Desmatamento não é mais o único vilão.
Da esquerda para a direita: Caio Magri – diretor do
Instituto Ethos; Fabio Feldmann – consultor e ex-secretário de Meio Ambiente;
Paulo Pianez – diretor de Sustentabilidade do Instituto Carrefour; Dal
Marcondes – diretor da Envolverde; Linda Murasawa – diretora do Banco
Santander; Patricia Iglecias – Secretária do Meio Ambiente.
Por Dal Marcondes e Marina Teles, da Envolverde
–
Diálogo sobre o clima reúne representantes do
governo de São Paulo, empresas, setor financeiro e organizações sociais em
busca de propostas para a COP 21 de Paris.
Desde que o clima entrou na agenda global, ainda
nos anos 1990, o Brasil se acomodou a ter como meta unicamente o combate ao
desmatamento como fator de redução de suas emissões de gases que provocam as
mudanças climáticas. O país teve sucesso nessa empreita e, agora, às vésperas
de mais uma COP (Conferência das Partes) sobre clima, em dezembro próximo, em
Paris, parece ter abdicado da ação propositiva e de liderança que buscou
assumir em 2009, na COP 15, em Copenhague. Na época a mobilização contagiou o
país, e o governo de São Paulo também se adiantou na construção de uma Política
Estadual de Mudanças Climáticas. O cenário mostrava compromisso em direção à
construção de uma economia de baixo carbono.
Seis anos depois o Brasil caminha desalentado em
direção a Paris, sem uma proposta capaz de mobilizar a sociedade e imerso em
problemas políticos e econômicos internos. No entanto, essa conjuntura não pode
ser o motivo para se abandonar a pauta climática, talvez o principal desafio
ambiental da humanidade. O governo de São Paulo, organizações da sociedade
civil e empresariais decidiram oferecer uma contribuição adicional a esse
debate, com a realização do “Fórum Diálogos Mudanças Climáticas”, em 18 de junho,
no auditório da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
Da esquerda para direita: Otávio Okano – Presidente
da Cetesb ; Patricia Faga Iglecias – Secretária de Meio Ambiente do Estado;
Charles Desmartis – CEO do Carrefour Brasil;
Anfitriã do Diálogo, a secretária de Meio Ambiente,
Patrícia Iglecias, ressaltou a urgência de ações de mitigação que possam
assegurar a resiliência do Estado em relação aos impactos das mudanças
climáticas. Para ela, apesar de ainda não ser possível afirmar com segurança
que a crise hídrica de 2014 seja consequência direta do aumento da temperatura
média global, “também não é possível descartar completamente e hipótese”. Essa
é também a opinião de um de seus antecessores no cargo, o ex-deputado federal
Fábio Feldman, que foi palestrante no evento e participou da mesa de diálogo
composta por Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade do Carrefour Brasil,
Caio Magri, diretor do Instituto Ethos, e Linda Murasawa, diretora do Banco
Santander Brasil.
Um dos focos dos diálogos foi sobre a necessidade
de engajamento das empresas na proposição de soluções e na busca de
alternativas de negócios de menor impacto ambiental e maior desempenho social.
O presidente do Carrefour Brasil, Charles Desmartis, que participou da abertura
do evento, disse que a empresa tem compromissos globais que se refletem em
ações em todas as lojas ao redor do mundo e, especialmente no Brasil, onde o
grupo atua há 40 anos. “Estamos mudando processos, economizando em logística,
reduzindo emissões e geração de resíduos em todas as nossas unidades”, disse.
Fabio Feldman, em sua fala inicial, ressaltou que
as propostas apresentadas pelo governo federal não podem servir como “teto”
para as ambições brasileiras. “São Paulo está para o Brasil assim como a
Califórnia é um paradigma de vanguarda para os Estados Unidos”. Disse. Feldman
defende que os estados e cidades brasileiras avancem em sua contribuição de
redução de gases estufa conforme seu perfil e capacidade. “Agora que a redução
do desmatamento já chegou a um ponto em que não é mais o grande vilão das emissões
nacionais, é preciso focar nas emissões por geração de energia e queima de
combustíveis em transportes”, explica o especialista.
Da esquerda para a direita: Dal Marcondes – Diretor
da Envolverde; Paulo Pianez do Carrefor; Linda Murasawa – do Santander; e Caio
Magri do Ethos.
Durante o diálogo que se seguiu, mediado pelo
jornalista do Portal Envolverde, Dal Marcondes, a diretora do Santander, Linda
Murasawa, explicou que o setor bancário é especialista em avaliação de riscos e
já está avaliando a capacidade das empresas em atuar em um cenário futuro
diferente, impactado por mudanças climáticas, além de reconhecer o valor de
empresas, governos e organizações que estão na vanguarda de contribuições
positivas. “A inovação e a capacidade de transformar processos em busca de uma
economia de baixo carbono são os valores que procuramos”, explica a executiva,
que estará em Paris, na COP 21, na condição de represente do Santander nas
reuniões com o setor financeiro global.
