“Não
queremos repetir meta de Copenhague”.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.
Foto: Partido dos Trabalhadores.
Para ministra do Meio Ambiente, corte de emissão em
relação à tendência já ocorreu com a queda do desmatamento e país quer “mudar
coisas” em sua proposta para o acordo de Paris –
Por Claudio Angelo, do OC –
“Você acha mesmo que eu vou te dar a INDC do
Brasil?”
Sem desfranzir o cenho, Izabella Teixeira vai
deixando claro antes de a entrevista começar que não pretende falar muito sobre
sua principal tarefa do ano – a construção da meta que o Brasil apresentará às
Nações Unidas até outubro para a conferência do clima de Paris.
A ministra do Meio Ambiente está em processo de
consulta a atores de dentro e de fora do governo para elaborar a chamada INDC
(Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida), o aguardado conjunto de
compromissos que o país deverá adotar para combater o aquecimento global e
adaptar-se a ele nas próximas décadas.
O governo tem feito segredo sobre a INDC. Sabe-se
apenas que não há pressa para apresentá-la, já que o prazo oficial dado pela
Convenção do Clima das Nações Unidas é 1o de outubro. Anúncios importantes de
medidas que poderão compor a meta brasileira deverão ser feitos em dois
momentos: no próximo dia 30, quando Dilma Rousseff encontra-se com Barack Obama,
em Washington, e em agosto, quando a presidente se reúne com a chanceler alemã,
Angela Merkel.
Enquanto isso, Izabella segue em conversas com o
setor privado e com outras autoridades do governo – em especial o ministro da
Fazenda, Joaquim Levy, com quem disse ter-se encontrado quatro vezes para
tratar do assunto. “Estou parecendo caixeiro-viajante”, conta.
Sobre o que a proposta brasileira poderá conter, a
ministra dá três pistas. Primeiro, que ela não deverá ser feita nos mesmos
moldes da meta apresentada pelo Brasil em 2009, na conferência de Copenhague.
Na época, o Brasil fez o que se chama de “desvio de trajetória”, ou “desvio de
BAU (business as usual)”. Trata-se de um cálculo pelo qual se estimou qual
seria a emissão em 2020 na ausência de políticas de controle de emissões e se
propôs um conjunto de ações para colocar a emissão abaixo dessa tendência
imaginária.
A diplomacia brasileira tem defendido que desvios
de trajetória possam ser adotados como meta por países em desenvolvimento no
acordo de Paris. Isso foi feito por países que já apresentaram suas INDCs, como
Etiópia e México. Para Izabella, porém, o Brasil não deverá seguir o exemplo
mexicano. “O Brasil já fez o desvio de BAU, pelo menos nos setores mais
importantes de emissão. Nós possivelmente não vamos fazer o que o México está
fazendo”, disse ao OC. “Queremos mudar coisas.”
A segunda pista é que há uma intenção de computar a
regeneração natural de florestas na Amazônia e a recomposição prevista pelo
Código Florestal à INDC. “Poderemos ter uma meta para isso”, diz. “É o que o
Ministério do Meio Ambiente quer na sua proposta.” Segundo ela, somente na
Amazônia há 17 milhões de hectares de florestas secundárias crescendo e
capturando carbono. Inserir essas florestas na meta internacional, raciocina o
MMA, poderá ajudar a captar dinheiro para reduzir os custos do reflorestamento
no Brasil – uma barreira alegada pelos produtores ao cumprimento do código.
A terceira pista, já delineada pelo Itamaraty, é
que o país vai querer uma compensação pelo desmatamento reduzido até 2020, que
a ministra chama de “a maior redução de emissões do planeta”. O “saldo” que o
Brasil diz ter em redução de emissões até 2020, que ela chama de “green air”,
poderia entrar na ambição brasileira para permitir que setores mais
conservadores, como a indústria, ganhassem tempo antes de cortar emissões. “O
tempo que vai ser dado para a indústria é o tempo para mudar, não para
permanecer do mesmo jeito”, esclarece.
Leia a seguir a entrevista .
