Governo brasileiro precisa atacar
mudanças climáticas de frente.
por
Observatório do Clima*
A propósito do
pronunciamento da presidente Dilma Rousseff no último domingo, 8 de março, o
Observatório do Clima divulga nota pública na qual afirma que o governo
reconheceu que a “grave crise climática” que o Brasil atravessa é uma
componente do quadro de deterioração econômica e ebulição social que emerge no
país. Porém, a presidente chama a seca de “coincidência” e de “situação
passageira”.
Intitulada Seca não é “coincidência”, presidente, a
nota à imprensa do Observatório, rede de organizações da sociedade civil que
atua em mudanças climáticas e busca estimular políticas públicas efetivas no
Brasil, diz que o governo brasileiro precisa parar de fingir que o clima do
país não mudou enquanto fica torcendo pela chuva e pedindo “paciência e
compreensão” dos brasileiros que estão pagando mais pela energia e pela comida.
Leia abaixo a nota na íntegra.
OBSERVATÓRIO DO CLIMA
NOTA À IMPRENSA
São Paulo – Curitiba – Brasília – Manaus 09/03/2015
Em seu pronunciamento à nação na noite do dia 8 de
março, por ocasião do Dia da Mulher, a presidente Dilma Rousseff deu um passo
importante: reconheceu que a “grave crise climática” que o Brasil atravessa é
uma componente do quadro de deterioração econômica e ebulição social que emerge
no país. Dilma, porém, chama a seca de “coincidência” e de “situação
passageira”. Ao fazê-lo, não apenas ignora dados produzidos por seu próprio
governo, como também perde mais uma oportunidade de atacar um problema de
frente, deixando fermentar crises futuras.
O país vem desde 2011 enfrentando períodos de secas
anormais, que atingiram o Nordeste e também o Centro-Sul, onde se concentra a
população brasileira, onde é gerada a maior parte da nossa energia hidrelétrica
e onde é produzida a maior parte dos alimentos que chegam à nossa mesa.
Diferentemente do que sugeriu a presidente, porém,
a seca e seu impacto sobre a população não são obra do acaso: verões mais secos
e quentes no Centro-Sul e no Nordeste do país são esperados num cenário de
mudanças climáticas causadas por emissões de gases de efeito estufa. Modelos
regionais de clima produzidos pelo Inpe, um órgão do governo federal, sob
encomenda da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República,
indicam que a tendência do clima para a região neste século é de mais calor e
menos chuva. O desmatamento acumulado na Amazônia pode estar contribuindo para
agravar esse quadro. Relatório após relatório, o IPCC, o painel do clima da
ONU, vem apontando que a frequência de eventos climáticos extremos está
aumentando.
O novo clima do país veio para ficar, e novos
recordes de estiagem ou de enchente são imprevisíveis – mas sabemos que eles
virão. São dados que estão, para usar uma frase da própria Dilma, “ao alcance
de todos e de todas”.
Em vez de prestar atenção aos alertas dos
cientistas, a primeira administração de Dilma Rousseff dobrou a aposta na causa
do problema climático: o governo subsidiou os combustíveis fósseis e deu
incentivos à compra de carros. Quando as hidrelétricas começaram a secar,
expandiu a geração por termelétricas fósseis. O então ministro de Minas e
Energia, numa atitude irresponsável, exortou a população a consumir mais,
quando deveria ter adotado um amplo programa de eficiência energética e redução
de consumo – que talvez nos poupasse de estar agora à beira do racionamento.
Essas atitudes, aliadas à confusão regulatória da renovação das concessões de
energia, transformaram um evento climático extremo numa crise nacional. O novo
Código Florestal, que reduz a proteção de matas ciliares, expõe os habitantes
dos biomas Mata Atlântica e Cerrado a mais efeitos da seca no futuro.
O governo brasileiro precisa parar de fingir que o
clima do país não mudou enquanto fica torcendo pela chuva e pedindo “paciência
e compreensão” dos brasileiros que estão pagando mais pela energia e pela
comida. Se quiser construir uma saída duradoura para a crise atual, a
presidente Dilma Rousseff precisa levar as mudanças climáticas e as energias
renováveis a sério. Quem sabe aqui esteja o verdadeiro “pacto nacional” capaz
de dar um novo rumo a seu segundo mandato.
Fonte: Instituto Socioambiental
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