quarta-feira, 22 de julho de 2015

Projeto estimula o protagonismo de jovens extrativistas na Amazônia.
Objetivo é estimular o empreendedorismo e a liderança em jovens extrativistas do Amazonas. Foto: © Fernanda Ferraz - Por Redação do WWF Brasil –

Cerca de 60 jovens de comunidades de Carauari (AM) têm tido uma oportunidade única. Até novembro, eles aprenderão novos conhecimentos, ao vivenciarem experiências in loco em outras regiões do País sobre conservação da biodiversidade, gestão e novos negócios, e educação ambiental.

A proposta é nobre: buscar soluções criativas para temas relevantes da realidade local como geração de renda, educação, inclusão, fortalecimento social e acesso a mercados para as cadeias da sociobiodiversidade em outros estados do Brasil. Ao mesmo tempo buscar identificar novas lideranças e despertar o empreendedorismo e protagonismo desses jovens.

A iniciativa faz parte do projeto Intercambiando, parceria do WWF-Brasil e da Coca-Cola, que tem o objetivo de capacitar os jovens e proporcionar experiências diferenciadas que multipliquem e ampliem o conhecimento adquirido para suas comunidades. Para participar dos intercâmbios, os jovens foram divididos em três grupos e cada um elegeu então seis representantes para fazerem as viagens de intercâmbio. A última etapa de viagens acontece até 13 de julho, onde os jovens visitarão iniciativas socioambieantais bem sucedidas no estado do Acre. Um dos objetivos do projeto é que o conhecimento adquirido durante os intercâmbios, quando transferido à realidade local, inspire o envolvimento de outros jovens das comunidades e estimule o sentimento de pertencimento à floresta.

Viagens

O primeiro intercâmbio aconteceu no início de junho. Os jovens atravessaram o Brasil até chegar à região vinícola de Bento Gonçalves (RS) para aprofundar o tema “Gestão e Novos Negócios”. No sul do país, eles observaram de perto as experiências de cooperativismo e associativismo que são consideradas casos de sucesso no país e que movimentam grandes negócios de indústrias alimentícias.

O segundo grupo viajou, na última semana, para a terra do ambientalista Chico Mendes, em Xapuri, no estado do Acre, para estudar inovação para a conservação da biodiversidade na emblemática Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes. Eles conheceram novos arranjos de negócios e técnicas sustentáveis de extrativismo, assim como experiências de manejo florestal comunitário, beneficiamento de castanha e ecoturismo de base comunitária da região.

O último grupo embarca para Feijó (AC), no período de 7 a 13 de julho, com foco em conceitos sobre educação ambiental. No município de Feijó, também no Acre, eles terão contato com Unidades Produtivas Familiares em sistema de Agrofloresta, colônias de pescadores de Pirarucu e produtores de artesanato feito com seringa. As diversas experiências deverão subsidiar a formatação de um conjunto de materiais pedagógicos com identidade regional para formação continuada.

Sustentabilidade das cadeias

A parceria global entre o WWF e a Coca-Cola permite que empresas se comprometam a liderar um movimento mundial para conservação dos recursos naturais, até 2020. No Brasil, essa parceria busca a sustentabilidade das cadeias de valor dos insumos, do uso sustentável dos recursos hídricos e a proteção e valorização de florestas.

“Com o Intercambiando, queremos proporcionar aos jovens uma experiência única, que demonstre claramente o valor da floresta em pé. Esses jovens são fundamentais para a conservação e desenvolvimento socioambiental de comunidades no interior da Amazônia e sabemos que disseminar as possibilidades de empreender na floresta poderá ampliar ainda mais as suas perspectivas futuras”, afirmou do Diretor de Valor Compartilhado da Coca-Cola Brasil, Pedro Massa.

“Esse grupo de jovens já demonstrou que tem potencial para assumir o protagonismo nas organizações locais. Esperamos que esse projeto contribua para que alguns deles sejam as lideranças locais que poderão garantir a integridade de quase 1 milhão de hectares de florestas das duas reservas ambientais onde moram, a Resex Médio Juruá e RDS Uacari”, disse Marcelo Oliveira, especialista de conservação do WWF-Brasil.

Um dos produtos do projeto, a ser elaborado pelos próprios alunos, será um material técnico-pedagógico com identidade local, conforme o histórico de aprendizagens e sua relação com as cadeias produtivas da floresta e com o meio ambiente. Cada jovem será um multiplicador dessa experiência em sua comunidade, podendo levar mais conhecimento a um maior número de pessoas.
A castanheira é um das árvores amazônicas cujo fruto pode ser explorado de forma responsável. Foto: © WWF-Brasil /Zig Koch

Gestão e novos negócios

A jovem Raimunda Sandra Melo de Sousa, 19 anos, conhecida por “Sandra”, foi uma das eleitas para embarcar para Bento Gonçalves (RS). Moradora da comunidade de Vila Ramalho, no município de Carauari, ela vive numa região em que grande parte da renda dos moradores vem do extrativismo do açaí e da andiroba. Desde 2013, Sandra vem atuando de forma mais ativa nas atividades da comunidade. Ela é participante do projeto Jovens Protagonistas, desenvolvido pelo Instituto Chico Mendes na região da Resex Médio Juruá.

No sul do País, ela e seus colegas visitaram empresas de suco, cooperativas de vinho e de leite, e conheceram como cada uma delas se organiza. Segundo ela, foi uma boa oportunidade de ter contato com novos instrumentos para uma melhor gestão de associações, cooperativas, e o impacto disso na comercialização e no preparo do plano de negócios. “Foi uma experiência fantástica. Vou levar os novos conhecimentos para a minha cidade e encontrar soluções para melhorar o nosso dia a dia. Vi que temos que nos organizar muito mais se quisermos alcançar objetivos maiores”, revelou.

Transformar o aprendizado

Outro jovem que participou do intercâmbio foi Raimundo Nonato Cunha de Lima, de 24 anos. Morador da comunidade de São Raimundo, também em Carauari, ele é líder comunitário e coordena o projeto Jovens Protagonistas na sua região. “Com tudo o que aprendi vou ajudar a produzir um material que explique para nossa comunidade a importância do associativismo e do cooperativismo de forma que sistematize esse conhecimento. É uma forma de transformar o aprendizado em algo real para a nossa realidade”, disse.

Segundo ele, o projeto é muito importante para incentivar os jovens a resgatar a tradição e os costumes do município. “Hoje vemos que não existe sucessão familiar e que com o envelhecimento das pessoas, nossa cultura está se perdendo. Isso traz riscos para as cooperativas e para a produção em geral. Nós jovens podemos recuperar essa cultura ameaçada e ter um papel decisivo nesse processo de mudança para trazer ainda mais benefícios para a comunidade”, finaliza.


Fonte: WWF Brasil

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