*
O governo tem dito que nossa INDC vai ser
apresentada mais para o final do prazo, porque há um processo de consulta sendo
feito pela sra. e há reuniões bilaterais importantes com Alemanha e Estados
Unidos. Eu queria saber como está esse processo de consulta interno e se há
data para a meta sair.
A data é outubro. É a data da Convenção. O Brasil
está construindo os seus números, nós somos um país em desenvolvimento no
âmbito da Convenção e temos uma política de mudanças do clima, gostando ou não
gostando, que é a maior redução de emissões do planeta. Ponto. Isso é uma coisa
que tem que acabar no Brasil, de achar que o Brasil não está fazendo redução de
emissões. Nós estamos fazendo mais do que todos os países do mundo que têm
obrigação de redução até 2020 pela Convenção. Agora, eu não vi nenhum país
estrangeiro chegar aqui e colocar dinheiro, por exemplo, para financiar
mobilidade urbana.
Então, o que tem de diferente em relação às
consultas é que em 2009 elas foram mais circunscritas a alguns grupos. Hoje
esse movimento do Brasil em relação a mudanças do clima provoca discussões em
vários segmentos, não mais em um grupo circunscrito. Eu estou parecendo
caixeiro-viajante, conversando com todo mundo.
E como esses setores têm se posicionado em relação
à adoção de uma meta mais, menos ambiciosa, de desvio de curva, de intensidade?
Não há uma convergência. Tem gente que diz que o
Brasil tem que fazer a transição o mais rápido possível, mas esse mais rápido
possível também não é claro. O que é o mais rápido possível? É 2050? O que eu
cravo em 2030 para chegar a 2050 de um jeito? E obviamente há uma complexidade
quando você tira o desmatamento como carro-chefe. O que o Brasil fez? O Brasil
fez a opção da rota, que é o que o México está fazendo agora, mudar o “business
as usual” [cenário tendencial de emissões]. Mas, claramente, no que diz
respeito ao desmatamento, não é mudança do business as usual. Você está rumando
para eliminar o desmatamento ilegal. Para acabar com o desmatamento na
Amazônia. E, com a mudança no Código Florestal, o que você fez? Você colocou
efetivamente na agenda que todo mundo começou a enxergar que tinha que ter
reserva legal, que tinha que ter APP etc.
É óbvio que o desmatamento dialoga com o fim do
crime e com a proteção da floresta. Uma coisa é tirar o que é crime, outra
coisa é, vou olhar a floresta. O que eu quero dessa floresta? Vou parar de
pressioná-la mesmo naquilo que eu tenho direito e vou por outro lado restaurar
parte da floresta. O Brasil vai dialogar com redução do desmatamento e com
restauração. Vai ter que fazê-lo, quer pelo Código Florestal, quer pela
oportunidade econômica, oportunidade tecnológica de trabalhar questão de
carbono com resultados de curto prazo.
Isso é uma coisa interessante: a restauração não
estava considerada nas Namas, as metas voluntárias de Copenhague, em 2009.
Agora entra, como um possível caminho a ser
explorado pelo país. Agora, vamos assumir que, além [da redução] do
desmatamento, nós estamos perseguindo também a recuperação e a restauração
florestal. Então isso é a cara do MMA, é o que o MMA quer na sua proposta.
Poderemos ter uma meta para isso?
Poderemos ter uma meta para isso. Qual é a linha de
base que eu assumo? O Código Florestal é o primeiro caminho, com métrica, com
verificação. Qual é o tamanho desta conta de restauração e reflorestamento com
a base legal que o Brasil já oferece? O que eu tenho? 10 milhões, 12 milhões,
15 milhões de hectares de passivo? Isso é captura de carbono. Naquilo que é APP
é captura e fixação. Naquilo que é reserva legal com floresta plantada, é
captura e rodízio, portanto fixação-rodízio, que também é previsto nas regras
internacionais para contabilização de uso da terra e florestas. Quanto custa
fazer isso no Brasil? Eu vou nos Estados e ouço custo de R$ 20 mil a R$ 25 mil
por hectare. É óbvio que, se você define a ambição, a meta, as trajetórias
tecnológicas que você terá que construir no Brasil têm como objetivo a redução
de custo, o incremento de competitividade. Então, como a gente vai fazer
regulamentações que permitam soluções win-win? Naquilo que for cota, dirigir
para unidades de conservação, que podem ter interesse por regularização
fundiária, e obviamente dirigir para quem tem em excesso, no CAR está dando que
temos mais de 22 milhões de hectares em excesso em propriedades privadas sem
nenhum regime de proteção. Como você faz com que proteja além da lei na sua
propriedade? Negocia cota.
