Ocupando
o símbolo de São Paulo.
Avenida Paulista, ontem, dia 28 de junho de 2015.
Foto: © Leon Rodrigues / SECOM PMSP.
Por Vitor Leal* –
Eu estava lá quando as pessoas tomaram a avenida
símbolo da cidade de São Paulo com bicicletas, skates, patins, cachorros e
crianças. Estava lá quando o barulho de buzinas e motores foi substituído pelo
de risadas e sorrisos. E, se você também estava em São Paulo nesse frio e
ensolarado domingo (28/6), espero que tenha pedalado ou caminhado numa Avenida
Paulista aberta às pessoas.
Foi na segunda volta pela Paulista que me encontrei
com as lembranças na ghost bike da Márcia Prado. Num susceder de imagens, vieram as
memórias daquela triste noite de janeiro de 2009 quando, sob chuva forte,
tomamos a rua para chorar mais uma vítima da violência imposta a quem decide
não ser parte do problema e tornar-se solução. Mais uma vítima da disputa
diária entre o carlor humano e o motor.
Junto ao uso da cidade, vem a diversidade: pessoas
pedalando, famílias levando seus bebês para passear e amigos curtindo um dia de
sol. Tudo isso numa das avenidas mais movimentadas do país. Foto: © Leon
Rodrigues / SECOM PMSP.
Lembrei-me vivamente do peso do guidão daquele 14
de janeiro enquanto empurrava sua ghost bike em frente ao parque Trianon,
encharcado por uma mistura de lágrimas de nuvens e chuva do coração. Quando
morrem ciclistas, o céu também chora. Apertou aqui dentro ao encontrar outras
pessoas que, com olhos marejados, paravam em frente à ghost bike da Julie Dias para celebrar o
amargor doce deste domingo.
Se puxo essas memórias é para lembrar que o que
conquistamos tem um custo, e às vezes perdemos gente especial nesse processo. É
para recordar que as ciclovias da cidade podem ser obra da prefeitura, mas são
o resultado de mais de duas décadas de luta diária de quem se coloca sem
armadura na batalha por uma cidade melhor. Ontem foi um dia especial, porque
não só inaugurou-se a ciclovia que começa a sacramentar a ideia de bicicleta na
cabeça de cada morador e visitante desta cidade, mas por que a rua foi ocupada
por uma miríade de pessoas, por risos e alegrias. Este domingo ficará pra
sempre na memória de milhares de pessoas que retomaram aquele espaço e agora
sonham uma outra São Paulo.
Infelizmente, a felicidade na capital paulista
ainda tem hora marcada e, às 17h, polícia e CET, numa atitude exagerada,
invadiram o espaço tornado humano com suas motos e caminhonetes, suas sirenes e
buzinas e foram expulsando quem havia vivido um novo tipo de cidade para seus
devidos cercados – calçadas e ciclovia – e sequestrando aquele espaço novamente
para os carros.
Ciclovias não são a única solução. Mas éramos
invisíveis e precisávamos ser vistos. Ontem, na Paulista, uma vez mais, fomos
vistos. E, desta vez, viemos para ficar. Porque mais nenhuma foto da Avenida
Paulista será feita sem a linha que separa a São Paulo que foi da São Paulo que
será.
Como diz Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá e
um dos principais responsáveis pela sua transformação em cidade-modelo, a
ciclovia serve para mostrar que um cidadão em uma bicicleta de cem dólares vale
tanto quanto outro num automóvel de cem mil. Mas estamos longe do fim.
Agora é preciso expandir o uso da bicicleta nas periferias.
Foto: © CicloZN
Agora, mais urgente do que nunca, é preciso levar
as ciclovias para a periferia, conectar o centro expandido ao seu entorno para
garantir a mesma qualidade e segurança a quem atravessam as pontes para chegar
ao coração da cidade. A luta não acabou, mas ontem foi um marco a ser celebrado
e recordado. Continuaremos a tomar a cidade pelas bordas e pelo centro, para
conectar a cidade que queremos. #vaiterciclovia #ciclovianaperiferia
* Vitor Leal é da campanha de Clima e
Energia do Greenpeace Brasil.
Fonte: Greenpeace Brasil
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