Dilma
frustra apelo por ambição no clima.
Dilma e Obama se atrasam em firmar compromisso por
acordo ambicioso em Paris. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR/ Fotos Públicas.
Por Redação do Observatório do Clima –
Compromissos assumidos em declaração conjunta da
presidente com Barack Obama são insuficientes para atender às recomendações
científicas e políticas no combate às mudanças climáticas.
O Observatório do Clima, rede que reúne 37
organizações da sociedade civil, saúda o compromisso assumido pelos presidentes
Dilma Rousseff e Barack Obama em trabalhar juntos para garantir um acordo
ambicioso e equilibrado na conferência do clima Paris. Na verdade, a
demonstração de liderança por dois dos sete maiores emissores mundiais de gases
do efeito estufa chega atrasada.
Tanto a ciência quanto a economia das mudanças
climáticas são claros sobre o esforço de redução de emissões que precisa ser
feito para haver uma chance maior que 50% de manter o aquecimento global abaixo
do limite acordado de 2°C, e os custos insustentáveis de atrasar a ação.
A ciência também é clara sobre a insuficiência das
reduções de emissões de 26% a 28% até 2025 a partir dos níveis de 2005
propostas pelos Estados Unidos em sua INDC (Contribuição Nacionalmente
Determinada Pretendida) para o acordo de Paris.
O Brasil ainda não divulgou suas metas para Paris,
mas o Observatório do Clima se antecipou e apresentou a barra de ambição
esperada: nós acreditamos que o Brasil deve estabelecer um limite máximo de 1
gigatonelada de CO2 equivalente em 2030. As metas anunciadas hoje pela
presidente Dilma não nos colocam sequer perto da ambição real.
“Declarar que o Brasil vai ‘buscar’ políticas para
eliminar o desmatamento ilegal é ridículo. O que o governo está dizendo com
isso é que aceita conviver com o crime por sabe-se lá quanto tempo. Isso é uma
ofensa ao bom senso e ao que o Brasil já mostrou que pode fazer no controle do
desmatamento”, disse Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do
Clima. “É preciso lembrar que todos os outros países tropicais já se
comprometeram a zerar o desmatamento em 2030”, acrescentou.
“A meta de restaurar 12 milhões de hectares em
florestas é um bom começo, especialmente para um país cuja maior cidade sofre
falta d’água em parte causada pelo desmatamento. No entanto, o passivo a
restaurar é duas vezes maior do que isso”, disse Rittl.
As metas anunciadas para energia – atingir 28% a
33% de renováveis na matriz em 2030, excluindo hidrelétricas – tampouco têm o
nível de ambição necessário. “Atualmente os renováveis excluindo as
hidrelétricas já respondem por 28% da matriz energética. De acordo com as
projeções do Plano Decenal de Energia, teremos 29% em 2023. Portanto, a meta
anunciada não representa uma modificação importante da matriz”, disse André
Ferreira, diretor-presidente do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema). “Considerando
que a demanda por energia deve crescer em torno de 70% nos próximos 15 anos, é
de esperar que as emissões no setor de energia cheguem a cerca de 800 milhões
de toneladas de CO2 equivalente em 2030. Acreditamos que elas possam ser
limitadas a 617 milhões de toneladas”, disse.
“A proposta de expandir a fatia de renováveis
não-hidrelétricas a 20% da geração de eletricidade significa manter as coisas
como estão. Nós já demonstramos que o Brasil pode fazer o dobro disso”, disse
Ricardo Baitelo, coordenador de Clima e Energia do Greenpeace Brasil. “A
presidente também dá sinais preocupantes de que o Brasil ressuscitará seu
programa de energia nuclear, que a própria Dilma havia descartado em 2011 por
questões de segurança.”
Fonte: Observatório do Clima
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