É óbvio que dizer que vamos ter restauração de 10
milhões de hectares, em dez anos não quer dizer que eu não possa conciliar
também com o que está em regeneração espontânea na Amazônia [segundo dados
compilados pelo programa] Terraclass. Tem 17 milhões de hectares em restauração
na Amazônia. E medidos.
Mas isso entraria no nosso composto de meta?
Querido, está capturando carbono! São 17 milhões de
hectares crescendo com florestas secundárias capturando carbono! Entendeu? Eu
posso chegar no Brasil e dizer, o Brasil vai ter 30 milhões de hectares em
recuperação, sendo tantos plantados e tantos em regeneração… eu estou mandando
a turma fazer os modelos, como é o monitoramento e a verificação disso, que
terras são essas. Mas não são florestas em estágio inicial, são florestas
mesmo, tá capturando. Se você quer fazer isso, sinalizar, tem que ir lá medir
monitorar, ver quanto captura, para poder afirmar efetivamente que aquilo ali
em 20 anos consolidará uma floresta em estágio avançado.
Para você oferecer um compromisso formal
internacional você tem que ter todas as salvaguardas. Porque o acordo de Paris
é um acordo que pressupões obrigação para todos e verificação. Não pode achar
que a gente vai jogar para a plateia. Eu tenho muito cuidado de que o Brasil
possa oferecer o melhor caminho para ele, Brasil, e que isso seja uma
contribuição expressiva globalmente. Mas não nos esquecendo também que o que
nós estamos fazendo hoje em relação a desmatamento é a maior contribuição em
redução de emissões do planeta. Como é que o mundo vai internalizar isso como
um ativo do Brasil? Nós ganhamos com isso pós-2020? Eu entendo que temos de
ganhar.
Isso é uma virada em relação à posição do Brasil no
Acordo de Copenhague. Porque lá dissemos que não apenas não precisamos de
dinheiro, como também que podemos pagar…
Não é a posição no Acordo de Copenhague. Em
Copenhague ninguém estava tentando fazer um acordo global com obrigações para
todos. Um acordo global com obrigações para todos é agora, em Paris. O Brasil
continua um país em desenvolvimento. A diferença é que o Brasil foi cobrar
efetivamente dos países desenvolvidos uma postura mais agressiva em relação aos
seus compromissos no âmbito da convenção. Que não aconteceu. O Brasil voltou e
assumiu sua política voluntária, mas nacionalmente vinculante. É fato! Então é
óbvio que o que está em jogo é você ter uma palavrinha: reconhecimento. E qual
é o impacto disso para o Brasil nos próximos anos. A outra palavrinha é
credibilidade. Você não pode colocar nada que não seja exequível,
implementável, lembrando que os compromissos são para depois de 2020 e haverá
um novo governo. Tem que ser o mais robusto possível do ponto de vista da
interlocução não governo, e obviamente tem que ser transparente, tem que saber
por que é desse jeito e não de outro jeito. E tem escolhas a fazer.
Que escolhas?
Elas dizem respeito a outros dois setores que são
fontes de emissão. Um é a agricultura e outro é a energia, que hoje são
responsáveis pelas maiores emissões do Brasil. E, à medida em que você aumenta
a população, a tendência é que você seja mais eficiente em plantar e produzir
carne, evitando emissões associadas ao desmatamento, mas você tem também que
ter eficiência na logística de transporte. Entra uma discussão que não é muito
falada no Brasil, que é a infraestrutura de baixo carbono. A gente vê o boi, a
palha etc., mas não vê a logística associada a isso. Isso está também em
discussão, não é contabilizado na ambição brasileira, mas o Brasil,
diferentemente de um país europeu, não tem sua infraestrutura toda implantada.