Essa participação do setor privado na construção de
políticas públicas capazes de levar o Brasil de volta ao protagonismo global em
mudanças climáticas foi defendida também pelo representante do Instituto Ethos,
Caio Magri, para ele as expectativas dos atores brasileiros não mudaram desde
2009, no entanto é preciso ampliar a pressão para oque o governo avance de
forma mais concreta em direção a um acordo que imponha metas e datas para a
redução efetiva das emissões. Caio fala do movimento Coalizão Brasil Clima,
Florestas e Agricultura, que pretende incentivar práticas inovadoras e de baixo
carbono em diversos setores e que pretende impulsionar o protagonismo
brasileiro, do qual o Ethos, o Observatório do Clima e outras empresas e
organizações fazem parte. “A construção de uma economia de baixo carbono é a
oportunidade do Brasil para assumir um papel relevante na economia global”,
explica. Para ele essa economia tem um imenso potencial de prosperidade, com
inclusão social, geração de emprego e renda.
Dono da maior cadeia de valor da economia, os
longos braços do setor varejista conseguem chegar a agricultores e pecuaristas
e a indústrias de todos os portes e setores, além de receber milhões de pessoas
em suas lojas todos os dias. Isso oferece a oportunidade para os varejistas
atuarem diretamente sobre o ciclo de vida de quase 60 mil itens presentes em
suas gôndolas, como explicou Paulo Pianez, executivo de sustentabilidade do
Carrefour Brasil. “Nossa estratégia é realizar estudos e transformações em
nossos produtos de marca própria, liderar pelo exemplo, para depois pedir a
nossos fornecedores que melhorem o perfil de sustentabilidade de seus
produtos”, explica. A construção do diálogo com os produtores a partir de uma
ação da própria marca tem tido diversas vantagens, uma delas, como destaca Pianez,
é que em caso de necessidade o Carrefour consegue transferir experiência e
tecnologia a seus fornecedores de maneira a ajudar na melhoria do desempenho em
sustentabilidade dos produtos dos parceiros. “No caso de grandes empresas isso
normalmente não é necessário, mas tem um papel muito importante entre os
pequenos”, diz o executivo.
Após pouco mais de duas horas de diálogo, com a
participação da plateia, a secretária Patrícia Iglecias garantiu que a
iniciativa não vai se encerrar. “Vamos fomentar e promover esse tipo de diálogo
com muito mais atores, de forma a apoiar a construção e difusão de
conhecimentos sobre os desafios que as mudanças climáticas impõem ao mundo, ao
Brasil e ao Estado de São Paulo”, garantiu. Um dos pontos de consenso é que o dilema
brasileiro não se resolve mais apenas com redução de desmatamento, é preciso
incluir as pautas das cidades, dos transportes, da geração de energia e do
agronegócio, estabelecendo prazos e metas para que cada um desses setores
melhore sua performance em relação ao clima.
BOX
Propostas dos participantes do Fórum Mudanças
Climáticas
Patricia Faga Iglecias – Secretária de Meio Ambiente do
Estado de São Paulo
- Economia
de baixo carbono: defendeu que se amplie parcerias com mais empresas;
- Reforçar
a Agenda Paulista para a COP;
Fábio Feldmann – Consultor
- Brasil
precisa se impor na COP Paris, estabelecendo metas;
- Atentar
para o setor de cimento, que é responsável por 5% das emissões de gases de
efeito estufa;
- Incluir
outros Ministérios (não apenas o MMA) na agenda das Mudanças Climáticas;
- Defendeu
a precificação do carbono;
- Que
se prepare os países mais pobres para se adaptarem às mudanças do clima;
- Focar
na mobilidade urbana;
- Estabelecer
eficiência no Código de Obras.
Caio Magri – Diretor de Operações, Práticas Empresariais e
Políticas Públicas
- Defendeu
a precificação do carbono de qualquer forma, que depois se avalie e
melhore;
- Atingir
metas de redução de emissões antecipadamente;
- Dar
de fato prioridade às tecnologias renováveis;
- Harmonizar
políticas de clima no País;
- Que
se estabeleça um pacote de segurança energética.
Paulo Pianez – Diretor de Sustentabilidade do Carrefour Brasil
- Educar
consumidor para o consumo consciente (enxerga que é responsabilidade
também dos varejistas);
Linda Murasawa – Superintendente de Sustentabilidade Santander
- Reduzir
emissões dos produtos para que empresas e produtos resistam;
- Regras
mais claras no mercado de emissões de CO2;
Fonte: ENVOLVERDE
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