Sambando na chuva para não dançar.
por Lúcia
Chayb e René Capriles, da Eco21
Natureza urbana. Foto arte: MiladSafabakhsh – Sony
Awards 2015
A edição de fevereiro de 2015 da Eco21, uma das
principais publicações sobre meio ambiente e sustentabilidade no Brasil, traz
excelentes textos. Veja abaixo o editorial e o índice.
Editorial
“Oh Indispensável Chuva! / Do solo, fizeste brotar
a natureza / O recomeço, a transformação / De sua gota criaste o homem / A
nação Pataxó”. Com
esses versos, André Machado, o carnavalesco da Escola de Samba X-9 Paulistana
cantou a maior crise hídrica de São Paulo. A sabedoria popular foi além da
sapiência dos engenheiros da Sabesp entoando, com plena consciência dos seus
padecimentos, a canção dos sem água: “Decorrente do nosso descaso com o meio
ambiente / Tu és o medo nas encostas dos morros / No trânsito, a desordem pelas
ruas da cidade / Sobre as enchentes, o suplício dos desabrigados”.
O problema do esgotamento dos recursos hídricos é
um fenômeno planetário. A ONU adverte que a escassez de água potável é uma
realidade para 30% da população mundial que vem sendo acentuada nos últimos 40
anos pela poluição dos rios, pelo desmatamento, pela degradação do solo, pela
má gestão dos recursos hídricos e pelo desperdício na agricultura e na
indústria.
Em Novembro passado, durante uma reunião da FAO
sobre a fome mundial o Papa Francisco, num tom que até pouco seria considerado
uma pregação “ecochata”, advertiu que “A água não é gratuita, como tantas vezes
pensamos; sem dúvida será um grave problema que poderá nos levar à guerra. A
fome e a sede estão ligadas ao desflorestamento e a uma economia que mata”.
A Década da Água para a Vida (2005-2015) definiu um
novo perfil para programas relacionados à água estimulando a participação das
mulheres. A ONU esperava que a Década deflagrasse oportunidades para atingir
metas internacionais relacionadas à água e à Declaração do Milênio. A primeira
Década da Água (1980 a 1990) forneceu água para mais de um bilhão de pessoas e
saneamento para quase 77 milhões. Mas o trabalho foi realizado apenas pela
metade. Ainda há mais de um bilhão de pessoas sem fornecimento de água potável
e quase 2,5 bilhões sem saneamento adequado. Seu acesso limitado é um obstáculo
insuperável para se escapar da pobreza.
As prioridades hídricas das mulheres e dos homens
são frequentemente diferentes. As mulheres das áreas rurais gastam horas, todos
os dias, à procura de água. As questões de gênero são claramente um fator vital
no encorajamento ao desenvolvimento da participação e empoderamento das
mulheres na gestão hídrica.
Entretanto, introduzir uma “dimensão de gênero”
também significa incorporar as mulheres das periferias ao processo real de
planejamento. A água é vital, não apenas para se beber, cozinhar e para usos
domésticos, mas também para a agricultura, a pecuária, a construção civil,
enfim, para todas as atividades econômicas. A competição pelo recurso leva a
disputas, aumentando a pobreza entre os menos favorecidos deixando-os sem meios
para se sustentar. Em inúmeras cidades, os pobres pagam mais pela água que os
ricos.
Os versos do samba da X-9 deste carnaval de 2015
são muito oportunos: “És divina! [a água] / No dia a dia é essencial / A
consciência está / Em alertar pra não faltar”. E voltando para a realidade
paulista o samba continua: “Teu excesso e tua escassez são motivos de
reflexão / Um exercício de consciência Tu és a água que nutre a Cantareira / A
tua presença motiva o descarte correto do lixo / A tua ausência, o consumo
consciente da água / Você gera energia ao mesmo tempo em que causa apagão / A luz
e a sede”.
Infelizmente, a X-9 ficou em décimo primeiro lugar
no julgamento, mas essa é outra história.
Gaia Viverá!
Índice
04 Benjamin Gonçalves – Avançam negociações
climáticas para Paris 2015
05 Tasso Azevedo – Em busca do Zero a Zero
06 Williams Ferreira – Mudança, variabilidade ou
bizarrice global climática?
08 Elton Alisson – Extremos climáticos ocorrerão
com mais intensidade em SP
10 Washington Novaes – Adeus
aos índios e à biodiversidade
14 Júlio Bernardes – Desmatamento afeta os recursos
hídricos do Cerrado
16 NajarTubino – A desertificação não está na pauta
da grande mídia
18 Leonardo Boff – A água no mundo e sua escassez
no Brasil
20 Carlos Rittl – Nós avisamos
21 Sarney Filho – A crise hídrica é uma realidade
22 Ricardo Machado – Entrevista com Ary Mergulhão
28 Alfredo Sirkis – Energia solar no Brasil,
finalmente um alento
30 Erik Von Farfan – Dilma inaugura o Parque Eólico
de Geribatu no RS
32 Margarete Storto – Brasil pode gerar energia a
partir de resíduos sólidos
34 ElisabettaSoglio – Entrevista com José Graziano
da Silva
36 Isabel de Araújo – Rio institui Gabinete de
emergência hídrica
38 Marcus Eduardo de Oliveira – O Todo é o Meio
Ambiente
40 Marcus Nakagawa – A empresa sustentável hoje
42 Michèlle Cannes – Entidades repudiam Projeto de
Lei sobre Biodiversidade
43 Eunice Venturi – Será medida pressão humana em
florestas inundáveis
44 Hérika Dias – Novos nanobiossensores detectarão
presença de OGMs
46 Maria Luiza Campos – Nova espécie de peixe é
descoberta em cavernas
48 Júlio Ottoboni – Eduardo Miguel Pardo, artesão
da sustentabilidade
50 Raquel Correia – Obama veta construção do
oleoduto KeystonaXL
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Fonte: Eco21
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