Projeto comunitário vence a
mudança climática em Trinidad.
por
Desmond Brown, da IPS
Trabalhador de Fondes Armandes mostra a construção
de um indicador de fogo. Foto: Desmond Brown/IPS.
Fondes Amandes, Trinidad e Tobago, 24/2/2015 – A
comunidade de Fondes Amandes, na ilha de Trinidad, se uniu desde 1982 para
lutar contra a mudança climática no vale de Saint Ann, na cordilheira
Setentrional desse país insular do Caribe. Durante anos, os incêndios
florestais reduziram as florestas dos arredores de Fondes Armandes a erva
queimada e tocos de árvores carbonizados. A população local testemunhou o
aumento das chuvas na área e como a estação chuvosa se estendeu sobre a seca.
Akilah Jaramogi, que iniciou o Projeto de
Reflorestamento da Comunidade de Fondes Amandes há 32 anos junto com seu
marido, agora falecido, disse à IPS que conseguiram recuperar e reviver a
floresta e o rio. “Cheguei a Fondes Amandes no começo dos anos 1980, muito
contente por estar aqui, mas isso foi só na estação chuvosa, quando o lugar era
muito verde e bonito, porque no período de seca era outra história”, contou.
“Tudo ficava marrom, daí passava para cinza e
depois a incêndios brilhantes na noite. Os montes queimavam. A tendência em
Fondes Amandes era de incêndios florestais na estação seca e inundações na
bacia na época chuvosa. Para mim, vinda de uma comunidade rural do sul de
Trinidad, era muito estranho. Era doloroso”, recordou Jaramogi.
O Projeto de Reflorestamento da Comunidade de
Fondes Amandes transformou a ladeira poeirenta e estéril em uma área na qual
cresceram árvores, as frutíferas prosperaram ao lado de plantas em flor, e a
cada ano chegava mais vida silvestre. E, desde 1997, nenhum incêndio florestal
rompeu o sistema de indicadores de fogo nem a rápida ação comunitária criada
para proteger a bacia.
A mudança climática é uma realidade para a
comunidade, explicou Jaramogi, e as variações afetaram a qualidade e a produção
das árvores frutíferas. Ela identificou seu impacto nos cítricos, nas mangas e
nos abacates. “Com os anos, notei mudanças drásticas no clima. Já não temos uma
estação seca e outra úmida. Nos últimos tempos, sofremos condições climáticas
extremamente secas. Este ano ela foi realmente longa e causou tremendos
incêndios florestais em Trinidad e Tobago”, afirmou.
Segundo Jaramogi, o êxito e a duração do projeto se
devem à participação da comunidade. “A maioria dos membros é daqui e há um
sentido de propriedade e de orgulho por nosso ambiente natural. Isso também é o
que faz com que nossos patrocinadores mantenham a relação com Fondes Amandes.
Com ou sem fundos, fazem o que deve ser feito”, afirmou.
Sua filha, Kemba Jaramogi, também colabora no
projeto. É uma bombeira capacitada e protetora dedicada da floresta. Embora os
incêndios comecem fora da área reflorestada do projeto, isso não impede que os
voluntários o apaguem, ainda que isso implique caminhar duas horas pela mata
até o foco do fogo, explicou Kemba, detalhando coisas simples que podem ser
feitas para deter a propagação e evitar que o fogo fuja das mãos.
“Primeiro, deve haver melhor coordenação entre as
unidades de bombeiros da Divisão Florestal, os grupos de Reflorestamento
Nacional e as organizações não governamentais. Segundo, esses grupos precisam
de equipamentos melhores”, apontou Kemba. “O projeto, por exemplo, carece de
equipamento para combater incêndios florestais como extintores de mochila. São
bombas de água com uma mangueira que se carrega nas costas”, acrescentou.
“Em terceiro lugar, os helicópteros da Segurança
Nacional estão apagando incêndios do ar, com Bambi Buckets (baldes especiais
com água e suspensos pela aeronave por um cabo), mas esses são usados quando o
fogo está fora de controle”, explicou Kemba. “Um uso mais efetivo da capacidade
aérea seria equipar os helicópteros para poderem levar os bombeiros até as
áreas de difícil acesso, quando o fogo ainda é controlável, bem semelhante às
equipes de bombeiros paraquedistas”, acrescentou. Mas, nem sempre são enviados
bombeiros paraquedistas para zonas muito afastadas.
“Uma quarta solução seria capacitar e empregar o
Regimento T&T para combater o fogo na estação com maior incidência de
incêndios”, acrescentou Kemba. Em Trinidad e Tobago é ilegal acender fogo ao ar
livre durante a estação seca, entre novembro e maio.
Kemba Jaramogi disse que, apesar de sua riqueza
petroleira, esse país não tem um plano de ação nacional para combater incêndios
florestais, com pessoal capacitado, equipado e protegido, bem como um salário
adequado e com seguro, por ser um trabalho de risco. Ela propõe que as
autoridades explorem opções para adotar um plano de ação florestal e de
incêndios florestais, pois “não podemos esperar até que os montes se degradem
durante a estação seca e sofram erosão na chuvosa para nos darmos conta da
importância de nossa floresta”.
O Projeto de Reflorestamento da Comunidade de
Fondes Amandes conta com recursos do governo nacional por intermédio de seu
Fundo Verde. Entre os sócios há várias agências estatais, como a Autoridade de
Água e Saneamento, a Divisão Florestal do Ministério de Ambiente e Habitação e
o Escritório para Gestão e Preparação de Desastres. Também tem apoio do
Instituto de Recursos Naturais do Caribe (Canari) e da Global Water
Partnership-Caribbean (GWP-C). “Desde que nos associamos, não só estamos
ativos, mas pudemos colaborar com eles de diferentes formas”, disse à IPS a
oficial de comunicações da GWP-C, Gabrielle Lee Look.
Lee Look citou, como exemplo, “um sistema para
coletar água de chuva que está neste complexo que apoia o projeto. É um orgulho
quando têm pouca água e continuaremos apoiando Fondes Amandes em termos de
atividade”.
O Projeto de Reflorestamento obteve vários prêmios,
entre eles a Medalha Colibri em 2007, em reconhecimento à sua contribuição para
a conservação ambiental. Também recebeu o prêmio Hoja Verde, a mais alta
honraria ambiental de Trinidad e Tobago, e foi designado pelo Canari como
modelo para a comunidade florestal em todo o Caribe.
Fonte: ENVOLVERDE
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