segunda-feira, 27 de julho de 2015

Monja Coen: “Acredito no DNA humano”.
Monja Coen em sua palestra no Congresso Internacional de Sustentabilidade para Pequenos Negócios. Foto: Rodrigo Lorenzon.

Por Juliana Arini* 

Precisamos de seres humanos livres e conscientes, com uma capacidade de percepção maior. 

Com uma mensagem de otimismo sobre o futuro a Monja Coen encerrou o Congresso Internacional de Sustentabilidade para Pequenos Negócios – Ciclos, realizado pelo Sebrae-MT, em Cuiabá. Líder da Comunidade Zen Budista e autora dos livros Viva Zen e Sempre Zen, ela afirmou acreditar na capacidade humana de realizar as mudanças necessárias para termos um futuro sustentável e relembrou a necessidade de termos uma mudança de consciência para sobrevivermos como espécie.

O ponto de partida seria abandonarmos a ilusão de que tudo está separado. “Essa delusão da separação precisa ser superada. Nós somos a natureza. O que fazemos ao próximo e aos outros seres também resulta em algo contra nós. Não existe um meio ambiente fora, tudo está conectado. O meu eu bebe nuvens e se alimenta do Sol. Nós não estamos separados de nada.”

A monja encorajou as pessoas a buscarem o autoconhecimento e a sabedoria. Segundo ela, as reações negativas contra o planeta e os outros seres teriam o medo como raiz. O medo da natureza e a vontade de controlar o meio ambiente. “Os povos indígenas, por exemplo, não perderam o contato com a natureza e não possuem esse medo. Eles sabem que a Terra é a nossa casa comum. Muitas pessoas desejam proteger apenas as suas famílias, colocá-las em uma redoma imaginária contra o mal do mundo, porém, nós somos o mundo. O que devemos mudar é essa percepção”.

Outro elemento importante a ser desenvolvido, tanto no contexto das empresas, negócios ou família, seria a intenção. “Precisamos ter a intenção de beneficiar todos os seres, pois está no DNA humano o desejo de sobreviver, mas somente vamos alcançar isso quando pensarmos que somos parte desse todo”.

A monja propõe, inclusive, a criação de uma nova palavra: o interser – o termo foi criado por um monge vietnamita. A ideia proposta é ir além do conceito do “eu e você” e criar uma forma de pensar que englobe todos criaturas em um todo, relembrando sempre da interdependência de todos os fenômenos e da causa e efeito das ações. “Nós precisamos deixar o eu e ser o interser com o mundo”, explica.

No campo dos negócios, a monja relembra que as pessoas devem ter consciência de que o sucesso depende do cuidado. “Cuidar dos colaboradores, cuidar dos recursos naturais, cuidar dos funcionários. Quem se mantém nos negócios com sucesso são os que estão indo por esse caminho. Tudo precisa ser uma resposta de gratidão pelo o que estamos recebendo”, explica.

Apesar de acreditar que a economia vai tornar-se mais espiritualizada, a monja não descarta o valor de atributos como a competividade para os negócios. “Que seja um processo positivo, que impulsione as pessoas a criarem mais. Steve Jobs, por exemplo, desenvolveu produtos incríveis impulsionado pelo desejo de ser melhor. Só precisamos prestar atenção se não estamos abusando”, explica.

“O que devemos fazer como espécie humana é direcionar essa transformação para o benefício coletivo. Ou nos unimos, ou vamos afundar. Precisamos honrar a nossa ancestralidade, os grandes economistas e agricultores do passado. Pensar em como damos um passo a frente e levamos o conhecimento da humanidade adiante. O futuro precisa ser melhor que o passado, e ele é feito no presente”.

As mudanças dependem de nossas escolhas. “Toda nossa vida já foi predeterminada por questões genéticas e pelo meio onde crescemos. Na verdade temos apenas 5% de livre arbítrio, parece muito pouco, mas isso é fundamental. É com esses 5% que atuam professores e educadores. É nessa pequena esfera de escolhas que podemos mudar tudo. Sair do nosso eu medroso e fechado para outro, o  que pensa no próximo. Assim poderemos garantir um mundo novo para o bem-estar de todos”, conclui.

* Juliana Arini é jornalista especial da Envolverde para o Ciclos. 


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