América
Latina avança na sustentabilidade com luzes e sombra.
Trabalhador prepara sementes no viveiro florestal
que o Instituto Costarriquenho de Eletricidade tem em Cachí, na província de
Cartago, onde são produzidas 300 mil árvores a cada ano, entregues à população,
instituições e empresas. Foto: Diego Arguedas Ortiz/IPS.
Por Diego Arguedas Ortiz*
São José, Costa Rica, 13 de julho de 2015
(Terramérica).- Milhões de latino-americanos têm maior acesso a água potável e
moradia digna do que há 25 anos, mas a região ainda arrasta os pesados desafios
ambientais herdados do modelo de desenvolvimento do século 20, como
desmatamento e emissões de gases causadores do efeito estufa.
Quinze anos depois de assinarem os oito Objetivos
de Desenvolvimento do Milênio (ODM), os países da América Latina mostram
avanços significativos na erradicação de favelas, utilização pela população de
serviços de saneamento e acesso a melhores fontes de água. Porém, o progresso
em busca de garantir a sustentabilidade do ambiente mostra profundo atraso,
provocado por um modelo de desenvolvimento intensivo em combustíveis fósseis,
extração de minerais e atividades agropecuárias que reduzem as florestas, como
monoculturas e pecuária.
“É um avanço variado, com luzes e sombras”, resumiu
José Luis Samaniego, diretor da Divisão de Desenvolvimento Sustentável e
Assentamentos Humanos da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
(Cepal). “Há avanços claros e destacados, em geral, em matéria de acesso água e
saneamento, e temos a impressão de que esses indicadores serão cumpridos”, afirmou
ao Terramérica, da sede do organismo em Santiago do Chile.
Esses temas integram as metas do sétimo ODM, o que
compromete “garantir a sustentabilidade do ambiente”, com metas verificáveis
com base nos indicadores de 1990 e que devem ser completados até o final deste
ano. Então, os ODM serão substituídos por 17 Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), que os chefes de Estado e de governo dos 193 países da
Organização das Nações Unidas (ONU) aprovarão durante uma cúpula em setembro.
Dentro do ODM 7, a América Latina e o Caribe
alcançaram a meta de acesso a água potável cinco anos antes do prazo definido,
e entre 1990 e 2015 a população com acesso a uma fonte de água melhorada
aumentou de 85% para 95%, embora ainda restem milhões de latino-americanos fora
da cobertura.
Entre 1999 e 2014, foi reduzida quase à metade a
porcentagem de latino-americanos que viviam em favelas, passando de 37% para
20%, segundo registros da ONU. Porém, isso implica que ainda há carências
importantes, com mais de cem milhões de pessoas na região morando em condições
indignas.
Samaniego explicou que os avanços no cumprimento
desses indicadores falam do esforço em investimento público na região e da
clareza com que as metas foram apresentadas. “Quando os ODM foram aprovados, gerou-se
um grande impacto nos países e houve uma clareza e um incentivo em termos de
monitoramento para que os países se organizassem e pudessem fazer progressos”,
afirmou o funcionário da Cepal.
Porém, na hora de incorporar o desenvolvimento
sustentável e a variável ambiental nas políticas públicas nacionais, o
progresso do objetivo fica obscurecido. Além disso, “em matéria de
desmatamento, tampouco estamos indo bem. Entre 1990 e 2010, passamos de 52% de
cobertura do território para 47,4%”, pontuou Samaniego.
No informe final da ONU sobre os avanços dos ODM,
publicado no dia 6 deste mês, ficou evidente a disparidade do avanço em
sustentabilidade ambiental na América Latina. Um documento de síntese da região
sobre o informe afirma que “o documento identifica que as florestas estão
desaparecendo rapidamente, apesar da criação de políticas florestais e leis que
apoiam o manejo florestal em muitos dos países da região”.
As economias latino-americanas ainda são bastante
intensivas em carbono. Um mecanismo que permite medir isto é quantos gramas de
carbono são necessários para produzir um dólar do produto interno bruto (PIB).
Enquanto a média mundial baixou de 600 gramas por dólar, em 1990, para 470
gramas, em 2010, na região a redução foi de apenas 310 para 280 gramas por
dólar do PIB no mesmo período, o que Samaniego considera quase estatisticamente
paralisado.
Esta é uma visão compartilhada por especialistas
regionais do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). “Existe
uma correlação quase linear entre crescimento do PIB de um país e seu consumo
de energia e, enquanto a matriz continuar baseada em combustíveis fósseis,
continuará diretamente ligada a um aumento nas emissões”, explicou Gonzalo
Pizarro, assessor regional em pobreza, ODM e desenvolvimento humano para o
escritório latino-americano do Pnud, com sede na Cidade do Panamá.
Em 1990, a região emitia cerca de um bilhão de
toneladas métricas de dióxido de carbono (CO2) equivalente, menos de 5% do
total mundial. Embora a proporção de participação global tenha se mantido até
2011, em questão de duas décadas as emissões da América Latina e do Caribe
aumentaram 80% e registraram esse ano 1,8 bilhão de toneladas de CO2, segundo o
Pnud. Esta meta do sétimo ODM tem uma particularidade: embora as políticas
procedam das decisões internas de cada país, seus resultados têm impacto
global.
Esses indicadores como emissões e perda de
cobertura florestal são “de saída” e, “apesar de terem uma relação com o
bem-estar das pessoas, por outro lado também têm a ver com o modelo de
crescimento dos países”, destacou Pizarro em entrevista ao Terramérica. “Em
economias baseadas em matérias-primas ou produtos básicos, como é a maioria dos
países da América Latina e do Caribe, a taxa de desmatamento continuará sendo
alta, pois a pressão econômica para explorar as florestas continuará sento
altíssima”, acrescentou.
Segundo o especialista, o desafio a vencer é a
matriz energética e as decisões que os países tomam, ainda focados em
commodities (produtos básicos comerciáveis) em grande escala, que afetam a
biodiversidade. “Enquanto os tomadores de decisão não forem capazes de comparar
o beneficio de curto prazo dessa exploração em face do valor real dos serviços
ecossistêmicos que a floresta presta, é muito provável que isso continue
ocorrendo em grande escala”, alertou Pizarro.
Os especialistas da Cepal e do Pnud reconheceram os
esforços ambientais de países da região como Cuba e Costa Rica, que recuperaram
cobertura florestal, Chile e Uruguai, que integraram com sucesso as indústrias
florestais à sua economia, e Brasil, que reduziu a taxa em sua porção
nevrálgica da Amazônia.
* O autor é correspondente da IPS.
Fonte: ENVOLVERDE
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