E ninguém discute isso.
Como a gente chega em 2030?
É isso que eu estou tentando dizer para você. Estou
dizendo que tem três carros-chefes: você quer que eu discuta geração de energia
elétrica no Brasil com renovável, voltam as hidrelétricas para a mesa, então.
É, ué: o Brasil vai ter que crescer, querido! Ou cresce para discutir como
gente grande [bate na mesa], ou então vamos discutir o quê? Tenho um terço
implantado e dois terços para implantação. O que eu vou levar para ser viável
de implantação no país nos próximos anos. Eu, Izabella, prefiro discutir
hidrelétrica a nuclear. Eu, pessoalmente. Nuclear, do ponto de vista do
carbono, é uma beleza.
Foi até uma esperteza da declaração do G7: eles
falaram de sair dos fósseis, mas não falaram em renováveis.
Do G7 e da China. Fica todo mundo soltando foguete,
ah, porque a China, e o cara fala: “não-fóssil”. Ou seja: vai trocar carvão por
nuclear. No fundo, são vários modelos, várias entradas. Por exemplo, o carro
flex: eu terei um momento de entrada do carro flex para o carro híbrido ou o
carro elétrico? Eu acho que sim. Em algum momento isso vai acontecer. Eu me
lembro de uma época aqui neste ministério, nos anos 1990, que a gente discutia
como fazer para o álcool ter mercado. Que a frota pública poderia ser a álcool.
Aí veio o carro flex, temos a mistura. A discussão do álcool ficou ligara ao
preço da gasolina depois. Aquelas anomalias que tem de conta álcool etc. foram
outras circunstâncias. Estou falando de ter ou não ter. E, por conta do
Proconve, um programa ambiental, tivemos a mistura do álcool na gasolina. Você
tem que entender quais são as trajetórias e quais são os passos a serem dados.
Tenho ouvido coisas interessantérrimas que o
próprio setor elétrico traz, como caminhos em que você aumenta a emissão, mas
chega num patamar no qual o Brasil não estaria aumentando emissões globalmente.
Agora, você tem atividade econômica e aumento de população em 2030 e imaginar
que você não vai ter aumento de emissões por habitante? Tem. Agora, você muda o
perfil desse aumento de emissões, de fóssil para renovável…
Ué, se é renovável, não tem emissão.
Tem. Claro que tem. Por que não? Biomassa não tem
emissão?
Não, ela desconta do crescimento das plantas.
Não necessariamente. Tudo tem emissão. Biomassa,
hidrelétrica. Não é na magnitude… mas tudo tem emissão. Mas diesel,
combustível, tem emissão associada à mobilidade. E é tudo na conta do setor de
energia. Quando a gente vê o número da energia, a gente tem que compreender o
que é: uma coisa é a geração de base, outra coisa é o consumo da indústria,
outra coisa é o que você ganha de eficiência energética… a gente roda um
programa excelente de eficiência energética no Brasil, quanto isso faz
diferença nas suas emissões. Eu mandei rodar esse modelo.
Então nós não estamos considerando uma meta
absoluta para esse setor de energia.
Eu não posso dizer que estamos ou não estamos.
Estamos explorando cenários. Quem me deu número absoluto? Qual país deu redução
absoluta?
Todos os países desenvolvidos que botaram número na
mesa: EUA, União Europeia…
Deu redução absoluta? Você tem certeza?
Sim, deu redução absoluta em relação a um ano-base.
Ah, o ano-base 2005! Por que não é 1990?
A União Europeia fez 1990. Eu não estou dizendo que
as metas são boas, veja.
Tá bom. Qual é a redução de energia da União
Europeia? Ela te deu o geral. Eu tenho os números. A União Europeia não fala
que vai reduzir 40% na energia. Assim até eu, querido.
