Natureza: é preciso ver para
valorizar.
por
Marcia Hirota, Kelly De Marchi e Patricia Ferreti*
Vista aérea de desmatamento na Amazônia. Foto: ©
WWF-Brasil/Bruno Taitson.
Todo mundo já ouviu falar de aquecimento global, de
excessos de chuva em algumas regiões e secas em outras, de frios rigorosos e
calor escaldante, entre outros acontecimentos que, de certa forma, nos fazem
perceber que o planeta está mudando, mesmo que não necessariamente nos
preocupemos em entender o porquê.
“O que os olhos não veem o coração não sente”, diz
o provérbio repetido pela sabedoria popular. Da mesma forma, a nossa relação
com a natureza muitas vezes passa despercebida por não a enxergarmos diante de
tantos prédios e muros que nos cercam. Imaginando que o céu é o limite, muitas
vezes só conseguimos enxergar mesmo o céu e, por não sentirmos a natureza
presente, não percebemos os benefícios que ela nos traz.
Nos protegemos do sol à sombra de uma árvore, mas
muitas vezes não percebemos a árvore. Abrimos a torneira repetidas vezes, mas
não nos perguntamos de onde vem a água e como ela chega até ali. Nesse sentido,
a crise de água que atinge várias regiões do país tem contribuído, apesar da
forma trágica, para a percepção do quanto dependemos dos serviços ambientais
prestados pela natureza. Para termos água em quantidade e qualidade, precisamos
proteger com as florestas os rios, nascentes e mananciais que abastecem os
reservatórios. E para protegê-los, é necessário entender que ambientes naturais
conservados e saudáveis são fundamentais para garantir a qualidade de vida e o
bem-estar de todos. Ter a percepção de que estamos cercados e fazemos parte da
natureza nos aproxima cada vez mais dela.
Muitos acreditam que a Mata Atlântica está presente
somente nos remanescentes florestais distantes dos locais onde vivem, sem notar
que mesmo as áreas urbanas já bastante modificadas pela ação humana fazem parte
do bioma. Mais de 145 milhões de pessoas, o equivalente a 72% da população
brasileira, vivem em cidades da Mata Atlântica. No entanto, e principalmente
para quem está nos grandes centros urbanos, a percepção em relação à natureza
deixa de ser diária e passa a ser algo específico e prazeroso a ser desfrutado
nos finais de semana com passeios nos parques, praças ou viagens.
A educação ambiental vem com a premissa de fazer
com que as pessoas e a comunidade tomem consciência do meio ambiente e adquiram
os conhecimentos, valores, habilidades e experiências para agir, individual e
coletivamente, para resolver problemas ambientais presentes e futuros. Isto
porque uma nova visão de mundo está ganhando cada vez mais espaço entre as
pessoas que estão em busca da melhoria da qualidade de vida e da formação de um
novo estilo, em que o consumo consciente prevalece em relação ao desperdício
dos recursos naturais e da degradação ambiental.
Cabe a todos participar desse processo de
transformação da sociedade atual em uma sociedade sustentável, centrado no
exercício responsável da cidadania, que considere a natureza como um bem comum,
leve em conta a capacidade de regeneração dos recursos materiais, promova a
distribuição equitativa da riqueza gerada e lute por condições dignas de vida
para as gerações atuais e futuras. Para que isso ocorra, é preciso formar
humanos conscientes, críticos e éticos, aptos portanto a enfrentar esse novo paradigma.
A Fundação SOS Mata Atlântica realiza ações de
educação ambiental e mobilização que buscam contribuir com esse processo, como
é o caso da exposição itinerante “A Mata Atlântica é aqui”, que já passou por
177 cidades sensibilizando um público de 815 mil pessoas, e o projeto
“Aprendendo com a Mata Atlântica”, que ocorre no Centro de Experimentos
Florestais da instituição, em Itu, interior de São Paulo, e recebe durante todo
o ano grupos de estudantes para atividades de vivência na natureza.
Claro que além da educação informal, como os exemplos promovidos pela SOS Mata Atlântica, se faz necessário o trabalho de educação ambiental no âmbito escolar. No Brasil, temos a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) que dispõe sobre a educação ambiental e determina que ela deve ser desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal.
Infelizmente, sabemos que na prática a aplicação da
educação ambiental no ensino formal está mais relacionada ao interesse do
professor pelo tema e que a grande maioria das escolas só trabalham a matéria
em datas pontuais, como o Dia da Árvore (21/9) e do Meio Ambiente (5/6), o que
precisa mudar.
Em linhas gerais, a educação ambiental se faz
necessária para levar a população à reconhecer que nossa maior riqueza é a
natureza, e que ao destruí-la estamos destruindo a nós mesmos. Claro que não
conseguiremos nos tornar totalmente sustentáveis da noite para o dia, mas
podemos buscar mudanças nas atitudes diárias, que apesar de parecerem pequenas,
quando somadas com as ações de milhões de habitantes que o planeta possui fazem
uma enorme diferença.
Você também pode diminuir o impacto que causa no
ambiente adotando atitudes como tomar um banho mais rápido, escovar os dentes
com a torneira fechada, usar meio de transporte que polua menos, não jogar lixo
no chão, separar os materiais recicláveis, entre outros. Informações e
conhecimento nós já temos à disposição, precisamos agora mudar nossos valores,
e isto só acontecerá por meio da educação e sensibilização. Apenas assim
abriremos nossos olhos para valorizar a natureza que nos cerca.
* Marcia Hirota é diretora-executiva da
Fundação SOS Mata Atlântica; Kelly de Marchi e Patrícia Ferreti
são coordenadoras dos projetos de educação ambiental da organização.
Fonte: SOS Mata Atlântica
Nenhum comentário:
Postar um comentário