Proteger nascentes é saída para
colapso hídrico, defende WWF-Brasil.
por
Redação do WWF Brasil
Nascente do rio Cabaçal
© WWF-Brasil / Adriano Gambarini.
© WWF-Brasil / Adriano Gambarini.
O WWF-Brasil defendeu na quarta-feira (5) na
Câmara dos Deputados uma maior proteção de nascentes e cursos d´água como parte
de soluções para o colapso de abastecimento. “A implantação do novo Código
Florestal foi um retrocesso no que se refere à proteção de nascentes, beiras de
rio e cursos d’água, especialmente dos intermitentes”, disse o especialista em
Políticas Públicas do WWF-Brasil, Aldem Bourscheit. Para ele, a crise de
abastecimento hídrico que assola o centro econômico do país poderá se agravar
se não forem tomados os devidos cuidados com os mananciais, e estes dependem da
existência e da recuperação das matas nativas.
Para Bourscheit, o processo de elaboração da nova
lei florestal foi contaminado por fortes interesses econômicos em detrimento
dos alertas feitos por cientistas e ambientalistas, de que era necessário
ampliar a proteção às florestas e Áreas de Proteção Permanente no âmbito do
Código Florestal. O texto aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pela
Presidência da República foi justamente no sentido contrário.
Com isso, a segurança hídrica do país ficou mais
frágil e enfrentamos agora um colapso provocado por má gestão, fundada na
ampliação da oferta baseada em obras e na degradação das fontes naturais; por
estiagem, decorrente de uma variação climática temporária ou permanente; e pela
falta de transparência e participação pública na gestão. E para garantir
abastecimento de água para o futuro, todas as medidas devem ser consideradas.
Sobretudo as que asseguram, na lei, a proteção ambiental.
A opinião do especialista fez coro a outros
pronunciamentos feitos hoje durante uma Comissão Geral – sessão especial
realizada no parlamento para discutir a as crises hídrica e energética. Durante
o evento, o representante do WWF-Brasil falou em nome da Aliança pela Água, uma
coalizão lançada em outubro de 2014 e que reúne mais de 40 organizações e
movimentos da sociedade civil para enfrentamento do colapso hídrico em São
Paulo durante o ano 2015.
Em geral, o tom das manifestações foi de crítica em
relação ao cenário das políticas públicas em curso no Brasil. De florestas a água.
De energia a mudanças climáticas. O descontentamento se dá em todas as esferas
públicas, desde o governo federal, o parlamento e os governos estaduais.
Mauricio Guetta, especialista em políticas públicas
ambientais do Instituto Socioambiental (ISA) questionou os participantes da
comissão geral: “Como é possível um país que detém uma das maiores reservas de
água doce do mundo estar passando por tamanha escassez desse recurso?”.
O desmatamento da Amazônia, os retrocessos no
Código Florestal e a falta de novas demarcações de terras indígenas poderão
agravar o quadro nas próximas décadas. “Precisamos zerar o desmatamento na
Amazônia e entender a relevância das terras indígenas na regulação climática e
dos recursos hídricos brasileiros”, disse Guetta.
O deputado Ivan Valente (PSol-RJ), por sua vez,
disse que o problema é de gestão dos recursos hídricos, mas dividiu
responsabilidades. “São Pedro não é o culpado, já que todos sabem que os
regimes de estiagem e cheias sempre podem aparecer e vão piorar com a mudança
climática”, afirmou.
Valente também criticou a Câmara: “Essa Casa votou
um retrocesso histórico, que foi a anistia a desmatadores do Brasil, acabando
também com reservas legais e áreas de preservação permanente. Desmatamento e
falta d’água tem tudo a ver”.
Energia – O presidente do Instituto Acende Brasil,
Cláudio Sales, lamentou durante o evento que o país venha a passar por um
racionamento de energia elétrica. “Ninguém deseja o racionamento, mas é
importante que o governo prepare desde já um plano para isso, definindo
critérios de redução de consumo, com benefícios e penalidades”, alertou.
O diretor do Centro Nacional de Monitoramento e
Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Carlos Afonso Nobre, destacou que os
últimos 13 meses foram os mais secos do registro histórico do Sudeste e do
Nordeste. De acordo com ele, ainda não se sabe se é mudança climática ou se é
algo cíclico. “Mas os planejamentos devem levar em conta que os extremos
climáticos – seca e chuva – vão continuar acontecendo”, observou.
O diretor-presidente da Agência Nacional de Aguas
(ANA), Vicente Andreu, acrescentou que a crise hídrica é uma oportunidade para
a sociedade dar a devida prioridade para a “agenda
da água”, para que a segurança hídrica da população seja permanente. Segundo
ele, as sugestões dadas durante a crise devem ser implementadas para que os
impactos da falta de chuvas não tenham mais a mesma dimensão que estão tendo
agora.
Representando a ministra Izabella Teixeira, do Meio
Ambiente, o secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano, Ney Maranhão,
destacou a importância de que o enfrentamento à crise hídrica seja feito em
várias frentes. “Temos que atuar não apenas nos problemas que envolvem a oferta
de água, mas também na demanda, na regulação do consumo”, afirmou Maranhão, em
referência aos maiores consumidores de água e a eventuais desperdícios do
recurso.
Para ele, a escassez de água no Sudeste está
relacionada ao modelo de desenvolvimento adotado. “No caso do Sudeste, esse
modelo chega à exaustão devido ao tamanho da população e à grande quantidade de
indústria e da atividade agropecuária”, disse.
* Com informações da Agência Câmara.
Fonte: WWF Brasil
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