Presidência demite líderes de
estudo sobre clima, a nove meses da COP de Paris.
por
Claudio Angelo, do Observatório do Clima
Demissões na Secretaria de Assuntos Estratégicos
sinalizam diminuição da importância da questão climática dentro do órgão ligado
à Presidência da República .
O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos
da Presidência da República, Mangabeira Unger, demitiu na semana
anterior os membros do quadro técnico da Secretaria de Desenvolvimento
Sustentável da pasta. O secretário, Sérgio Margulis, de férias, deverá ser
substituído nos próximos dias. A diretora de Programa Natalie Unterstell foi
exonerada nesta sexta-feira.
Sérgio Margulis e Natalie Unterstell, que
trabalhavam na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
Fotos: SAE/PR.
Margulis e Unterstell coordenavam o maior estudo já
feito no país sobre adaptação às mudanças climáticas. Batizado “Brasil 2040”, o
trabalho tem o objetivo de embasar políticas públicas de adaptação nos setores
de energia, infraestrutura, agricultura e recursos hídricos. Quase uma dezena
de grupos de pesquisa do país trabalha nele neste momento. A análise deveria
ficar pronta em abril, e trazia más notícias sobre os impactos
da mudança do clima na expansão do parque hidrelétrico brasileiro.
A troca no comando da secretaria sinaliza uma queda
de importância da mudança climática no governo federal, justamente num momento
em que essa agenda sobe na escala de prioridades de lideranças políticas
no mundo todo. Em dezembro, um novo acordo global contra emissões deverá ser
assinado numa conferência das Nações Unidas em Paris, a COP-21. Líderes de EUA,
Europa, Índia e China têm dado declarações e feito acordos bilaterais para
ampliar a possibilidade de sucesso em Paris. No Reino Unido, os líderes do
governo e da oposição se juntaram para prometer esforços ampliados contra as
mudanças do clima. Um grupo de megaempresários pediu em fevereiro que o planeta
zere as emissões de CO2 em 2050, e o Banco da Inglaterra alertou na semana
passada contra o risco de investir em combustíveis fósseis. Até o papa
Francisco deve lançar nos próximos meses uma encíclica sobre a mudança
climática.
Ao longo deste ano, todos os países devem submeter
à ONU seus planos de enfrentamento das mudanças do clima, que incluem metas de
redução de emissões e medidas de adaptação.
O estudo conduzido por Margulis traria subsídios ao
Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima, que está sendo produzido pelo
MMA (Ministério do Meio Ambiente) e deve entrar em consulta pública no meio do
ano, segundo informou ao Observatório do Clima o secretário nacional de Mudança
Climática e Qualidade Ambiental do MMA, Carlos Klink.
Segundo apurou o OC, o novo ministro, que chefiou a
SAE quando ela foi criada, no governo Lula, está promovendo um rearranjo das
prioridades da pasta. Educação e desenvolvimento regional passam a ser os
carros-chefes da secretaria, em linha com o slogan definido por Dilma Rousseff
para ser segundo mandato, “Pátria Educadora”. O ex-ministro Marcelo Néri havia
priorizado temas ambientais – Margulis era um dos três únicos secretários do
ministério.
O economista carioca, de 58 anos, serviu por 22 na
sede do Banco Mundial, em Washington. Em 2003, publicou um estudo seminal sobre o
desmatamento na Amazônia, apontando a expansão da pecuária como principal causa
da devastação. Seus dados ajudaram a orientar políticas públicas implantadas a
partir de 2007 de restrição ao crédito para a pecuária e de apreensão de “bois
piratas” que tiveram sucesso em reduzir a taxa de devastação na floresta. Em
2010, coordenou um outro estudo sobre a economia da mudança do clima, mostrando
pela primeira vez que a economia brasileira cresceria mais num cenário de
desenvolvimento mais limpo, com redução de emissões de carbono.
* Nota atualizada às 11h53, de 13/03/2015, para
corrigir informação de que o secretário Sérgio Margulis já teria sido
exonerado. Até esta sexta-feira, a portaria de exoneração ainda não havia sido
publicada.
Fonte: Observatório do Clima
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