Obama
dribla Senado com plano anti-CO2.
03/08/2015- EUA – O Presidente norte-americano,
Barack Obama, afirmou hoje, na apresentação do Plano Energia Limpa, que não há
maior ameaça para as futuras gerações que as alterações climáticas.
Foto: Foto:
Chuck Kennedy/ TWH – Fotos Públicas.
Por Claudio Angelo, do OC –
Presidente lança versão final de primeira regra
nacional para limitar emissões de gases-estufa por termelétricas; instrumento
deve impulsionar acordo do clima no final desde ano.
Cinco anos depois de o Senado dos Estados Unidos
ter rejeitado uma lei pioneira contra as mudanças climáticas, o presidente
americano, Barack Obama, encontrou sua vingança: anunciou nesta segunda-feira
um conjunto de medidas chamado por ele de “o passo mais importante que a
América já deu na luta contra a mudança climática global”.
Trata-se da versão final do Plano de Energia Limpa,
cujo rascunho havia sido apresentado em 2014. O objetivo da proposta é regular
a quantidade de gás carbônico (CO2) que o setor de eletricidade pode emitir,
essencialmente por meio do controle da poluição das usinas termelétricas
movidas a carvão mineral.
Essas usinas respondem por 32% das emissões de CO2
dos EUA, o segundo maior poluidor do planeta e o principal responsável pelo
aquecimento global observado. As novas regras visam reduzir também em 32% o
carbono emitido pelo setor de eletricidade até 2030 em relação aos níveis de
2005, e aumentar para 28% a fatia de renováveis na matriz energética do país –
em linha com o compromisso assumido por Obama juntamente com Dilma Rousseff, em
junho.
O deve causar impacto tanto na conferência de
Paris, em dezembro, na qual os EUA despontam como líder, quanto na corrida à
sucessão de Obama, no ano que vem.
Republicanos no Congresso já prometeram que
tentarão barrar a medida na Justiça. Entidades que representam o setor de
carvão se disseram “decepcionadas” com o plano. Por outro lado, um grupo de 365
empresas que inclui a Nestlé, a L’Óreal, a Timberland, a Adidas e o ebay
escreveu uma carta aos governadores
expressando apoio ao ato do presidente.
Dentro do sistema federativo americano, a norma da
Casa Branca, editada pela EPA (Agência de Proteção Ambiental), dá apenas as diretrizes
gerais para os cortes de emissão que serão feitos nos Estados. Cada unidade da
federação terá até 2018 para apresentar seu plano, a ser cumprido num prazo de
15 anos.
Serão fixadas metas transitórias de emissões,
expressos em quilos de carbono por megawatt-hora e em toneladas totais
reduzidas, a serem cumpridas entre 2022 e 2029, e uma meta final para 2030.
“Cada Estado tem quatro maneiras de atingir a meta: melhorando a eficiência das
usinas a carvão existentes, substituindo-as por gás, substituindo-as por outros
renováveis, como eólica e solar, ou consumindo menos energia”, diz André
Ferreira, do Instituto de Energia e Meio Ambiente.
Essa flexibilidade não garante necessariamente o
aumento das energias eólica e solar na matriz como o presidente prometeu, já
que gás e nuclear podem ser usados para cumprir a meta – tudo dependerá do que
fizer cada Estado.
Falando durante o lançamento da proposta na Casa
Branca, ao lado da chefe da EPA, Gina McCarthy, Obama voltou a ressaltar que a
mudança do clima é o maior desafio enfrentado pelos Estados Unidos e a maior
ameaça à Terra.
“Por definição, não lido com assuntos fáceis de
resolver. Alguns desses assuntos são trágicos, alguns cortam o coração, alguns
são duros, alguns são frustrantes. Mas esses assuntos são em sua maioria
limitados no tempo e nós podemos prever que as coisas vão melhorar se
perseverarmos. Este é um dos raros temas, pelo seu escopo e sua magnitude, que
não podem ser revertidos se não acertarmos a mão”, afirmou o presidente.
“Nós somos a primeira geração a sentir os impactos
das mudanças climáticas e a última que ainda pode fazer alguma coisa a respeito
delas.”
ONGs ambientais americanas evitaram comentar a
proposta, cujo impacto em emissões ainda precisa ser melhor analisado. Em seu
discurso, Obama buscou quantificá-los: “Um jeito mais nerd de falar é que 870
milhões de toneladas de poluição de carbono [CO2] deixarão de ir para a
atmosfera”, disse. Isso equivale, prosseguiu, a tirar 166 milhões de carros de
circulação.
Saída pela esquerda
Durante todo o seu discurso, Obama insistiu em
chamar os gases-estufa de poluentes que “degradam o ar que nossos filhos
respiram” e que o combate à mudança climática evitaria 90 mil casos de asma ao
ano a partir de 2030.
A ligação com saúde e qualidade do ar não é casual:
para driblar o Congresso, que se recusa historicamente a aprovar leis contra a
mudança climática, o Executivo americano está regulando o CO2 via Clean Air
Act, uma lei da década de 1970 contra outros poluentes atmosféricos, como o
enxofre. Após ter sido e criticado no primeiro mandato por recusar-se a agir
diante da inação do Parlamento, o presidente usou uma decisão da Suprema Corte,
ainda da época do governo Bush, que considerou o gás carbônico um poluente
atmosférico – portanto, passível de regulação pela EPA.
Ironicamente, o novo instrumento traz uma provisão
da antiga lei do clima que causou polêmica entre os congressistas e contribuiu
para a sua derrota, em 2010: a criação de um mercado de carbono, por meio do
qual setores ou Estados onde for mais barato reduzir emissões poderão vender
“créditos” de poluição aos outros. No jargão dos economistas, esse mecanismo é
conhecido como cap and trade, ou “limite e comercialização”. Sem
chamá-lo assim, Obama ressaltou as vantagens dessa “abordagem comprovada para
reduzir a poluição”.
Outra esperteza do plano foi notada por Michael
Levi, analista de clima e energia do think tank americano Council on
Foreign Relations: Obama resolveu premiar com metas mais frouxas para 2022-2029
as empresas e os Estados que fizerem mais para reduzir emissões até 2020; isso
ajudará os EUA a cumprir sua meta de 17% de redução de emissões até 2020,
prometida no Acordo de Copenhague e que no momento está ameaçada – apesar do
discurso presidencial de que os EUA foram o país do mundo que mais cortou
emissões nos últimos anos (Dilma Rousseff diz a mesma coisa do Brasil).
No discurso de lançamento do plano, o democrata
lançou um ataque preventivo contra “os interesses especiais e seus aliados no
Congresso” que criticarão o plano. “Eles estão dizendo que isso vai lhe custar
dinheiro, mesmo quando as análises mostram que o plano vai economizar US$ 85
por ano na conta de luz do americano médio”, disse o presidente.
Obama diz que essa estratégia de “criar pânico” não
vai funcionar. Levi lembra, porém, que uma medida mais efetiva do ponto de
vista do clima exigiria uma reformulação completa do sistema energético – e
isso é impossível por causa do contexto político do país.
Fonte: Observatório do Clima
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