Brasil deve adiar entrega de meta
para acordo de Paris.
por
Claudio Angelo, do Observatório do Clima
Itamaraty sinaliza que país vai esperar prazo final
dado pela ONU, em outubro
O Itamaraty indicou nesta quinta-feira (05) que o
Brasil deve esperar para apresentar às Nações Unidas a meta que pretende
cumprir no novo acordo do clima, a ser assinado em dezembro em Paris.
Numa reunião com representantes da sociedade civil,
o chefe da Divisão de Clima, Ozônio e Químicos do ministério, Everton Lucero,
disse que o horizonte que está sendo considerado para o registro da chamada
INDC (Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida) é 1o de outubro, prazo
final dado pela ONU. O próprio Itamaraty havia sinalizado anteriormente que
apresentaria os números no meio do ano.
Ao longo deste ano, todos os 195 países membros da
Convenção do Clima da ONU deverão registrar suas propostas para o acordo, que
deverá entrar em vigor em 2020 com a expectativa de ordenar o combate
internacional ao aquecimento global nas próximas décadas. O objetivo final do
tratado é evitar que o aquecimento da Terra ultrapasse os 2oC neste século,
limite considerado perigoso pela ciência. Para isso, cada país aportará uma
INDC, contendo a meta de corte de emissões de carbono que que considere justa
para o esforço global.
Queimada na Amazônia (Greenpeace Brasil). Governo
brasileiro promete apresentar ambição maior que a apresentada na COP-15
(Copenhague, 2009) – mas só deve colocar seus números na mesa no final do prazo
oficial das Nações Unidas.
Apesar de a ONU não obrigar ninguém a registrar
logo a meta, os principais emissores foram convidados a fazê-lo no primeiro
trimestre deste ano. Quanto antes as metas forem colocadas sobre a mesa, mais
cedo a comunidade internacional saberá quão longe o acordo de Paris ficará de
fechar a conta dos 2oC. A convenção fará um balanço de todas as propostas
registradas até 1o de outubro. O resultado da análise será entregue aos
negociadores na COP-21, a conferência do clima de Paris.
Até agora, somente a Suíça registrou seu
compromisso. A União Europeia prometeu fazê-lo nesta sexta-feira (06/03). As
duas INDCs foram consideradas insuficientes pelas organizações ambientalistas.
O cálculo da chancelaria brasileira é que o país
não ganha nada ao antecipar o registro de sua meta.
Primeiro, porque outros
países podem registrar compromissos tímidos, que não façam diferença do ponto
de vista do clima – que, afinal, é um problema global. “Se não houver esforço
da comunidade internacional, o maior esforço que o Brasil faça não será
suficiente”, disse Lucero. Depois, argumentam os diplomatas, é pouco provável
que o grau de ambição dos países que já depositaram sua meta mude até a COP-21,
já que há dificuldades políticas em fazer com que eles redesenhem seus
compromissos.
Segundo Lucero, mesmo que a conta das INDCs não feche,
seu balanço deve ajudar a orientar os esforços futuros de mitigação. O acordo
de dezembro seria um “primeiro ciclo” de cortes. O Brasil tem proposto, e a
União Europeia apoia a tese, que as metas sejam revisadas de tempos em tempos,
possivelmente de cinco em cinco anos, para que a ambição seja ajustada de
acordo com o tamanho do “buraco” na conta da mitigação. “É preciso
desmistificar o que conterá o acordo de Paris”, disse Lucero. “O novo acordo
não terá uma bala de prata.”
O diretor de Mudanças Climáticas do Ministério do
Meio Ambiente, Adriano Santiago, afirmou durante o encontro que a oferta
brasileira será “a melhor possível”, e deverá “apresentar ambição até maior”
que a que o país levou à conferência de Copenhague – de reduzir as emissões em
2020 de 36,1% a 38,9% em relação ao que se projetava que seria emitido se nada
fosse feito.
“A questão do prazo nos preocupa”, disse o
secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl. “Se for em
benefício da ambição, ótimo.” Ele afirmou, porém, que o Brasil precisa enxergar
as metas não como um ônus, mas como uma oportunidade econômica numa época de
recessão. “O Brasil precisa parar de olhar para os lados e olhar para a frente.
Nós temos uma série de vantagens comparativas nos setores agrícola, florestal e
de energias renováveis que podem favorecer a geração de emprego e renda com uma
meta ambiciosa. Adotá-la não é apenas justo com o clima e com a nossa
responsabilidade, mas é bom para o país também.”
* Publicado originalmente no site Observatório do Clima.
4ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental
A questão do clima também integra a programação da
4ª edição da maior mostra de cinema ambiental do País. Um exemplo é o filme
“Acima de Tudo”, com direção, roteiro e fotografia de John Fiege.
Neste dramático relato em primeira mão de ativistas
da linha de frente da luta climática, um homem arrisca tudo para barrar as
areias betuminosas do oleoduto Keystone XL de cruzar suas terras.
Filmado nas
florestas, pastos e salas de estar do Texas rural, o filme acompanha David
Daniel, um dublê e equilibrista de grandes alturas aposentado, reunindo
vizinhos e ativistas para se juntar a ele em um ato final de malabarismo: um
bloqueio de “casas na árvore” ao controverso oleoduto. O que começa como uma
posição contra invasões de empresas na terra de um homem torna-se um grito de
guerra para os manifestantes do clima em todo o país.
Fonte: Observatório
do Clima
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