Ban
Ki-moon quer equidade na cúpula do clima.
O secretário-geral Ban Ki-moon (ao microfone),
acompanhado por Manuel Pulgar, ministro de Ambiente do Peru (primeiro à
esquerda), Laurent Fabius, ministro de Relações Exteriores da França (segundo)
e Sam Kutesa, presidente da 69ª sessão da Assembleia Geral (direita). Foto: ONU.
Por Thalif Deen, da IPS –
Nações Unidas, 1/7/2015 – O secretário-geral da
Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, advertiu que todo acordo
proposto na próxima cúpula mundial sobre mudança climática, que acontecerá em
dezembro na cidade de Paris, deverá se basear no princípio da equidade. Ban fez
essas declarações no dia 29, em uma reunião de alto nível sobre a mudança
climática celebrada na Assembleia Geral da ONU.
A cúpula de Paris, oficialmente conhecida como 21ª
Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a
Mudança Climática, deverá aprovar um novo tratado vinculante e universal que
apoie as necessidades de adaptação do Sul em desenvolvimento e, sobretudo,
“demonstre solidariedade com os países mais pobres e vulneráveis mediante um
pacto de ajuda focada”, afirmou Ban.
O secretário-geral pretende conseguir US$ 100
bilhões por ano até 2020, para fortalecer a capacidade de resistência dos
países em desenvolvimento à mudança climática e reduzir as emissões de
gases-estufa que a provocam. Os Estados insulares dos oceanos Índico e Pacífico
estão em perigo de desaparecer da face da Terra devido à elevação do nível do
mar causado pela mudança climática.
“Os impactos da mudança climática estão sofrendo
uma aceleração”, disse Ban, no dia 17 deste mês, no Fórum Mundial de Seguros,
realizado em Nova York. “Os desastres meteorológicos são mais frequentes e mais
intensos. Todos nós somos afetados, mas não todos igualmente”, ressaltou, insistindo
nas desigualdades do impacto da mudança climática.
O ugandense Sam Kutesa, presidente da 69ª sessão da
Assembleia Geral da ONU, que convocou a reunião de alto nível, disse que os
desastres recorrentes afetam distintas regiões como consequência das mudanças
dos padrões climáticos, que “são motivo de profunda preocupação para todos
nós”.
Kutesa destacou que muitos pequenos Estados
insulares em desenvolvimento, como Kiribati, enfrentam uma ameaça existencial
devido ao aumento do nível do mar, enquanto outros países sofrem secas
devastadoras que deixam suas terras inabitáveis e improdutivas. “Também
presenciamos cada vez mais secas, inundações, deslizamentos de terra. Em meu
país, Uganda, o impacto da mudança climática afeta os meios de vida da população
rural que depende da agricultura”, ressaltou.
Por outro lado, Ban apontou que, desde 2009, quase
duplicou o número de leis e políticas climáticas nacionais, e que 75% das
emissões anuais do mundo estão cobertas pelas metas nacionais. “As maiores
economias do mundo (China, União Europeia e Estados Unidos) apostaram no
crescimento com baixo consumo de carbono e resistente ao clima”, acrescentou.
“Me agrada o fato de a resiliência estar presente
na discussão de alto nível sobre a mudança climática na ONU”, afirmou Roger
Mark de Souza, diretor de População, Segurança Ambiental e Resiliência da
organização Wilson Center, com sede em Washington. A resiliência tem o
potencial de ser uma estratégia transformadora para abordar os riscos de
fragilidade climática, ao permitir que os países vulneráveis prevejam, se
adaptem e saiam fortalecidos das crises, acrescentou.
Segundo Souza, três intervenções em nível
internacional, e no contexto dos debates sobre a mudança climática anteriores e
posteriores à COP 21, liberarão esse potencial transformador. Em primeiro
lugar, a análise de prognóstico que proporcione uma metodologia de avaliação de
riscos unificada, compartilhada e acessível, e rigorosos indicadores de medição
da capacidade de recuperação que informam as ações práticas e a eficácia
operacional em nível regional, nacional e local, detalhou.
Em segundo lugar, Souza propôs que a redução do
risco, as estratégias de recuperação e o planejamento de adaptação de longo
prazo se integrem a todos os mecanismos de resposta em matéria de mudança
climática, de desenvolvimento e humanitárias. E, em terceiro lugar, afirmou que
o fortalecimento das alianças nesses níveis é vital, em todos os setores, como
no caso das novas tecnologias e do financiamento de cunho inovador.
“Já não se pode esperar que as medidas ou decisões
internacionais tenham um efeito de gotejamento para gerar resultados locais, e
isso deverá ser fomentado e apoiado deliberadamente, mediante a análise
prognóstica, com a participação do setor privado e o vínculo com as políticas e
os programas de mitigação e adaptação”, disse Souza à IPS.
Perguntado sobre as consequências ambientais dos
atuais conflitos no Oriente Médio, Ban respondeu aos meios de comunicação, no
dia 29, que a instabilidade política tem sua origem na falta de bom governo e
na injustiça social. A pobreza extrema e a degradação ambiental também incidem
na instabilidade sociopolítica, já que afetam as oportunidades de emprego e a
situação econômica, pontuou.
Para o secretário-geral, “é importante que os
benefícios que vamos conseguir com o acordo sobre a mudança climática (em
Paris) ajudem principalmente os 48 países menos adiantados e os países em
conflito”.
O ator norte-americano Robert Redford, firme
defensor do ambiente, também falou aos delegados, no dia 29, na qualidade de
“pai, avô e também um cidadão preocupado, um dos milhares de milhões de todo o
mundo que pedem aos senhores que tomem medidas, agora, sobre a mudança
climática”.
“Sou ator de profissão, mas ativista por natureza,
alguém que sempre acreditou que temos de encontrar o equilíbrio entre o que
desenvolvemos para nossa sobrevivência e o que conservamos para nossa
sobrevivência. A missão de vocês é tão simples quanto esmagadora. Salvar o
mundo antes que seja muito tarde”, enfatizou Redford.
O ator também afirmou que a mudança climática é
real e resultado da atividade humana. “Vemos as consequências à nossa volta, as
secas e a fome na África, as ondas de calor no sul da Ásia, os incêndios
florestais na América do Norte, e os furacões devastadores, e as paralisantes
inundações aqui em Nova York. Assim, para onde olhamos, o clima moderado está
se extinguindo”, ressaltou.
Os 15 primeiros anos do século 21 estão entre os
mais quentes da história. E, na medida em que as temperaturas sobem, também se
exacerba a instabilidade mundial, a pobreza e os conflitos armados, concluiu
Redford.
Fonte: ENVOLVERDE
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