Cidade e
Campo, duas faces da mesma moeda.
Foto: Rodrigo Lorenzon
A vida na cidade depende da qualidade de vida no
campo, de onde saem alimentos, matérias primas, valores culturais e soluções
para problemas ambientais de diversas magnitudes –
Por Dal Marcondes *
Durante o Ciclos, Congresso de sustentabilidade
realizado pelo Sebrae MT, em Cuiabá, o jornalista Washington Novaes, um
dos principais cronistas da questão ambiental no Brasil, fez o alerta sobre a
concentração do uso das riquezas do planeta por uma parte ínfima da humanidade.
Ele apontou que os países mais ricos se apropriam de 80% dos recursos naturais
e que 1% da população global concentra 50% da riqueza. Esse nível de
desigualdade é causa de alguns dos maiores males da civilização humana, como o
fato de que 800 milhões de pessoas vivem em condição de extrema pobreza e
permanente fome.
O jornalista alerta que, além da desigualdade,
outro problema de grande escala para a humanidade são as mudanças climáticas.
Segundo dados apresentados por ele, a temperatura média do planeta já subiu
0,89 °C e os cientistas reunidos no Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas, o IPCC, apontam que essa elevação pode ir de 3 °C a 4 °C. No
Brasil, no entanto, as coisas não param por aí. Washington alerta para os problemas
que o país vem enfrentando com o abastecimento e distribuição de água. Além de
uma instabilidade no clima, que tem provocado eventos extremos como secas e
inundações pelo país, a gestão da água tem problemas estruturais como a perda
média de 40% da água tratada nas redes de distribuição.
Washington Novaes fez a mediação do Diálogo
Integração Campo-Cidade: Desenvolvimento Econômico, bem estar social e
equilíbrio ambiental, durante o Congresso internacional de Sustentabilidade,
promovido em 2 e 3 de julho de 2015, pelo Sebrae Mato Grosso, em Cuiabá.
Participaram Marcos Freitas, coordenador do Instituto Virtual Internacional de
Mudanças Globais, da COPPE UFRJ, Luiz Assad, gestor do Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Sustentável (IABS), e Kleber Vanolli, representando a Itaipu
Binacional.
O pesquisador da COPPE aponta o desconhecimento do
ciclo hidrológico no Brasil como um dos principais problemas de gestão do
setor. “O uso de aquíferos, por exemplo, é feito sem um estudo completo de sua
capacidade de recarga”, explica Marcos Freitas. Para ele a escassez de
água não deve ser vista como um fator limitante para o desenvolvimento
econômico e social. “Quase todos os países desenvolvidos do hemisfério Norte
convivem com déficits hídricos e isso não é usado como desculpa para nada”,
explica, e aponta o estado norte-americano da Califórnia como exemplo. A região
convive há décadas com falta d’água. Outro exemplo didático é a comparação que
faz entre a Etiópia e a Austrália, dois países que apresentam o mesmo perfil
hídrico, mas não têm o mesmo índice de desenvolvimento. “A grande diferença
está na reserva de água, enquanto a Etiópia armazena em seus reservatórios 43
m³ por habitante, na Austrália a reserva chega a 5.000 m³ por habitante”,
explica.
Um dos principais conflitos entre campo e cidade é
justamente o abastecimento de água, uma vez que o recurso é escasso e de toda a
água consumida pelas atividades humanas, 70% é destinado ao uso da agricultura
e da cadeia da pecuária. No entanto, a boa convivência entre esses dois
habitats humanos é fundamental para a qualidade de vida da humanidade, uma vez
que é da produção rural que vem a alimentação de pessoas e animais, além de
muitas das matérias primas utilizadas nas indústrias das cidades.
Com a preocupação de garantir ao morador do campo
uma qualidade de vida comparável à dos habitantes das cidades, o Itaipu
Binacional, uma das principais geradoras de energia do mundo, vem se empenhando
em distribuir conhecimento e tecnologias para ampliar a renda e a formação
profissional em áreas de impacto de suas operações. Segundo Kleber Vanolli, da
coordenadoria de energias renováveis da empresa, muito do que era poluição nas
propriedades e problema para as águas da região hoje são soluções inteligentes
de geração de energia e renda. “Há muitos pecuaristas e criadores de porcos na
região e isso representava poluição”, explica. Hoje os programas de geração de
energia através de biogás são tão eficazes que em alguns casos representam
renda maior do que a atividade de criação, conta o executivo. No entanto, ele
alerta que há empecilhos legais que precisam ser trabalhados, com a legislação
que impede a venda de energia para as concessionárias. “esse é um entrave que
estamos levando a Brasília em busca de uma solução”, explica Vanolli.
* Dal Marcondes é jornalista especial da
Envolverde para o Ciclos.
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