Deixe-me reformular a minha pergunta: o secretário
Carlos Klink diz que possivelmente a nossa INDC não será mais uma meta de
desvio de BAU (“business as usual”, ou trajetória).
Isso é uma ambição. Estamos vendo se é viável. O
Brasil já fez o desvio de BAU, pelo menos nos setores mais importantes de
emissão. Nós possivelmente não vamos fazer o que o México está fazendo. Eu
posso chegar e dizer, o Brasil vai reduzir 20% de suas emissões globais em dez
anos. Para quem reduziu já 36% a 38%… eu considero isso na minha conta? É
adicional? É por setor? Eu capturo quanto? Eu reduzo aqui e capturo mais ou
aumento e seguro no reflorestamento e o resultado líquido é esse? Isso tido
depende dos modelos. Eu vejo vários cenários de gente de ONG, que a turma traz,
eu ouço Deus e todo mundo. Primeiro teste: submeto isso a um cenário
macroeconômico, se as variáveis macroeconômicas ficam de pé.
Mas as variáveis macroeconômicas das nossas Namas
foram chutadas.
Por isso… é um aprendizado. Quer ver uma pergunta
que eu estou fazendo há dois meses e ninguém me responde? Qual é o papel das
prefeituras, dos prefeitos e das cidades nisso? O prefeito do Rio de Janeiro
chamou algum debate sobre isso? O prefeito de São Paulo chamou algum debate
sobre isso? Se eu imponho metas aqui, como é que isso rebate lá na ponta?
Olhando 2030, 2050, se o Brasil vai ser um país 93% urbano, qual é o papel das
cidades em mitigação e em adaptação? A sensação que eu tenho às vezes é que
muita gente se acomodou com a história do desmatamento.
É inclusive o que a sociedade civil acha que é a
posição do governo, que ele se acomodou nessa história do desmatamento.
O governo vai cumprir a meta da Política Nacional
de Mudança do Clima. A meta vai ser cumprida. A sociedade civil é muito
interessante: o Brasil fez uma política, virou lei, eu sou monitorada se
cumpre, se não cumpre, e eu vou cumprir. Na ABC se coloca R$ 5 bilhões no
crédito, não vou dizer se é suficiente ou se não é.
Não tem nem monitoramento ainda.
Aí o cara não faz, vai ser cobrado. Está sendo
cobrado já. Tanto que o BNDES entrou com o Banco do Brasil para mudar o modelo.
Então, é óbvio… aí você vai no PED (Plano Decenal de Energia) e tem os
pressupostos de como fazer. Tira o ano de crise de energia, porque está
faltando água. Você tem um pico. Você não mede ano, você mede período.
O PDE tem esse problema, não? Ele assume que o
cenário tendencial é de 100% de fósseis na matriz.
E a premissa era de que você colocava muita
hidrelétrica. Não se esqueça disso. E as hidrelétricas não estão acontecendo na
magnitude que se esperava por conta de problemas socioambientais. Então vamos
para a mesa. Eu prefiro viabilizar os problemas socioambientais. Porque a área
ambiental combinou em algum momento que era fio d’água se não tem reservação e
aumenta com térmicas quando tem a crise hídrica. São os trade-offs.
O secretário de Planejamento Energético do
Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura, diz que não é viável
tecnicamente fazer grandes reservatórios na Amazônia…
Não dá para fazer as novas, algumas do passado dava.
Eu fui atrás disso. Eu não estou aqui defendendo A, B ou C. Sou obrigada a
colocar algumas variáveis na mesa que têm trade-offs, e tem que ter um mínimo
de governança para que seja tomada uma decisão. Eu concordo que tem uma zona de
conforto em torno do desmatamento, já que 80% dos compromissos de redução
estavam associados ao desmatamento.
A sra. disse que o Brasil apresentaria uma proposta
de desmatamento líquido zero. Mas isso era a meta do Plano Nacional de Mudanças
Climáticas de 2008 que era para estar pronta agora em 2015.
