O que
torna uma cidade sustentável?
Essen, na Alemanha: infraestrutura verde como “uma
solução de base natural”. Foto: Divulgação.
Por Deutsche Welle –
Essen, na Alemanha, foi escolhida a “capital verde”
da Europa. Mas, para obter esse título, é preciso muito mais do que parques.
A cidade de Essen, no oeste da Alemanha, foi
escolhida a “capital verde” da Europa para o ano de 2017 – um prêmio dado
anualmente pela Comissão Europeia para exemplos de ações ambientalmente
importantes, incluindo esforços locais para melhorar o meio ambiente no perímetro
urbano e promover o crescimento sustentável.
Desde 2010, o título é concedido a cidades
europeias com população superior a 100 mil habitantes. A premiação é dada
sempre dois anos antes do período proposto. Para 2016, a vencedora foi
Liubliana, na Eslovênia. A inglesa Bristol ganhou o título para 2015, e a
capital dinamarquesa Copenhague, no ano passado.
Antigo centro de mineração de carvão, no coração do
Vale do Ruhr, Essen foi reconhecida por superar o desafio da sua história
industrial e reinventar-se de maneira ambientalmente sustentável. Depois,
tornou-se exemplo para outras cidades.
Mas o que, afinal, faz uma cidade ser considerada
“verde”?
Para o concurso, um grupo independente de
especialistas analisou as cidades com base em fatores como qualidade do ar,
transporte, áreas verdes urbanas e medidas para lidar com as mudanças
climáticas.
George Ferguson, prefeito de Bristol, na
Inglaterra, descreve as mudanças climáticas como “o maior desafio” que as
cidades europeias precisam encarar. Segundo ele, enfrentar isso depende de
inovação – e muitas vezes com bom humor. Exemplo disso é o que ficou
popularmente conhecido como “poo bus”, ônibus movido a fezes.
“É o ônibus número dois, e funciona por meio de
dejetos humanos. Mas não cheira mal”, brinca Ferguson.
O “poo bus” faz parte da campanha de Bristol para
reduzir a emissão de carbono em 40% até 2020. Outras medidas rumo a esse
objetivo são apoiadas por projetos que incentivam o aumento da energia
renovável e a redução no consumo de energia.
Antecessora de Bristol como “capital verde” da
Europa, Copenhague tem ambições ainda maiores quando o assunto é mudança
climática. A mais ousada é extinguir a emissão de carbono até 2025. Na última
década, a cidade já conseguiu reduzir o índice em 40%.
Há ainda mais esforços dos dinamarqueses para
aumentar as estruturas construídas com energia renovável e fomentar o uso
adequado das bicicletas, com programas como o “bike-butler” (“mordomo de
bicicleta”).
Quando as pessoas estacionam as bicicletas em
locais inconvenientes, os “mordomos” as removem. Mas quando os ciclistas chegam
para pegá-las de volta, eles não são punidos com multa, mas sim cumprimentados
de forma amigável. Pode soar quase inacreditável, mas, além disso, a bicicleta
ainda recebe um banho de óleo nas correias e tem os pneus cheios.
“Criando soluções aprazíveis e elegantes para quem
pedala, tornamos a atividade ainda mais atrativa”, diz Lykke Leonardsen, chefe
da agência municipal que tenta “livrar” Copenhague do carbono.
Aparentemente, funciona. Hoje, em Copenhague, 45%
de todos os deslocamentos para o trabalho e para a escola são feitos de
bicicleta.
Além de reduzir a emissão de carbono, uma “cidade
verde” deve ser também literalmente verde. Isso, porém, não significa apenas
ter parques. A expressão da moda em termos de planejamento urbano é
“infraestrutura verde”, definida como áreas naturais projetadas para
desempenhar uma série de funções.
Ronan Uhel, da agência europeia de meio ambiente,
conceitua a infraestrutura verde como “uma solução de base natural” que também
pode contribuir para a preservação da biodiversidade.
“Pode estar relacionado à eficiência energética de
prédios, pode suavizar as divisões das nossas paisagens, pode ser útil para
regenerar a acessibilidade aos rios”, diz Uhel.
Um grande projeto em Copenhague envolveu a criação
de uma rede de áreas verdes que pode absorver a água das chuvas – resultado de
um replanejamento devido a uma tempestade, em 2011, que causou grandes danos à
infraestrutura da cidade e ameaçou risco de vida a várias pessoas.
Agora, essas áreas desviam a água da chuva, ajudam
a limpar o ar e atuam como espaços conjuntos para a comunidade.
“Isso está esverdeando a cidade, deixando-a mais
saudável e atrativa”, afirma Leonardsen.
Martin Powell, chefe de desenvolvimento urbano da
empresa alemã Siemens no Reino Unido, salienta o quão isso é importante:
“Uma cidade verde é absolutamente essencial para
atrair o capital humano que você quer ver trabalhando e vivendo no local”, diz.
Powell afirma que os municípios e a iniciativa
privada podem “pegar carona” e colocar a infraestrutura verde para
investimentos. Ele sugere que, quando grandes edifícios passam por uma
renovação energética, podem incluir algumas características.
“Por que não integrar com um telhado verde um lugar
permeável, no lado de fora, para ajudar no escoamento da água vinda da
superfície, uma drenagem sustentável e outras infraestruturas verdes?”, sugere
Powell.
Ferguson, prefeito de Bristol, finaliza dizendo que
as cidades são, ao mesmo tempo, fontes de muitos problemas, mas também de
muitas soluções.
“Se as cidades podem se tornar um laboratório de
mudanças, os benefícios podem ser espalhados por toda a Europa. Uma cidade,
sozinha, não vai mudar o mundo. Mas se compartilharmos ideias, e também os
problemas, vamos compartilhar as respostas, e aí poderemos mudar o mundo”,
conclui.
Fonte: Carta Capital
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