universidade e seus órgãos
associados (hospitais, clínicas, bibliotecas, estações);
3. Disponibilizar as competências da universidade
para participar dos fóruns estratégicos sobre a crise hídrica organizados pelo
poder público;
4. Obter e contribuir para um plano de comunicação
da crise onde a população e em especial a comunidade universitária esteja
plenamente informada;
5. Indicar e ajudar a implantar um programa de
gestão de demanda na região da macrometrópole;
6. Verificar e fazer cumprir o monitoramento
integrado da qualidade e da quantidade das águas;
7. Obter e trabalhar para adquirir planos de ações
de incentivo financeiro solicitar linha de crédito federal e estadual para
adequação das estruturas ao contingenciamento;
8. Reformular e dinamizar as atividades de pesquisa
e desenvolvimento tecnológico, juntando especialistas de nossas universidades e
associações científicas;
9. Apresentar projetos e ações a serem financiados
por agências e fundações de pesquisa (FAPESP, CNPq, Finep etc.) ou Fundos
específicos (CT-Hidro e Fehidro) visando o apoio a projetos dedicados à
recuperação e conservação de recursos hídricos;
10. Criação do Painel Técnico-Acadêmico de Recursos
Hídricos objetivando trabalhar em conjunto com governos nas soluções de curto,
médio e longo prazo, em dinâmica análoga ao IPCC (Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas).
É chegado o momento de não somente adotarmos
medidas urgentes, mas também garantirmos a pronta articulação das universidades
públicas. A universidade assume o seu papel de destaque na formulação e na ação
junto ao Estado e à sociedade.
Fonte: Carta Capital
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