segunda-feira, 13 de julho de 2015

Brasil para na década de 70.
Por Thiago Almeida*

Não são apenas hippies e amor livre que definem a década de 70 no Brasil. Há exatos 40 anos, o Brasil assinava um acordo com a Alemanha de cooperação para a construção de oito usinas nucleares. Também em 1975, foram adquiridos os reatores nucleares das usinas Angra 2 e Angra 3. 

De lá para cá, vimos acidentes nucleares como o de Chernobyl, na atual Ucrânia, e o de Fukushima, no Japão, e países como a própria Alemanha se comprometendo a desligar suas usinas nucleares e investindo em energias renováveis. Enquanto isso, o Brasil parece querer continuar na década de 70, parado no tempo, já que em declarações recentes, o ministro de Minas e Energia afirmou querer retomar os investimentos em energia nuclear no País. Justo o Brasil que tem Sol e vento para dar e vender.

Tanto naquela época quanto hoje, o discurso da energia nuclear ancora-se em afirmar que esta é segura. Não é o que mostram os fatos. Entre 1952 e 2011, o mundo vivenciou 33 incidentes e acidentes nucleares considerados sérios. Entre os mais conhecidos, estão o de Three Mile Island, nos EUA, em 1979; Chernobyl, em 1986, tido como o pior acidente nuclear da história; e Fukushima, o mais recente, em 2011, resultado de um desastre natural, fenômeno que poderá ser cada vez mais frequente com as mudanças climáticas.

Manejo e armazenamento de combustível nuclear, envelhecimento dos reatores e mudanças climáticas são alguns dos riscos que podem acabar em consequências catastróficas. De acordo com estudo publicado em abril, nos últimos 70 anos foram 174 acidentes no mundo sendo que há 50% de probabilidade de um novo acidente como o de Three Mile Island acontecer nos próximos 10 anos, um como o de Chernobyl nos próximos 27 anos e um como o de Fukushima nos próximos 50 anos.

Outro forte argumento da indústria nuclear é que a energia nuclear é mais barata. No entanto, o cálculo que é feito não considera, por exemplo, o custo de descomissionamento – de ‘desligamento’ – da usina ao final do seu ciclo de vida, estimado em US$ 1 bilhão por usina. Tampouco calcula os custos de armazenagem do lixo nuclear produzido sendo que até hoje não existe, em todo o mundo, uma solução permanente para esses resíduos.

Mais recentemente há quem defenda a energia nuclear por esta ser uma fonte limpa e fundamental para combater as mudanças climáticas. Vale lembra que as fontes solar, eólica e de biomassa emitem menos gases de efeito estufa do que as usinas nucleares, além de serem implementadas mais rapidamente e estarem cada vez mais baratas. Energia eólica já é a segunda fonte mais barata no Brasil.

Angra 2 levou 26 anos para entrar em operação a um custo de R$ 11 bilhões. Angra 3, cuja construção começou em 1984, está prometida para 2018 a um custo de R$ 14,9 bilhões. São 40 anos e quase R$ 26 bilhões para termos uma capacidade instalada de menos de 3 GW. Com os mesmos recursos, seria possível instalar 5,5 GW de solar e 7 GW de eólica em apenas três anos. Não à toa, a participação dessa fonte na matriz mundial é cada vez menor. Em 2014, foi instalado quase 20 vezes mais de energias renováveis do que de energia nuclear.

Fato é que a energia nuclear não faz sentido do ponto de vista econômico, ambiental e de segurança energética. Enquanto diversos países no mundo desligam suas usinas nucleares e investem em energias renováveis, o governo brasileiro volta a falar sobre retomar projetos nucleares. O Brasil precisa entrar no mercado de energia do século XXI, investindo em tecnologias como solar e eólica para aproveitar todo o Sol e vento com o qual foi abençoado.

* Thiago Almeida é da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil .


Nenhum comentário:

Postar um comentário