Mudanças Climáticas,
Variabilidade Climáticas ou Bizarrice Global?
por
Williams P. M. Ferreira*
Em tempos
de escassez de água ou de excesso de chuvas os termos “Mudanças Climáticas e
Aquecimento Global” voltam a ser destaque na mídia, uma vez que é comum a
associação do atual momento as ações predatórias do homem sobre o seu hábitat.
Certo é que esses termos por vezes soam como se
fossem a mesma coisa, principalmente para o cidadão comum, mas para os
meteorologistas, climatologistas e outros estudiosos do clima, enquanto o termo
“Aquecimento Global” faz referência ao aumento da temperatura média do Planeta
como consequência principal das ações antropogênicas, o termo “Mudanças
Climáticas” faz referência as mudanças que ocorrem em determinado local, ao
longo de várias décadas, em diferentes elementos que compõem o clima, sendo os
mais estudados a temperatura e as chuvas.
Como consequência das mudanças no conjunto dos
elementos que compõem o clima, eventos tais como incêndios florestais, secas,
furacões, tempestades tropicais, nevascas, enchentes etc., antes observados
esporadicamente passam a ser observados com maior frequência de ocorrência e
intensidade.
Diante da previsão acerca da mudança dos padrões
climáticos no futuro, realizada com base nos atuais modelos climáticos, de
acordo com alguns cientistas é esperado aumento nos desastres naturais, até
então pouco conhecidos na história dos últimos dois séculos.
Numa escala de tempo menor do que as Mudanças
Climáticas, eventos naturais tais como El Niño e La Niña, e a Oscilação Decadal
do Pacífico (ODP) ganham destaque, pois influenciam de modo mais marcante na
variabilidade do clima atual que apresenta como maior efeito colateral grande
instabilidade no comércio internacional, devido a variabilidade na produção de
alimentos e, consequente impactos na economia mundial.
Essa variabilidade climática que é uma
característica inerente do clima pôde ser observada no verão de 2014 que foi o
mais quente dos últimos 30 anos, na falta de chuva no início estação chuvosa e
no excesso de chuva no pico da atual estação chuvosa em algumas regiões no
Brasil; fortes nevascas no Leste e Centro Oeste norte-americano e temperaturas
acima da média na Costa Oeste dos Estados Unidos.
Foto: Shutterstock
Muitos dos efeitos atribuídos às Mudanças
Climáticas estão efetivamente associados as mudanças aceleradas no uso e
cobertura da Terra e a própria variabilidade climática que de acordo com o Dr.
Thomas Wilbanks, da Divisão de Ciências Ambientais do Oak Ridge National
Laboratory, seria, na atualidade, melhor descrita como “Weirding Global”, ou
seja, Bizarrice Global.
Como consequência dos efeitos do que estão
acontecendo com o clima da Terra foi publicado recentemente o “Climatic Risk
and Distribution Atlas of European Bumblebees” que apresenta uma discussão
sobre o declínio na população das abelhas em uma região da Europa, declínio
esse que é atribuído e um “coquetel” de estressores ambientais decorrentes das
Mudanças Climáticas.
As condições ambientais do hábitat das abelhas,
capitaneadas pelo clima atual, ainda ameaçam o futuro de toda a população desses
insetos polinizadores. O atlas, publicado como uma edição especial do jornal
BioRisk, que permite acesso aberto ao público
(http://phys.org/news/2015-02-decline-pollinators-europe.html) apresenta a
possibilidade da ocorrência de um “Apocalipse da Abelhas” no futuro. Todavia,
os pesquisadores acreditam que soluções baseadas na natureza ainda são
possíveis, levando-se em consideração, certamente, as condições atuais e
futuras do clima no continente europeu.
Outros eventos atuais são também atribuídos às Mudanças
Climáticas, um exemplo disso foram as declarações feitas pelo Dr. Deepak
Sawant, em Nagpur na Índia, que ao ser questionado sobre uma possível epidemia
de gripe suína na região afirmou: “o Aquecimento Global e as Mudança Climáticas
estão causando o aumento do número de casos de gripe suína”. Ele acrescentou
que a disseminação da doença foi antecipada já que as ocorrências são
normalmente registradas em Maio ou Junho, mas que em 2015, devido ao inverno
prolongado do Hemisfério Norte e as Mudanças Climáticas, os casos de gripe
suína têm aumentando quando comparado aos anos anteriores.
Questões conceituais, necessárias às ciências e
tecnologias para identificar formalmente seu objeto de estudo a partir da
percepção dos fatos reais, associadas ao emprego dos termos “Mudanças
Climáticas” – que ocorrem ao longo dos séculos ou milênios, e “Variabilidade
Climática” – que pode ocorrer desde uma escala de tempo anual, até uma de ciclo
mais longo (como a ODP que pode levar em média de 20 a 30 anos), são de fato aspectos
que podem contribuir para que um evento assuma a responsabilidade de outro, e
até mesmo a terminologia empregada para descrever um ou outro evento da
natureza se torne um termo “tendência” utilizado de forma indiscriminada para
publicidade e promoção de toda e qualquer natureza criando uma nuvem de
confusão sobre os termos científicos, desapropriando o seu real sentido,
embaralhando os conceitos até que se perca o real sentido deste.
* Williams P. M. Ferreira é meteorologista,
pesquisador da Embrapa Café e pesquisador colaborador da Epamig UREZM-MG.
Fonte: Eco21
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