A piscicultura colhe êxitos na África.
A piscicultura permitiu a muitos africanos combater
a pobreza e a fome. Foto: Jeffrey Moyo/IPS.
Por Jeffrey Moyo, da IPS –
Harare, Zimbábue, 6/8/2015 – O zimbabuense Hillary
Thompson, de 62 anos, joga os grãos de arroz que restaram de sua última
refeição, misturados com restos de cerveja que fez a partir de seu próprio
sorgo, em uma piscina que transformou em tanque para piscicultura. “Por mais de
uma década, o cultivo de peixes foi um hobby que me permitiu ganhar uma
fortuna”, contou à IPS este homem, que vive em Milton Park, uma área suburbana
e pouco povoada de Harare.
E é verdade: graças a essa atividade, pôde comprar
várias propriedades que agora aluga. Thompson é apenas um dos muitos que
encontraram uma espécie de mina de ouro na piscicultura. Os progressos africanos
nessa área ganham força em um momento em que a Organização das Nações Unidas
(ONU) pede urgências aos países para adotarem padrões de consumo e produção
sustentável, como parte de seus novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS), que substituirão os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que
expiram em dezembro deste ano.
Os ODS são um pacote de 17 objetivos que os 193
Estados membros da ONU deverão empregar como parâmetros de desenvolvimento para
guiar suas agendas e políticas nos próximos 15 anos.
Ao sofrer déficit nutricional, muitos africanos
recorrem à piscicultura para completar sua dieta, inclusive nas cidades.
Estima-se que no Zimbábue existam 22 mil pessoas que se dedicam a esta
atividade, segundo o Ministério da Agricultura. Por trás do êxito de muitos
desses produtores, está a Fundação de Aquicultura do Zimbábue, criada em 2008
para mobilizar recursos para o desenvolvimento da pesca ecológica no país, como
estratégia para paliar a pobreza crônica e melhorar os meios de sustento da
população.
A quantidade de piscicultores é ainda maior no
Malawi, onde cerca de 30 mil pessoas se dedicam a essa atividade e às derivadas
dela, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura (FAO). As reservas pesqueiras fornecem cerca de 70% da ingestão de
proteínas dos 14 milhões de habitantes que, se estima, o país tenha, a maioria
deles pobres demais para comprar carne.
Muitos malauítas como Levis Banda, de Blantyre, a
segunda cidade mais populosa do país, conseguiram sair da indigência graças à
aquicultura. Esse tipo de empreendimento é menos exigente do ponto de vista
econômico, todos podem realizá-lo, e o pescado é vendido mais rapidamente por
ser mais barato, explicou Banda à IPS.
Em muitas pequenas localidades e cidades da África,
produtores pesqueiros, conforme foram prosperando, converteram seus quintais
dos fundos em tanques para produção aquícola em pequena escala, acelerando
assim sua proverbial passagem da pobreza para a riqueza.
A FAO estima que, no mundo, o valor do comércio de
pescado chega a US$ 51 bilhões anuais, empregando diretamente mais de 36
milhões de pessoas e permitindo que 200 milhões obtenham renda direta e
indireta graças a esse produto. Esta agência da ONU também informou que, em
toda a África, a pesca proporciona renda direta para cerca de dez milhões de
pessoas, metade delas mulheres, e contribui para o fornecimento de alimentos a
outros 200 milhões de pessoas.
Em Uganda, por exemplo, o que é produzido nos
tanques aquícolas representa mais de US$ 200 milhões por ano, representando
2,2% do produto interno bruto do país, enquanto a atividade emprega cerca de
135 mil pescadores e outras 700 mil pessoas no processamento e comércio.
Essa crescente tendência aquícola se registra
justamente quando a Nova Aliança para o Desenvolvimento da África defende que
iniciativas como a aquicultura sejam repetidas para fortalecer as economias
nacionais, combater a pobreza e melhorar a segurança alimentar dos africanos.
No ano passado, na África do Sul, Alan Fleming,
diretor da The Business Place, uma organização dedicada ao desenvolvimento e à
assistência com sede na Cidade do Cabo, propôs usar contêineres portuários como
tanques aquícolas. As comunidades pobres do país receberam bem essa ideia.
“Agora, todos meus filhos vão à escola” graças a essa modalidade, disse à IPS o
produtor Mpho Ntabiseni, de Philippi, um distrito pobre da Cidade do Cabo.
Citando a crescente escassez de pescado colhido de
maneira tradicional, em 2014, o governo sul-africano investiu US$ 7,8 milhões
em projetos aquícolas. Também em 2014, cerca de 71 mil africanos participaram
dessa atividade, segundo o Departamento de Assuntos Ambientais do país. “A
aquicultura ajuda as comunidades africanas pobres a agregarem proteína de alto
valor à sua dieta”, ressaltou à IPS a nutricionista independente Agness Mwansa,
de Lusaka.
Segundo Julius Sadi, da Fundação de Aquicultura do
Zimbábue, “os consumidores preferem o pescado obtido nos tanques aquícolas,
porque é criado em água exposta e com muito pouca ou nenhuma contaminação”. Em
conseqüência, agências como o Departamento de Desenvolvimento Internacional da
Grã-Bretanha ajudaram na última década a impulsionar a indústria da piscicultura
na África.
Fonte: ENVOLVERDE
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