segunda-feira, 16 de março de 2015

“Quando você tira a criança da sala de aula e traz para o mundo, a aprendizagem se expande”.
por Pedro Ribeiro Nogueira, do Portal Aprendiz
Foto: freshidea / Fotolia.com/Porvir.

“Para a construção de uma cidade educadora, os nossos desafios são imensos”, assim o economista Ladislau Dowbor definiu a busca por um projeto de cidade, sociedade e educação que seja verdadeiramente transformador e consciente de seu meio e ecossistema. Para ilustrar a urgência da tarefa, ele citou o relatório da World Wildlife Fund (WWF) que aponta que, entre 1970 e 2010, perdemos 52% da vida vertebrada na Terra.

“Parece que só importa o Produto Interno Bruto (PIB) e extraímos tudo que podemos da Terra, sem olhar para frente ou para o lado. Temos aquecimento global no horizonte e seguimos destruindo”, lamenta Dowbor. Para frear essa realidade, ele acredita que é necessário “fertilizar o potencial das pessoas” e transformar a escola “num vetor de igualdade”. “Sozinho, ninguém resolve problema nenhum. Pela base, podemos começar a mudar as coisas, respeitando uns aos outros e com informação. Com ela, todos somos iguais”, defende o economista.

A fala de Dowbor aconteceu no debate “A comunidade na cidade educadora”, que é parte do seminário Comunidade e Escola: Semeando a Cidade Educadora, realizado em parceria entre a Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz (UMAPaz) e a Associação Cidade Escola Aprendiz, e apoio do Centro de Referências em Educação Integral e do Portal Aprendiz, nesta sexta-feira (6/3), no Parque da Ibirapuera. Acompanhando o economista à mesa, estavam Dona Lurdes, liderança comunitária da zona sul paulistana; Renato Rocha, do Coletivo Dedoverde; Manuel Flávio da Cruz, estudante do CIEJA Campo Limpo; Maria Cecília, coordenadora do programa SalaCEU; e Paula Patrone, da Associação Cidade Escola Aprendiz, como mediadora.

Morte do cisne

Maria Cecília, coordenadora do SalaCEU, começou sua apresentação com um vídeo do jovem John Lennon da Silva em sua apresentação ao programa “Se ela dança, eu danço”. Com uma interpretação do famoso curto bailado à solo de Camille Saint-Saëns, misturado com street dance, Lennon emocionou os jurados. Oriundo do CEU São Rafael, o estudante simboliza, para Maria Cecília, a potência criativa dos meninos brasileiros, que é tantas vezes tolhida por um sistema educativo castrador.

“A forma como nossa educação está estruturada causa adoecimento psiquiátrico. É só ver como o professor, que chega no sistema com um sonho e, após seguidas frustrações, entra em quadros clínicos de depressão. O antídoto está na cara: não é antidepressivo. É mudar a escola do século 16 que temos, para uma educação que afete, que toque, que faça pensar”, analisa.

Para ela, há um enorme potencial minado. “A escola foi pensada para disciplinar corpos e mentes, mas ela perdeu esse lugar. Ela tem que produzir pensamento e não só recognição, algo que nem a TV, nem a família, têm conseguido fazer. Ela precisa pegar o que é dela, dar o que traz reflexão, como foi feito com o John. Aí se resolvem os problemas”, acredita. Segundo a educadora, existem centenas de boas experiências, que são sufocadas pelo isolamento e pela construção midiática sobre a educação pública.

Plantar e renascer

Em sua mediação, Paula Patrone retomou a necessidade de romper o isolamento das pequenas ações a partir dos ensinamentos do economista Paul Singer. De acordo com ele, as mudanças podem começar em ilhas, mas é fundamental que busquemos formar arquipélagos. Traduzindo para a realidade escolar: a comunidade deve ser envolvida nos processos de aprendizagem e no cotidiano de suas crianças.

Para exemplificar, Dona Lurdes ressaltou as lutas que redundaram em diversas melhorias na região onde mora. Quando ela chegou da Paraíba, a Vila das Belezas era conhecida como Buraco Quente. 

“A necessidade ensina a gemer, então a gente não estava conformado de viver ali daquele jeito, fomos juntar os vizinhos, construir a luta, buscar melhorias”. O esforço, ao longo dos 80 anos de Dona Lurdes, resultou em diversas conquistas de saneamento, urbanização, moradia. Entre elas, o CEU Casa Blanca, onde ela mantém uma horta comunitária para os idosos da região. “Tudo cultivado com muito carinho.”

Caminhando no mesmo sentido, Renato Rocha, do Coletivo Dedoverde, que também atua na zona sul da cidade, disse que espera que a escola rompa seus muros e vá para as ruas e praças para tirar a carga negativa do espaço público. “Temos que trabalhar a intersetorialidade, pois a educação ambiental é interdisciplinar: é saúde, educação, cidadania”, aponta Rocha. “Quando você tira a criança da sala de aula e traz para outro universo, para o mundo, para a comunidade, a aprendizagem se expande”.


Fonte:  Portal Aprendiz

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