Não, senhor. Deixa eu explicar. O que é
desmatamento líquido zero para você?
Desmatamento líquido zero é perda de floresta
igualar o ganho. Mas isso não é necessariamente emissão líquida zero.
Aí! Primeira coisa é essa. Segundo. Se eu tenho lei
no país que autoriza supressão de vegetação, tira a pressão econômica do
malfeito. Vamos imaginar que a gente consiga ganhar em dez anos, sei lá, 60% da
produtividade nas áreas de pastagem. Você vai diminuir a pressão. Mas, se você
comprar uma terra em Tocantins, no cerrado amazônico, e resolver explorar, você
vai explorar. E eu tenho expansão de fronteira agrícola, por mais que eu
pessoalmente fique indignada. E você vai suprimir, tirar 65% daquilo ali. Isso
eu terei que compensar? Não, né? Uma das teorias de desmatamento líquido zero é
que eu teria de compensar mesmo do legal. Como faz isso? Eu terei que
imobilizar. Se o cara tirou 65% eu vou na terra de alguém para colocar 65%. E
aí os modelos não batem. Eu vou ter alguma emissão associada ao legal. Quanto é
tolerável do legal? O que é novo, o que eu convenço o cara a suprimir menos
para ser mais eficiente. Isso tudo custa dinheiro.
Isso é uma das premissas do ABC, que a expansão
futura será em áreas já abertas de pastagens degradadas.
Aí você conversa com o setor produtivo e pergunta
se isso é suficiente, e eles dizem não, nós vamos precisar de mais área.
Sim, mas é aí que entra o governo, né?
Mas vão precisar de mais área legal, não estou
falando que é ilegal, não. Sempre que a gente olha o desmatamento, a gente vê
do ponto de vista do ilegal. Mas existe uma discussão sobre o legal, expansão
econômica e emissões que não tem nada a ver com o Código Florestal,
regularização etc.
Quando você crava uma tendência e uma estratégia, você vai
ter que olhar esses caras. Pode ser que até 2030 a participação deles seja
residual, e depois essa participação passa a ser mais expressiva naquilo que
você contabiliza como zero.
Existe uma discussão sobre espaço de carbono? O
Brasil está pronto para assumir um orçamento de carbono?
Não é uma coisa que o Brasil tradicionalmente
recepciona, as cotas de carbono. Estou esperando o resultado da reunião de Bonn
para ver isso. Tem que saber, mais do que o que foi escrito, aquilo que foi
dito e não está escrito.
Qual é a nossa posição sobre emissão líquida zero
em 2050?
É viável para os EUA e para os países
desenvolvidos? Quero ver os números. É que nem você falar que vai ter pico de
emissão ou falar que quer reduzir tal coisa em um setor e o resto não vale.
Esses anos todos discutindo clima eu aprendi a querer ver os números.
A sra. disse que não vamos fazer como o México.
Sobram duas opções… redução de intensidade de carbono ou metas absolutas. Ou um
misto dos dois.
O desvio nós já fizemos. Nós queremos mudar coisas.
São as rotas, as trajetórias tecnológicas. Todos os cenários estão na mesa.
Todos. Tem intensidade para energia, eu já vi os números oficiais, que são
contestados pelas empresas.
Outra coisa que estamos vendo é se os ganhos até
2020, a chamada política das early actions, nos permite ainda entrar na ambição
brasileira e nos permitir, mesmo que num cenário mais conservador em algumas
situações, como indústria. O tempo que vai ser dado para a indústria é o tempo
para mudar, não para permanecer do mesmo jeito. Porque eu tenho um saldo a
nosso favor, que eu chamo de “green air”.
Os governadores da Amazônia lançaram uma carta
cobrando o governo federal pelo desmatamento que eles disseram ter reduzido sem
receber compensações por isso.
Eu li a carta. A reivindicação é legítima, mas os
Estados precisam ampliar seus esforços de fiscalização.
O que a presidente Dilma vai discutir com Barack
Obama?
Está sendo construída uma declaração conjunta e
clima é parte dela.
Fonte: Observatório do Clima
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