Evasão fiscal das empresas é tema
para o desenvolvimento pós-2015.
por
Lyndal Rowlands, da IPS
Falta uma estrutura tributária internacional mais
justa para que sejam alcançados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
posteriores a 2015. Foto: Eoghan OLionnain CC by SA 2.0 Licença
https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0/
Nações Unidas, 24/3/2015 – A evasão fiscal das
empresas transnacionais é um tema urgente para o financiamento do
desenvolvimento posterior a 2015, já que os fundos públicos são de vital
importância para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nos
países pobres.
As finanças públicas nacionais são um elemento
fundamental da agenda de desenvolvimento posterior a 2015, segundo se depreende
de um projeto de agenda que circulou nos últimos dias sobre a Terceira
Conferência de Financiamento para o Desenvolvimento, que acontecerá em Adis
Abeba, capital da Etiópia, em julho.
A agenda reconhece a necessidade de maior
cooperação fiscal tendo em conta “que há limites com relação à possibilidade de
os governos aumentarem sua renda de forma individual em nosso mundo
interconectado”. Mais de 130 países, representados pelo Grupo dos 77 (G 77),
solicitaram que a Agenda de Adis Abeba inclua maior cooperação fiscal
internacional, em reconhecimento ao papel cada vez mais importante que têm os
sistemas tributários no desenvolvimento.
Isso acontece no contexto das contas secretas em
Luxemburgo e na Suíça, que revelaram nos últimos meses como algumas das maiores
empresas transnacionais do mundo evitaram o pagamento de milhares de milhões de
dólares em impostos mediante acordos com paraísos fiscais.
Pepsi, Ikea, AIG, Coach, Deutsch Bank, Abbott
Laboratories e mais cerca de 340 empresas fizeram pactos secretos com
Luxemburgo que lhes permitiu reduzir suas cargas tributárias, segundo uma
investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação,
divulgada em novembro de 2014. Outra investigação da mesma organização revelou
em fevereiro que o banco privado HSBC, com sede central em Londres, possui mais
de US$ 100 bilhões em contas secretas em suas filiais da Suíça e de outros
países.
Dois informes das organizações independentes Oxfam
e Rede de Justiça Fiscal analisam como repercute a evasão fiscal empresarial na
desigualdade mundial. Catherine Olier, assessora política da Oxfam sobre a
União Europeia (UE), disse à IPS que “a evasão fiscal das empresas é, na
realidade, um tema muito importante para os países em desenvolvimento porque,
segundo o Fundo Monetário Internacional, os países pobres são mais dependentes
dos impostos pagos pelas empresas do que as nações ricas”.
Olier pontuou que são necessários fundos
consideráveis para que os ODS sejam possíveis. “Se observarmos o que há
atualmente sobre a mesa em termos de ajuda oficial ao desenvolvimento, ou mesmo
do dinheiro financiado pelo setor privado, isso nunca bastará para financiar os
ODS”, afirmou, acrescentando que “os impostos definitivamente serão a fonte
mais sustentável e importante de financiamento”.
O informe da Oxfam pede às instituições europeias,
especialmente à Comissão Europeia, órgão executivo da UE, que “analise os
impactos negativos que o sistema fiscal de um Estado membro pode ter em outros
países europeus e em desenvolvimento, e que faça recomendações públicas de
mudança”.
Nicholas Shaxson, da Rede de Justiça Fiscal, disse
à IPS que os paraísos fiscais são, em sua maioria, países de maior renda, mas
com um impacto negativo tanto para os países ricos quanto para os pobres. “Isso
já não é um tema dos países em desenvolvimento frente aos ricos. Creio que se
deve ir além da geografia e começar a pensar nisso como uma batalha entre
elites ricas e todos os demais. É aí que se encontra a linha de batalha, a
linha divisória”, ressaltou.
Os impostos corporativos são particularmente
importantes para os países em desenvolvimento, em parte porque é mais difícil
aproveitar a renda fiscal de uma população pobre, apontou Shaxson. “Em termos
de justiça pura, em termos de uma multinacional grande e rica que extrai
recursos naturais ou lucra em um país em desenvolvimento e não paga impostos,
creio que quase todos no mundo estariam de acordo, de que há algo errado nesta
situação”, destacou.
Shaxson é autor do informe Dez Razões Para
Defender o Imposto Sobre a Renda das Empresas, que a Rede de Justiça Fiscal
divulgou no dia 18 deste mês. O documento argumenta que bilhões de dólares de
gasto público estão em risco, e que, se as tendências atuais continuarem, os
impostos das empresas chegarão a zero nos próximos 20 ou 30 anos.
No entanto, a Oxfam informou em janeiro que, no ano
que vem, “a riqueza do 1% mais rico da população do planeta superará a dos 99%
restantes, a menos que se reverta a atual tendência de desigualdade e
concentração de riqueza”. A organização pediu que na Conferência de
Financiamento para o Desenvolvimento, de Adis Abeba, seja realizada uma reunião
ministerial que ajude a facilitar a criação de um órgão intergovernamental da
Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a cooperação fiscal.
Olier ressaltou à IPS que, embora os países em
desenvolvimento demonstrem seu apoio a uma maior cooperação em matéria fiscal,
até o momento o apoio dos Estados membros da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico é menor, o que inclui os países europeus e os Estados
Unidos.
Fonte: ENVOLVERDE
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