Urgência nas discussões sobre a água.
Paulo Roberto Martini
Por Júlio Ottoboni –
Um dos maiores especialistas em sensoriamento
remoto do país e chefe do departamento de distribuição de imagens de satélites
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Paulo Roberto Martini,
alerta para o agravamento da crise hídrica e a necessidade premente de água
voltar as agendas em todos os setores da sociedade, principalmente dos poderes
públicos.
“Toda abordagem feita até agora é que entraremos
num quadro mais agudo, é preciso voltar o tema para as agendas e tomar decisões
sem desvios políticos ou econômicos”, observou o pesquisador.
Martini é geógrafo por formação acadêmica, além de
ter especialização em Remote Sensing Technology pela Remote Sensing Technology
Center Of Japan Restec, em Política e Planejamento Estratégico pela Escola
Superior de Guerra e mestrado em Sensoriamento Remoto pelo Inpe. Além de ser um
dos mais antigos funcionários do instituto e coordenador do projeto
Panamazônia.
Qualificação não lhe falta fazer uma série de
alertas, já que acompanha com grande interesse a escassez de chuvas no sudeste
do país, em particular na região de São Paulo. Segundo ele, as imagens de
satélites mostram que o volume de água está diminuindo há alguns anos,
inclusive a cor da água, que é um indicativo para os especialistas na leitura e
interpretação das imagens.
“Quando o reservatório está cheio, a cor da água
aparece preta na imagem. Mas quando está mais rasa a cor predominante é azul
turquesa, agora quando surge completamente branca é que a água está completamente
poluída”, explicou.
Atualmente as represas estão divididas, pelas
imagens de satélites, entre brancas e azuis. As águas se tornam esbranquiçadas
nas imagens de satélites pela presença de um espécie de planta monofilética,
que se espalha com uma velocidade muito grande em águas poluídas. Martini
lembra que o declínio da qualidade da água da represa Billings ocorreu no
começo dos anos 2000, quando sua superfície ficou totalmente clara.
“É preciso repensar esse processo todo da água, mas
num regime de urgência, não temos mais tempo para postergações”, observou o
pesquisador, que há exatos 20 anos efetuou uma série imensa de cálculos para
estabelecer que o Rio Amazonas era o maior em extensão em todo mundo. E foi
além, que o derretimento das neves eternas na Cordilheira dos Andes poderia ser
um indicativo que o complexo do Amazonas estava em seu apogeu hídrico.
O pesquisador do Inpe pede não só atenção para a
questão do aquecimento global, já que cerca de 80% da população mundial se diz
“muito preocupada” com os efeitos da mudança climática. De acordo com pesquisas
recém divulgadas, embora esse alerta tenha chegado até as pessoas, menos da
metade delas apoia um imposto sobre o carbono para diminuir as emissões.
O levantamento realizado em 79 países de forma simultânea
teve seus resultados publicados no site da “World Wide Views on Climate and
Energy”.
Aquecimento das águas atlânticas
Martini também apresenta um situação que tem
afligido os meteorologistas e climatologistas. A formação, até o momento
inexplicável, de grandes piscinas de água quente na porção mais ao sul do
Oceano Atlântico. Essa alteração no gradiente térmico da Temperatura da
Superfície do Mar (TSM) tem impedido a chegada das frentes frias até o
continente, que são responsável por grande parte das chuvas em São Paulo.
“Eu tento pegar indicadores geológicos como esses
aquecimentos do Atlântico Sul, como depósitos aluvionares marinhos com mais de
12 mil anos e mais novos, entre 8 e 7 mil anos, quando o mar cobriu a enseada
de Santos e grande parte do litoral, até Marajó”, comentou sobre um possível
estudo sobre um possível ocorrência histórica.
Essa subida dos níveis dos mares se deu pelo
aquecimento global, queda no volume das calotas polares e consequência aumento
da água liquefeita, além da expansão física da água aquecida. Os estudos
iniciais nos aluviões nas áreas costeiras não apresentam ainda
correlação com a mudança no regime de chuvas e, consequentemente, o nível das
represas atuais, embora isso possa ser comprovado com pesquisas mais aprofundadas.
“Esses aquecimentos anormais do Atlântico precisam
ser estudados, pois a estiagem que ocorreu se deu também por esse fenômeno. As
massas de ar frio não conseguem chegar até a porção continental, onde acaba
encontrando um gradiente térmico mais quente e provoca as chuvas. Essas
piscinas de água quente estão bloqueando a entrada das frentes e com isso
ocorre a estiagem. Mas é cedo ainda para termos qualquer prognóstico sobre esse
fenômeno”, afirmou Martini.
* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, pós
graduado em jornalismo científico. tem 30 anos de profissão, atuou na AE,
Estadão, GZM, JB entre outros veiculos. Tem diversos cursos na área de meio
ambiente, tema ao qual de dedica.
Fonte: ENVOLVERDE
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