Cresce
violência contra indígenas.
Relatório
do CIMI aponta para um forte aumento das taxas de assassinato, suicídio,
mortalidade infantil e invasão de terras indígenas; falta de assistência do
Estado também chama atenção.
“As violências contra os povos indígenas em nosso
país são avassaladoras. A dor, as ameaças, as invasões, as torturas, as
agressões cotidianas expressam as condições a que os povos indígenas continuam
sendo submetidos”. Assim começa o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil,
do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), lançado na última sexta-feira (19)
na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). No evento,
estiveram presentes o secretário da CNBB, Dom Leonardo Steiner, a liderança
indígena Tito Vilhalva Guarani-Kaiowá, o presidente do CIMI, Dom Erwin
Kräutler, o diretor-executivo do CIMI, Cléber Buzatto, e a antropóloga Lúcia
Helena Rangel.
O documento apresenta dados recolhidos ao longo de
ano de 2014, que mostram uma triste realidade: a escalada da violência e das
violações praticadas contra os povos indígenas no Brasil. Os números abrangem
casos de assassinato, suicídio, mortes por desassistência, mortalidade na
infância, invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e
lentidão na regularização de terras indígenas. O aumento das violações foi
constatado em 17 das 19 categorias que compõem o documento.
“Intolerância, ganância e preconceito continuam
motivando agressões aos direitos indígenas”, disse Dom Erwin Kräutler,
presidente do CIMI e bispo da Prelazia do Xingu. “Vemos um ataque aos direitos
humanos como um todo. Se faz necessário resistir de forma abnegada junto aos
condenados desta terra”, defendeu o bispo, que também citou a importância da
encíclica do Papa Francisco sobre ecologia e os alertas feitos aos ataques
sofridos pelos povos indígenas.
O relatório inclui dados oficiais da Secretaria
Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculado ao Ministério do Saúde, que
apontam o assassinato de 138 indígenas e o suicídio de 135 apenas em 2014. O
Mato Grosso do Sul é o estado que figura como o mais violento do País em
relação ao assassinato de indígenas, com 41 ocorrências – ou 29% dos casos.
Da esquerda para a direita: Cleber Buzatto, Dom
Erwin Kräutler, Dom Leonardo Ulrich, Lúcia Helena Rangel e Tito Vilhalva. Foto:
© Alan Azevedo / Greenpeace.
Parte do aumento das violações é resultado da
política do governo de paralisação dos procedimentos de demarcação das terras
indígenas. Segundo o diretor-executivo do CIMI, Cleber Buzatto, “mesmo sabendo
que terras indígenas são bens da União, órgãos públicos ligados ao governo
federal abandonaram os povos à sua própria sorte e não atuaram eficazmente no
combate às invasões das terras”. Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), o
governo Dilma Rousseff tem um dos piores desempenhos na oficialização de terras indígenas,
quilombolas e unidades de conservação.
Antropóloga do CIMI e coordenadora do relatório,
Lúcia Helena Rangel alertou para outro triste dado. “A mortalidade infantil e
os suicídios exterminam a juventude indígena. Estamos diante de uma situação
absolutamente grave”, disse ela. Dados preliminares da Sesai apontam um total
de 785 mortes de crianças entre 0 e 5 anos. Em Altamira, no Pará, município
atingido pelas obras da hidrelétrica de Belo Monte, a taxa de mortalidade na
infância chegou a 141 a cada mil crianças, número dez vezes maior que a taxa
nacional.
“Os dados são o mais puro reflexo da conjuntura
antiindigenista conduzida pela bancada ruralista no Congresso Nacional. Eles
acabam por criar uma falsa dicotomia entre a demarcação das terras indígenas e
o desenvolvimento nacional”, explica Danicley de Aguiar, do Greenpeace Brasil.
Para ele, “o relatório é importante para chamar atenção da sociedade sobre o
perigoso recrudescimento da violência contra os povos tradicionais, gerada
principalmente a partir da intolerância presente na política desenvolvimentista
do País”.
O Relatório Violência Contra os Povos Indígenas
ainda traz vários artigos que contextualizam e aprofundam a análise sobre os
dados reunidos. O documento, além de usar dados oficiais, foi realizado a
partir da sistematização de dados coletados e compilados com base nas denúncias
e nos relatos dos povos, das lideranças e organizações indígenas, de
informações das equipes missionárias do CIMI que atuam nas áreas e de notícias
veiculadas pelos meios de comunicação de todo país.
Leia aqui o Relatório de Violências Contra os Povos
Indígenas – dados 2014.
Fonte: Greenpeace Brasil
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