O clima
definitivamente entrou na pauta global.
08/06/2015- Alemanha , A chanceler da Alemanha,
Angela Merkel, pediu aos líderes do G7 para se comprometerem com objetivos mais
duros para cortar os gases causadores do efeito-estufa no último dia da cúpula
do Grupo dos Sete nos Alpes da Baviera. Foto: Stefenn Kugler/ Governo da
Alemanha.
Por Reinaldo Canto –
Notícias das últimas semanas revelam preocupação
com as mudanças climáticas e seus efeitos, mas ainda falta o Brasil entrar no
clima.
Já não era sem tempo e nem por falta de sinais
gritantes das mudanças climáticas, cada vez mais intensos e preocupantes.
Finalmente, a questão foi reconhecida como uma seríssima ameaça a sobrevivência
do ser humano num planeta mais quente e instável.
As boas notícias começaram no encontro do G-7, o
grupo de países mais desenvolvidos do mundo (Alemanha, França, Reino Unido,
Itália, EUA, Canadá e Japão) reunidos na Alemanha, que decidiu, pela primeira
vez, encarar de frente o desafio de “descarbonizar” a economia. Ou seja, por um
fim, mesmo que a longo prazo, ao uso de combustíveis fósseis (petróleo, carvão
e gás natural) que tem sido a base energética da economia mundial ao menos há
200 anos.
Inicialmente o acordo dos países ricos prevê a
redução entre 40 e 70%, até o ano de 2050, das emissões de gases de efeito
estufa; e o comprometimento com aportes de recursos para um fundo de US$ 100
bilhões a serem investidos em tecnologia para a adoção de energias limpas e
renováveis nos países pobres, principalmente no continente africano.
O objetivo mais imediato dos países que compõem o
G7 é o de frear o aquecimento do planeta para que não ultrapasse os dois graus
centígrados, considerados pelos cientistas um patamar crítico, já que o aumento
da temperatura média poderá acarretar em mais fenômenos climáticos extremos,
extinção acelerada de espécies, além de acarretar no aumento nos níveis dos
oceanos, entre outras consequências. Segundo o comunicado emitido pelo G7 a
economia mundial deverá estar “descarbonizada” até o ano de 2.100.
Ainda faltam detalhes sobre como será a execução do
plano na prática, mas o anúncio e a importância dada ao tema são inéditos e
demonstram claramente a preocupação desses líderes com o futuro do planeta.
Isso não é pouca coisa. Muitos entenderam a posição como histórica, por
representar o início do fim da era dos combustíveis fósseis, até aqui a base da
economia global desde a Revolução Industrial.
Papa antenado com o clima
A outra boa notícia veio do Vaticano e eis que mais
uma vez o Papa Francisco surpreende e renova o seu empenho em falar sobre
problemas contemporâneos. Desta feita em sua primeira encíclica – “Laudato si’” (Louvado
sejas), ele cita o Patriarca Ecumênico Bartolomeu: “Um crime contra a natureza
é um crime contra nós mesmos e um pecado contra Deus.”
Turistas no Vaticano passam por cartaz sobre a
encíclica papal que tratou do clima.
Se não fosse pouca coisa, o Papa ainda afirma,
fazendo uma direta referência às mudanças climáticas: “o urgente desafio de
proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana
na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as
coisas podem mudar”.
Em consonância com os preceitos adotados desde a
Conferência das Nações Unidas, a Rio+20, no Rio de Janeiro em 2012, que colocou
o desenvolvimento sustentável ao lado da erradicação da pobreza, o Papa
Francisco fez coro e reforçou a sua preocupação com os menos favorecidos: “São
inseparáveis as preocupações com a natureza, a justiça para com os pobres, o
empenho da sociedade e a paz interior.”
E agora Brasil?
Em recentes declarações durante o encontro de
cúpula com a União Européia a Presidenta Dilma Roussef afirmou que o Brasil tem
sido um dos países que mais reduziu suas emissões, graças principalmente a
queda do desmatamento. Mesmo assim, para a 21ª Conferência do Clima a ser
realizada em Paris no final do ano, será preciso um compromisso mais efetivo e
não apenas jogo de palavras.
Nessa ocasião deverão ser assumidos novos
compromissos para substituir o Protocolo de Kyoto com metas mais ambiciosas
para todos os países. Ainda mais entre os maiores emissores, caso do Brasil que
ocupa a 10ª posição. As pressões sobre o governo já começaram, entre elas, o Lançamento da Coalizão Brasil: Clima,
Florestas e Agricultura, movimento com a presença de mais de 50
entidades representantes do setor privado e de importantes organizações do
terceiro setor, nesta semana que, “pretende propor e promover políticas
públicas para o estímulo à agricultura, pecuária e economia florestal que
impulsionem o Brasil como protagonista na liderança global da economia sustentável
e de baixo carbono, gerando prosperidade, com inclusão social, geração de
emprego e renda”.
A Coalizão vai divulgar um documento que apresenta
propostas de políticas e ações efetivas que devem contribuir para a
estruturação da posição do Brasil na COP21.
Nesses seis meses que faltam para o encontro de
Paris novas discussões e debates virão e o Brasil deve entrar no clima positivo
que começa a tomar corpo mundo afora.
* Reinaldo Canto é jornalista especializado
em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência
Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de
televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil,
coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e
colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da
Envolverde, colunista de Carta Capital e assessor de imprensa e consultor da
ONG Iniciativa Verde.
Fonte: Carta Capital
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